sexta-feira, 2 de março de 2012

yahoo #30

fim de uma semana maluca com entrega de dois frilas que demandaram muitas fontes e pesquisas (não necessariamente nessa ordem). isto dito, a coluna que era pra subir na quarta foi terminada ontem no fim da tarde e subiu no yahoo hoje por volta das 13h (olha lá, "quem tem medo de carlinhos brown?" trata da torcida contra o baiano no oscar). é a bahia que não me sai do pensamento, ai ai ai. afinal, a anterior, "o espírito tosco do abadá" versa sobre uma declaração infeliz e reveladora de daniela mercury sobre o carnaval baiano.


that’s a half fuck

O ESPÍRITO TOSCO DO ABADÁ

Pois é, mais um carnaval acabou e entre rasgações de notas em São Paulo, milhares de blocos de ruas em cidades como Recife e Olinda, e mais uma vitória da Broadway momesca de Paulo Barros (Unidos da Tijuca) no Rio de Janeiro, o que sempre me chama mais atenção é o apartheid social cada vez mais profundo em Salvador.

Há poucas semanas, nos intervalos de gravação do programa Aprovado (TV Bahia, filiada da Globo), a cantora Daniela Mercury soltou a seguinte pérola testemunhada por muitos e registrada em reportagem do Terra Magazine: “Na verdade, só existe carnaval por causa da iniciativa privada”. O mais revelador é que após o ocorrido sua assessoria de imprensa soltou uma nota negando outra frase (“Caetano e Gil são do passado”), afinal pegaria mal para a cordialidade baiana, e silêncio absoluto sobre a relação carnaval X iniciativa privada.

Óbvio que o carnaval virou negócio milionário em cidades turísticas como Salvador e Rio de Janeiro. Impossível lutar contra e, a princípio, não tem nada de errado nisso. Só não dá para engolir uma frase tão canalha como essa. O carnaval nasceu, existe e se renova por iniciativa popular (o renascimento do carnaval de rua no Rio de Janeiro nos anos 2000 é um exemplo da força dessa iniciativa). No caso de Salvador, e de todas as outras cidades que importaram o conceito de micaretas e trios elétricos, a iniciativa privada veio para dar lucro a poucos e segregar a diversão.

É o tal espírito do abadá que separa os que podem pagar dos que não podem, os brancos dos negros, o pessoal premium da patuléia, os turistas dos locais, os playboys da pipoca, e assim por diante. O negócio foi ficando tão feio, tão na cara, que recentemente surgiram blocos sem cordões em Salvador. Mas no fundo pouca gente se importa. Daniela Mercury não se importa. Artistas globais que ganham um troco para dar as caras nos camarotes também não se importam. É normal. É assim mesmo. Segregar sem “se dar conta”, isto é, achando que é apenas uma busca por mais conforto para si próprio é um dos mais recorrentes esportes nacionais.

Por sorte ainda temos os bailes carnavalescos malucos & trash (que foram assunto de minha primeira coluna aqui, “Tô me guardando pra quando o carnaval chegar”) e, acima de tudo, a rua, que sempre falará mais alto e com mais potência, humor e graça que a tal iniciativa privada. A rua somos nós feito confete e serpentina.

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