kung fu contra as bonecas, podiscrê
PANCADARIA MADE IN BRAZIL
Filme de gênero sempre foi coisa rara no Brasil, talvez por
uma mistura de desinteresse, poucos espaços e uma falta de visão mais
segmentada do mercado, além do fato óbvio que não temos uma indústria que
produza em quantidade para os mais diversos gêneros e mercados. Aí dependíamos
de iniciativas solitárias de malucos como José Mojica Marins e seu terror
tropicalista protagonizado por Zé do Caixão e Afonso Brazza, o Rambo do
Cerrado, e seus vídeos de ação. Mais recentemente, com a rápida disseminação
das câmeras digitais e a internet como importante meio de exibição, a produção barateou
e mais gente pode colocar a câmera e as ideias para rodar.
Não por coincidência quem mais se beneficiou desse novo
estado das coisas foram os filmes de terror e seus fãs, sempre organizados,
atuantes e colaborativos. Surgiram assim os perturbantes curtas de Dennison
Ramalho (Amor Só de Mãe e Ninjas), os zumbis e monstros capixabas de Rodrigo
Aragão (Mangue Negro e A Noite do Chupacabras) e os mortos-vivos
paulistanos de Raphael Borghi (do vindouro curta Desalmados – O Vírus). E nessas ficava
me perguntando sobre uma das minhas preferências cinematográficas... e os
filmes de ação? Onde estão os filmes de ação?
No decorrer dos anos 2000 alguns filmes brasileiros de
sucesso (Cidade de Deus e Tropa de Elite 1 e 2) mostraram que já temos expertise para
poderosas sequências de ação. Houve também uma interessante, mas comercialmente
fracassada, tentativa de inserir a capoeira no imaginário do gênero (Besouro).
Porém, só no início desse ano foi lançado 2 Coelhos, o mais ousado e bem
produzido longa brasileiro de ação até então. Mas não tem jeito, aprendizado é
isso, acúmulo de experiências e feitos. Fiquei então animadão quando li uma
reportagem no site da Vice (“Bater
e correr em Recife”) sobre a websérie Luta de Rua.
Muito bem coreografado pelos dublês e atores de ação da Pinóia Filmes, com boa filmagem e edição,
Luta de Rua tem chances de crescer nos próximos episódios (já existe o trailer do segundo) mostrando, na raça
mesmo, que já temos algumas cartas boas nas mãos. E não adianta criticar os
“atores”, o “texto” ou o “roteiro” porque o negócio aqui é fazer ação do melhor
jeito possível e à moda da casa ("É o que temos!", diria Paulo de Oliveira, do programa Larica Total). No mais, o responsável por toda essa pancadaria-coisa-nossa é o roteirista
e produtor Ulysses Paiva, um
carioca radicado em Recife, formado em Publicidade e com experiências efeitos
visuais e animações 2D e 3D.
“Percebo que, ou importamos muita coisa de fora na tentativa
de ‘copiar’ alguns elementos que deram certo, descaracterizando completamente a
produção como sendo brasileira, passando a parecer uma cópia mal feita de algum
filme estrangeiro de sucesso; ou simplesmente priorizamos demais algo
tipicamente brasileiro e acabamos esquecendo que nem tudo da nossa cultura é
interessante o suficiente ou entretenimento suficiente para que o público possa
apreciar plenamente. Eu acho que temos, sim, como fazer algo dentro da nossa
realidade e do nosso cotidiano sem perder o foco na qualidade e entretenimento
de todos que assistam a produções brasileiras, inclusive no gênero de ação”,
disse em entrevista ao Yahoo! Brasil.
Falta dinheiro, claro, e Paiva esclarece que “no gênero de
ação você precisa, inevitavelmente, de grandes auxílios visuais como cenas de
luta ou perseguição em ambientes controlados, grande aparato de segurança, uma
boa equipe de efeitos especiais e visuais, entre outros. E isso demanda pessoas
especializadas e muito talentosas para se chegar a um bom resultado, além dos
custos serem maiores por conta disso. O Brasil nunca teve grandes escolas ou
centros de ensino para efeitos visuais. Isso também tem mudado nos últimos
anos”.
