quinta-feira, 14 de abril de 2011

yahoo #03

os cães ladram e a caravana reggae, podiscrê. enquanto o pessoal me xinga lá no yahoo pela mais recente coluna, "vamos gozar outra vez?" (sobre cinema brasileiro atual e a pornochanchada), coloco aqui a anterior, a que escrevi em defesa do funk carioca. tomei muita pedrada, muita mesmo, porque tem um pessoal com um ódio gigantesco em relação ao funk carioca. apenas defendê-lo é o que basta para ser taxado de desgraçado pra baixo. enfim, loucura total.


NÃO TEM PAPO, NÃO TEM ALÔ

Tinha umas coisas na mente, um plano Ultra Pop. Comecei pela TV (carnavalesca), pulei para o mercado fonográfico (neo sertanejo), e daí iria rumo ao cinema, a rádio e a internet. Refletindo sempre sobre manifestações culturais populares nos mais diversos veículos de comunicação e em tempos diferentes. Só que a música é um assunto que acaba atravessando tudo, não consigo escapar, e as centenas de comentários gerados pela coluna anterior – a do Luan Santana – me chamaram atenção para um gênero que parece personificar para muitos o mais baixo que a humanidade pode chegar. Estou falando do funk carioca, amiguinhas e amiguinhos.

Como aceitar que versos como “Dako é bom / Dako é bom / Calma, minha gente , é só a marca do fogão” possam ser música? E que isso possa ser bom? Pois é, acontece que é isso mesmo. E nem vou falar da importância de Tati Quebra-Barraco ser uma pioneira voz feminina, orgulhosa e ativa em um cenário masculino e machista. O lance aqui é mais fundo, pois Tati é apenas uma das muitas pontas desse jovem gênero musical (cerca de 25 anos, por aí) que ainda segue se batendo com preconceitos internos enquanto é considerado, no exterior e também por aqui, a legítima música eletrônica popular brasileira.



Aí o pessoal começa a espumar de ódio. “Como assim?! Esses funks cariocas só falam de putaria e incitam violência!!! Que cultura é essa?” Antes de entrar no mérito da questão, um aviso: o pessoal costuma confundir as bolas achando que o seu (bom?) gosto é o mais importante, o verdadeiro, o fino. Mas gostar de Cartola ou Adriana Calcanhotto não vai te fazer uma pessoa melhor daqueles que gostam de Mr. Catra ou Bonde da Madrugada (não faltam exemplos de ditadores sanguinários muito chegados a música clássica, e aí?). O que importa mesmo é que, para além dos gostos pessoais, o funk carioca é uma intensa e dinâmica fábrica de alegria, sexo, humor, prazer, dinheiro, críticas sociais, amor e brasilidade a muitos beats por minuto.

“De algum jeito o nosso povo faz das festas uma arte. Com pouco ensino tradicional mesmo pra quem teve escola, é nas festas que a gente inventa um jeito de estudar a vida, uns com os outros”, disse certa vez o carioca Sany Pitbull, um dos DJs mais disputados da recente cena de funk carioca e que transita entre boates de classe média alta de São Paulo e clubes europeus. Essa singela declaração de Sany diz muito sobre a riqueza sem preconceitos de um gênero que pretende então, sem muita elaboração e no calor dos momentos, estudar a vida através da arte da festa. Afinal, é de encontro em encontro que a gente vive e cresce. A única diferença é que no funk os encontros são muito mais suados.



p.s.: o título dessa coluna faz parte do refrão de uma das montagens mais clássicas do funk carioca do final dos anos 1990 e que diz mais ou menos assim “Se trepidar / Se enfraquecer os irmão / E se conspirar / E armar vacilação / E se caguetar / Não tem papo, não tem papo, não tem alô”.

Um comentário:

Vinicius Alves disse...

A classe médio brasileira é reacionária. Ai você vai me dizer:
- Pô, mas não pode generalizar.
Tá certo, não pode mesmo, mas a maioria é reacionária sim.
Os mesmo que acham o Bolsonaro um monstro e assistem ao CQC comemorando quando um político corrupto é desmascarado durante o programa, são os que frequentam faculdades caras, compram ingressos de cambistas, usam drogas socialmente(legais e ilegais), fazem todo tipo de merda no trânsito, tentam dar aquele "jeitinho" quando o guarda os param, e também escrevem os comentários bárbaros como os que escreveram sobre sua postagem, dizendo que o funk é coisa de pobretões, que odeiam funk e quem ouve funk, que gostariam de matar os funkeiros... ou como aquela estudante de direito, logo depois da eleição, que sugeriu praticamente o extermínio dos nordestinos em SP. Essas pessoas se fossem convidadas pra uma festa fechada na Daslu, com o Latino de atração, iriam felizes da vida, ainda achariam tudo de maior bom gosto e diriam..."ahh o funk do Latino é hype, tem um que de cool"
Tudo bem, cada um faz o que quer da vida, mas seja coerente e não fique por ai levantando bandeiras "politicamente corretas", sempre com um bom discurso sobre direitos humanos e civilidade. Faça suas merdas e não se esconda atrás da hipocrisia.
Nossa sociedade tem que se passar a limpo, mas isso tudo que eu escrevi aqui é balela, ninguém quer agir, e me incluo nisso também, afinal tenho meus compromissos, deveres, contas, como todo "Grandessíssimo idiota/Que sabe que é humano/Ridículo, limitado/Que só usa dez por cento de sua cabeça animal".
Resumindo... só se faz alguma coisa de fato quando a água bate na bunda.