como todo tributo que se preze, e volto pra curtir é irregular e cada ouvinte terá suas preferidas. gostei de “farinha do desprezo” do letuce, “let's play that” do metá metá, “mal secreto” do apanhador só (música que deu nome ao esforçado e, portanto, tem um importante valor sentimental aqui por essas bandas), “revendo amigos” de márcia castro e das versões mínimas de “78 rotações” de arícia mess e “movimento dos barcos” de bruno cosentino & marcos campelo. não gostei de “vapor barato” das garotas suecas, “hotel das estrelas” de léo cavalcanti e “meu amor me agarra & geme & treme & chora & mata” do filipe catto & pipo pegoraro. no disco original de jards existem dois covers numa faixa só, “farrapo humano” (luiz melodia) e “a morte” (gilberto gil), que no tributo viraram faixas independentes interpretadas por rafael castro (com tulipa ruiz nos vocais) e ava rocha, respectivamente. gostei de ambas, mas ainda tenho problemas com ava, algo cerebral demais me incomoda no seu canto. mas baixe o tributo e tire suas próprias conclusões. jards nunca é demais.
segunda-feira, 24 de junho de 2013
redesenhando macalé
o blog banda desenhada faz aniversário de dois anos de vida e quem ganha presente é você! ou eu. ou nós. ou todos. disponível para download gratuito, e volto pra curtir é um tributo a jards macalé tendo seu disco de estreia, lançado originalmente em 1972, como bússola conceitual. estão lá suas dez faixas mais o hit “vapor barato” que gal costa gravou em 1971 e jards somente em 1998 (no disco o q faço é música), interpretados por jovens artistas de várias partes do país sob curadoria de márcio bulk (o idealizador da banda desenhada). olha a capa do disco de jards, um dos melhores da música brasileira.
Marcadores:
anos 1970,
anos 2010,
apanhador só,
banda desenhada,
download,
internet,
jards macalé,
léo cavalcanti,
letuce,
márcia castro,
metá metá,
rafael castro,
tributo
quinta-feira, 6 de junho de 2013
marcelo D2, o imparável
mais um perfil grande e bacana pra revista da gol, e dessa vez com marcelo D2, sujeito rapper que eu ainda não tinha entrevistado. conversamos por cerca de uma hora na loja temporária que abriu na galeria ouro fino, nos jardins, após as fotos tiradas por alex batista que ilustram o perfil. como todo bom carioca, D2 fala com desenvoltura, franqueza e humor, e fala de tudo. o resultado foge do papo manjado para lançar trabalho novo (no caso, o bom nada pode me parar) e tem uma parte que me interessou pessoalmente que é a sua visão sobre o passado, o presente e o futuro do rap brasileiro (e da sua contribuição nele). e aqui no esforçado, como sempre, uma versão um pouco maior da que foi impressa e com fotos que tirei durante o encontro.
LIBERDADE É PRA QUEM TEM
Comemorando 20 anos de carreira, e 15 do primeiro trabalho
solo, Marcelo D2 lança Nada Pode Me Parar
e em entrevista exclusiva fala sobre família, a volta do Planet Hemp e a boa
fase do rap brasileiro
Rua Augusta, São Paulo, 4h20 da tarde. Marcelo D2 arruma o
boné para cobrir o cabelo que está crescendo absolutamente fora de controle e
já com vários fios brancos. Não aparenta 45 anos, principalmente vestido assim
de bermuda e tênis, mas basta o fotógrafo pedir que se agache diante de um
mural desenhado pelo amigo Flip para seus ossos reclamarem. Nessa hora o título
do novo disco do rapper, Nada Pode Me
Parar, faz um sentido todo especial e ele ri da situação.
De tempos em tempos a sessão de fotos é interrompida por fãs
querendo levar uma lembrança, dar um abraço, fazer alguma piada, e D2 atende a
todas e todos. Os tipos que o abordam são os mais diversos: de uma grávida a um
jovem engravatado, passando por seguranças dentro de um carro-forte e um bêbado
carregando um velocípede. Alguns o conhecem desde os tempos do Planet Hemp, mas
uma boa parte já o acompanha na sua procura pela batida perfeita na mistura de
rap com samba.
“Já vi que vai ter um monte de gente falando que o Nada Pode Me Parar é a minha volta ao
rap, muito por causa do disco cantando Bezerra da Silva [lançado em 2010], mas eu nunca saí do rap! É engraçado isso porque
pro rap eu sou do samba e pro samba eu sou do rap [risos]. A verdade é que o disco do Bezerra me deu confiança pra
cantar e acabei me aprofundando bastante no samba, quero ir mais fundo até, mas
sou do rap e queria que esse fosse um disco de rap”, diz sobre seu sexto
trabalho com inéditas exatos 15 anos após sua estreia solo em Eu Tiro é Onda.