Um dia a gente aprende e enquanto isso não acontece, ou
acontece parcialmente, a gente vai tentando, arriscando, experimentando, dando
com a cara no muro. Indo à
luta.
e aqui seguem outros trechos da conversa que tive por email com ulysses paiva e que não entraram nessa edição da coluna.
"O Brasil não tem uma história de décadas produzindo grandes filmes com orçamentos altíssimos e desenvolvimento de novas tecnologias e técnicas nessa área. Um dos principais motivos, acredito, seja a falta de patrocínio e incentivo para as produções como ocorre em outros países. Mas isso tem mudado nos últimos anos com a melhora do cenário econômico brasileiro. O Brasil tem produzido muitos filmes recentemente e o brasileiro tem, cada vez mais, prestigiado as produções nacionais."
"Se, por exemplo, você vai fazer um filme de drama, você geralmente não precisa de grandes artifícios visuais. Você precisa de uma boa história, um bom roteiro com bons diálogos e excelentes interpretações. Já no gênero de ação, você precisa, inevitavelmente, de grandes auxílios visuais como cenas de luta ou perseguição em ambientes controlados, grande aparato de segurança, uma boa equipe de efeitos especiais e visuais, entre outros. E isso demanda pessoas especializadas e muito talentosas para se chegar a um bom resultado, além dos custos serem maiores por conta disso. O Brasil nunca teve grandes escolas ou centros de ensino para efeitos visuais. Isso também tem mudado nos últimos anos, mas o conhecimento nesse aspecto ainda é pouco difundido por aqui e são poucos profissionais realmente talentosos e capacitados para fazer esses trabalhos. Isso é refletido no mercado e nas produções. Filmes como 2 Coelhos, Tropa de Elite e Besouro são importantíssimos para abrir caminho e formar uma base para produções cada vez melhores nessa área."
"Trabalho com publicidade e sempre gostei muito de cinema. Comecei na minha área com design gráfico, depois passei muitos anos estudando animação 2D e efeitos visuais. Em seguida estudei animação 3D e daí passei para filmagens. Luta de Rua nasceu do gosto e da vontade de produzir cinema de ação. Nós produzimos um primeiro vídeo, há pouco mais de um ano, para vermos o que poderíamos fazer nesse sentido. Era um vídeo de teste e ainda não existia a ideia de se fazer um seriado. Alguns meses depois é que pensamos em fazer um seriado de luta independente e usar a internet como fonte de divulgação. Na etapa de pré-produção do primeiro episódio, nós não tínhamos a menor idéia se o projeto iria ou não dar certo, por isso o primeiro episódio se resume a, basicamente, uma cena de luta. Já o segundo episódio está bem mais elaborado com diálogos, cenas de luta e perseguição com parkour. Mas a idéia inicial era que, dando certo, nós faríamos o possível para que a gente pudesse continuar a fazer o que gostamos, ou seja, conseguir patrocínio para o projeto seguir em frente. A repercussão do primeiro episódio foi bem maior do que a gente esperava e o potencial publicitário do seriado tem se tornado melhor a cada dia. Atualmente, estamos em negociação com alguns prováveis patrocinadores já para o segundo episódio, que ainda não tem data definida para a estréia devido ao grande número de problemas de temos enfrentado para fazer as gravações. Tivemos até que substituir parte do elenco por conta disso, mas a expectativa é de estréia nas próximas semanas. Nós colocamos informações, fotos, vídeos e novidades na página do seriado no facebook e é lá que vamos divulgar, com antecedência, a estréia do novo episódio. E esperamos que o público do Luta de Rua possa cada vez mais se interessar, se envolver, gostar do projeto e ajudar a compartilhar e divulgar para que o projeto siga em frente."
atualização em 30 de março: e saiu o episódio 2 de luta de rua. chama-se "salitre". saca só.
atualização em 30 de março: e saiu o episódio 2 de luta de rua. chama-se "salitre". saca só.
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