QUEM TEM MEDO DE CARLINHOS BROWN?
No decorrer desse meu
primeiro ano como colunista do Yahoo! Brasil acabei falando, sempre pelos grandes
sertões e veredas da cultura popular, de muitos esportes nacionais – o mais
recente foi o “segregar sem se dar conta”. Domingo passado, durante a festa de premiação do
Oscar, outro esporte muito praticado deu suas caras: a raivosa torcida contra.
E Carlinhos Brown foi o alvo da vez. Mais uma vez.
Brown e Sérgio Mendes
concorriam pela estatueta dourada com a música “Real in Rio” (do longa de
animação Rio) e só tinham um outro competidor, o neozelandês Bret McKenzie (da
cultuada série Flight of the Conchords), com a música-tema do longa The
Muppets. Como é uma festa americana, apesar dos agrados recentes a outras
culturas de olho no mercado internacional, quem ganhou foi “Mar or Muppet”,
afinal é preciso reativar a franquia dos fantoches para novas gerações. Normal.
O jogo é esse.
Lembro que durante a noite
fiquei na torcida pela música. Mas não por sua qualidade (achei chatinha, tipo
show de mulatas para gringos) e muito menos por ser Brasil no Oscar (afinal,
não era um filme nosso concorrendo e nossas qualidades e defeitos como
cinematografia não mudarão com um prêmio internacional), e sim para ver a cara
de tacho de quem torcia contra. “Eles” levaram a melhor.
Mas qual o problema com
Carlinhos Brown? É por ele ser negro? Baiano? Genro do Chico Buarque? É por ele
falar daquele jeito barroco-nagô? Por vestir umas roupas esquisitas, com
turbante ou cocar na cabeça? Ele ficaria marrento se ganhasse? Ou por conseguir
fazer sucesso tanto entre o pessoal do axé (Timbalada, Asa de Águia e Banda Eva)
quanto entre quem gosta de uma “música de qualidade” (Caetano Veloso, Marisa
Monte, Arnaldo Antunes e Bebel Gilberto)? Ou ainda por fazer sucesso na Europa,
principalmente na Espanha, onde é conhecido como Carlito Marron?
Não tenho uma resposta para
isso. Talvez o próprio Brown tenha alguma pista. Ou o Seu Jorge, que padece da
mesma torcida contra. Ou então os metaleiros que jogaram centenas de
garrafinhas e copos na cabeça de Brown no Rock in Rio 2001. De qualquer forma,
os odiadores continuarão odiando, não tem muito o que fazer ou dizer.
Sei que gosto de Brown e de
sua música. Agora de cabeça me recordo de “Pedindo pra voltar”, “Aganju”,
“Hawaii e You”, “Meia Lua inteira”, “A namorada”, “Água mineral”, a tribalista
“Carnavália” e “Ratamahatta”, essa parceria muito louca com o Sepultura lançada
em 1996 no disco Roots. Melhor ser lembrando por trabalhos assim do que pelo
prêmio a uma música tão sem graça como “Real in Rio”. Por essas e outras fico
com a frase dita pela mãe de Brown a respeito da premiação: “Ele passou pelo
tapete vermelho. Quero mais o quê? O boneco é o de menos”.
Um comentário:
,"Argila","Tantinho","Shalom","Seu Zé",são algumas gravações de Carlinhos brown que eu gosto muito.
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