D2 está em São Paulo para lançar uma loja temporária com
roupas de sua marca Manifesto 33 1/3 (até então vendida apenas em
estabelecimentos multimarcas), shapes de skate, isqueiros, copos americanos,
fones de ouvido, bonés e outros produtos relacionados ao seu novo disco (sua
ideia é levar a loja junto com a turnê no segundo semestre). A abertura
acontecerá em dois dias e já está quase tudo pronto, com direito a neon na
parede (“Cara, acho que só montei essa loja por causa do neon! Sempre quis ter
um neon!”, confessa e gargalha). Após a segunda e última rodada de fotos para
ilustrar esta reportagem ele pode então se esparramar no sofá, abrir uma cerveja
e falar tranquilamente.
“O título do disco veio de uma lembrança de quando morava
numa kitchenette no Catete com o Skunk [um
dos fundadores do Planet Hemp, morto precocemente em 1994]. Tinha uma frase
pixada no quarto... ‘Eu já caí no chão só que me levantei / Eu faço meu sistema,
/ Eu dito a minha lei! / Nada pode me parar’, que é um dos versos de um rap do
Thaíde & DJ Hum. Era um hino pra gente. Algumas pessoas ficaram incomodadas
com o título, mas eu adoro porque acho que tem aquela arrogância boa do rap”, e
de vez em quando D2 olha para a TV da loja, no qual são exibidos os clipes que a
cineasta Gandja Monteiro fez para todas as 15 faixas do disco.
No telão aparecem cenas de D2 em Nova York, Amsterdam, Los
Angeles, Rio de Janeiro, Recife e Luanda, um pouco da grande jornada global que
foi a gravação de Nada Pode Me Parar.
“Foi com certeza o disco mais longo da minha carreira. Comecei no carnaval de
2011 em Florianópolis e o processo todo levou um ano e pouquinho. Ser um disco
assim road movie aconteceu
naturalmente porque fui gravando em lugares onde estava indo ou que achava
interessante fazer algo”.
Entre escolhas e oportunidades internacionais, o carioca
gravou “Na Veia” com banda completa no lendário estúdio Electric Lady criado
por Jimi Hendrix em Nova York, convidou os espanhóis do Cooking Soul (que já
trabalharam com Jay-Z e Kanye West) para produzir “MD2”, conheceu o cantor Aloe
Blacc que acabou participando de “Danger Zone”, e registrou “Vou Por Aí” com o
amigo Mário Caldato Jr. (Beastie Boys) em Los Angeles por causa do livro On The Road de Jack Kerouac. Ainda
contou com as presenças do trio californiano Pac Div e da cantora nova-iorquina
Joya Bravo.
No Brasil, com exceção do amigo de longa data DJ Nuts, o
rapper acabou se cercando mais uma vez de uma nova geração: Nave, Renan Saman e
os conterrâneos Papatinho e Batoré (ConeCrew), Akira Presidente e Hélio Bentes
(Ponto de Equilíbrio). E, claro, o filho mais velho Stephan, cada vez mais
atuante. “Me sinto renovado trabalhando com eles, parece que sou eu dez anos
atrás. Eles tem o gás que acho necessário e importante pro disco e pra mim”.
O exemplo de Nave é revelador desse bom trânsito que D2 tem
entre gerações. O curitibano tinha 22 anos em 2005 e estava começando a
produzir bases quando recebeu a ligação do já popstar rapper carioca. “Não
acreditei na hora, achei que era trote, mas era ele mesmo e foi louco porque
ele e o Planet Hemp foram a minha maior influência em termos de rap brasileiro”,
relembra Nave. Hoje, três discos e 11 parcerias depois [quatro neste Nada Pode Me Parar], diz que D2
“alcançou um nível de amadurecimento artístico, um equilíbrio entre
simplicidade e sofisticação, que qualquer um reconhece e sabe o que ele está
fazendo, desde a minha tia até um criança de 7 anos”.
Voltando ao Nada Pode
Me Parar, se o processo de gravação foi repleto de milhagens, novos e velhos
amigos, a pós-produção reservou algumas surpresas. “Pra lançar o disco acabou
demorando mais um ano porque tive problemas com samples [trechos de músicas]. Acabei tirando muita coisa porque não
consegui autorização. Esse foi o lado ruim. O bom da demora foram os shows do
Planet Hemp”, e lembra que a banda, celebrando duas décadas de seu surgimento,
ainda fará dois ou três shows esse ano. De certo mesmo um no Central Park, em
Nova York, e outro no Festival Lollapalooza, em Chicago.
“Posso te listar umas dez coisas legais dessa volta, mas o
mais legal mesmo foi a gente voltar a se falar. Colocou as coisas em seus
devidos lugares. Sei agora o que é do Planet Hemp e o que é do meu trabalho
solo. As coisas ficaram mais claras pra mim. E foi revigorante tocar Planet
depois de dez anos parado, foi f***, foi demais!”, e mata, em um gole só, o
resto da cerveja e pede licença. “Cara, preciso ir ali no banheiro se não vou
começar a responder rapidão tipo ‘sim’, ‘não’, ‘pode ser’, ‘com certeza’ [risos]”.
Volta então aliviado e propõe mais uma rodada de saideira.
