ainda antes de tomar posse no início de janeiro, o “gestor” deixou claro que desejava esvaziar e vender são paulo, mais ou menos nessa ordem. e então veio a ideia cretina, uma de suas muitas, de tirar a virada cultural do centro da cidade para “descentralizá-la” em interlagos (!!!). houve uma grande gritaria de movimentos sociais, artistas e setores culturais, e o secretário andré estrume falou que não era bem assim, só os shows grandes e tal, mas que haveriam sim menos atrações no centro – destruindo assim o conceito original do evento criado em 2005 na administração do igualmente tucano, josé serra. enfim, a virada estava morta. só faltava o velório.
sim, doria mente [e muito]
não dá nem pra dizer “bem feito” em um caso assim porque acompanhar o assassinato de um evento tão bacana, tão são paulo – mesmo com seus erros e problemas, maiores ou menores dependendo da gestão –, é de machucar o coração. triste ver daniela mercury cantando pra meras 2 mil pessoas no anhembi [ela que no aniversário da cidade em 2016, o último ano da gestão haddad, levou uma gigantesca multidão da faria lima até a praça roosevelt]; triste ver os cancelamentos de shows de fafá de belém [anhembi, falta de público] e mano brown [grajaú, problemas na estrutura do palco]; triste ver o parque do carmo vazio; triste não terem montando o palco da festa talco bells no centro; triste ver a viradinha sem público espremida entre cercas em interlagos e disputando atenção com o ronco de motores de uma corrida de stock car; triste ver um palco repleto de veteranos da música brasileira como paulo diniz, luis vagner, carlos dafé e tony tornado sem rampa de acessibilidade; triste ver palcos muito distantes um do outro no outrora agitadíssimo centro da virada; triste triste triste.
o público de daniela mercury no anhembi
não foi à toa que o “gestor” não postou nada sobre o evento em suas caudalosas redes sociais – a são paulo que ele administra, principalmente no facebook, está bem distante da são paulo real – e não foi à toa mesmo que ele e alckmin resolveram aproveitar o domingo da virada para invadir a cracolândia com mais de 500 policiais [mais gente que em muitos palcos] e acabar com o programa braços abertos [criado na gestão haddad para ressocialização de dependentes]. em outros anos, a praça júlio prestes vivia um domingo de virada com festa e inclusão. com doria e alckmin veio a violência, o vazio e a limpeza para os amigos da especulação imobiliária.
doria está fazendo com a virada, entre outras coisas na cidade, o que é um costume histórico de seus pares do psdb: esculhamba um serviço público, diz que não dá pra manter e o privatiza. só que o espertão que “consegue” doações de amigos empresários “sem contrapartida” parece não saber que o empresariado brasileiro é um dos mais encostados, corruptos e desinteressados do mundo. jamais bancariam por si só um evento como a virada. só colocam um dinheirinho porque o resto é bancado pela administração pública. então nem vai rolar de privatizar a virada. esvaziá-la é matá-la, caro “gestor”. 20 e 21 de maio 2017 ficarão marcados como os dias dos últimos suspiros de um dos eventos culturais mais interessantes da cidade e do brasil.
a viradinha em interlagos
fui em quase todas as edições da virada, trabalhando ou como espectador, e presenciei alguns momentos inesquecíveis dessa união de cultura, cidade e gente. conheci também várias pessoas que trabalham duramente na secretaria de cultura para fazer esse e outros eventos públicos acontecerem. triste pensar em tudo isso, nessas pessoas vivendo essa destruição de dentro e tendo que aguentar as arrogâncias e os desinteresses da dupla andré estrume e joão dollar. triste triste triste.
morreu são paulo de braços abertos [todas as fotos vieram do uol/folha]
p.s.: bem feito mesmo foi pro bradesco que pagou 2 milhões de golpes pra aparecer num evento todo destruído.