“Aproveito mais hoje em dia que antigamente. Tenho mais de 40 anos, quatro
filhos – Stephan (21), Lourdes (13), Luca (11) e Maria Joana (8) – , estou
casado há 13 anos, não dá mais pra ser aquela coisa doidona do tempo do Planet
Hemp. A família me ajudou nisso também. Sempre fui um pai carinhoso, mas não
era presente. Nunca fiz com o Stephan o que faço com os mais novos de acordar
zumbi às 6 da manhã pra levar na escola. Nos últimos anos, finalmente, me
tornei um pai de verdade”.
Para melhorar ainda mais o humor de D2, o ótimo momento
pessoal vive em harmonia com a cidade que tanto ama e que é cantada em rimas e
beats em “Rio”, uma das faixas de Nada
Pode Me Parar. “Sem hipocrisia nenhuma... hoje tenho dinheiro, moro bem,
então a cidade está boa pra mim [risos],
mas percebi que o carioca voltou a gostar muito da cidade. Não gosto de elogiar
ninguém, sou contra tudo e contra todos, mas acho que a política de segurança tem
sido feita de uma forma interessante... porra, o Rio voltou a ter carnaval de
rua, que é demais, um monte de gente bonita na rua e não precisa comprar abadá
pra participar... tenho gostado da cidade, mas é também outro momento meu nela”.
Positivo e operante na cultura hip hop há 20 anos, D2 tem ainda
acompanhado com curiosidade e interesse a renovação do rap nacional, além de
ter ideias bem claras de alguém quem está por dentro dessa história toda. “Acho
que o rap demorou pra se renovar no Brasil. Teve uma década ou até mais que
todo mundo só queria ser Racionais, sem ser culpa deles, lógico. Racionais é
Racionais, é bom pra c******, mas eles são eles. Nessa época estava fazendo
outra coisa, mas aquilo me incomodava pra caramba, parecia uma igreja”.
O que D2 está falando, entre um gole e outro, é da liberdade
que o hip hop, e consequentemente o rap, contém em sua essência e que não pode
e nem deve ser parada por nada neste mundo. “O rap é uma música urbana que se
apropria das outras, não pode ser puro, não pode ter uma cara só, e esses
moleques novos tem essa liberdade de fazer a sua parada, cada um no seu papel.
Tem a loucura da ConeCrew, a sabedoria do Emicida, a vontade de experimentar do
Criolo, e por aí vai”. Mas, modéstia às favas, sabe que contribuiu e muito para
esse estado das coisas.
“Hoje em dia essa mistura de rap com samba tá mais atual que
na época que comecei a fazer, quinze anos atrás. Sinceramente não vejo como o
rap brasileiro possa ser uma música respeitada sem usar elementos brasileiros. Isso
é uma coisa. Só que acho que o rap ainda é turminha... gostaria muito ver minha
tia ouvindo rap, por exemplo... quer dizer, ainda tem um caminho longo para o
rap ser popular como um Zeca Pagodinho, mas hoje vejo o caminho mais aberto”, e
mata a terceira cerveja, hora de ir embora. Em entrevista por telefone,
Pagodinho retribui a gentileza: “Temos a mesma levada de partideiro, essa coisa
da rima e do improviso. Ele tem carisma, é inteligente, e fala a nossa língua,
fala da nossa realidade e denuncia através das músicas dele coisas que muita
gente não sabe”.
O dia seguinte reserva ao rapper-partideiro alguns móveis
para arrastar, quadros para pregar e, talvez, uma festa. Sorri com a lembrança
dessa agenda. “Quando ficar maduro a gente volta a falar sobre essa parada da
maturidade”.
BOX - D2, um bom driblador
Apaixonado por futebol e flamenguista doente, Marcelo D2 já
fez até rap homenageando o ex-jogador Ronaldo Fenômeno (“Sou Ronaldo”), atual membro
do comitê organizador da Copa do Mundo FIFA de 2014. Sobre o evento e a Copa
das Confederações, que começa agora em junho, tem uma posição bastante clara e
realista. “O que você prefere? 100 % de nada ou 50 % de alguma coisa? A Copa é
meio isso. Acho que vai ser uma coisa importante pra caramba pro brasileiro e o
brasileiro gosta de se sentir importante. A gente tá num momento f***, todo
mundo viajando, o dinheiro tá forte, a autoestima tá boa, e acho que a Copa
veio num momento perfeito com o Brasil tentado se arrumar. E cada um que se
vire com isso. Quer fingir que não tá sendo enganado e continuar ficar
assistindo sua TV de plasma? Fica aí. Quer fazer disso uma oportunidade e
crescer realmente? Taí também. Acho que a gente vive um bom momento. Tem coisa
pra consertar? Pra c******! Por isso que digo que o Brasil é um país ótimo pra
fazer rap. Quer mais assunto pra rapper do que aqui?”, afirma.
Marcadores:
anos 2010,
entrevista,
fotos dafne,
frila,
gandja monteiro,
instagram,
jornalismo,
marcelo d2,
música,
rap,
revista da gol,
rio de janeiro,
youtube
Assinar:
Postagens (Atom)