terça-feira, 31 de julho de 2012

o corpo ainda é pouco

no meio dessas novas correrias na istoé esqueci de colocar o último frila que fiz antes de ir pras bandas da lapa de baixo. foi pra revista voetrip esse perfil dos quatro titãs restantes na atual conjuntura 2012, com um pé no passado (reedição luxuosa do clássico cabeça dinossauro nos 30 anos de estrada) e olhos no futuro (começando disco novo, mas ironicamente o site oficial está surrealmente desatualizado). e na urgência de tudo e todos foi por email mesmo. paciência, iracema, paciência. de resto, as fotos que ilustram essa postagem são reproduções celulares de detalhes dos retratos feitos por kiko ferrite.


O PULSO AINDA PULSA

No começo eram nove. Ficaram famosos como oito. Mas agora, 30 anos após seu nascimento, os Titãs são quatro. Não é pouca coisa no eternamente jovem mundo do rock, principalmente se for levado em conta que o grupo segue produzindo material novo e lotando shows. Por essas e outras, os titânicos Paulo Miklos, Sérgio Britto, Branco Mello e Tony Bellotto estão comemorando a data redonda em alto estilo com a reedição, e consequentes apresentações, de Cabeça Dinossauro (1986), o terceiro e mais célebre de todos os trabalhos dos paulistanos.

“Vamos fazer a turnê do Cabeça Dinossauro neste primeiro semestre e, no segundo, seis shows com os ex-Titãs Arnaldo Antunes e Charles. Gavin. O Nando Reis não tem disponibilidade de datas. Para 2013 estamos preparando um disco de inéditas, rápido e pesado, mas com uma certa brasilidade. Um cruzamento entre Cabeça e Õ Blésq Blom. Vamos ver no que vai dar”, explicou Britto.

Futuro, presente e passado vivem se encontrando na trajetória do grupo, mas a oportunidade de reviver e compartilhar a glória criativa e cheia de energia do então octeto tem sido uma fonte de surpresas. É que agora os novos e velhos fãs podem ouvir o disco original remasterizado e, pela primeira vez, a demotape com as versões cruas de clássicos como “Família”, “Homem primata”, “Igreja” e “Polícia”, além da inédita “Vai pra rua” (“Porrada” entrou em seu lugar no disco). “Nessa demo que gravamos em dois dias o que chamou atenção foi a sonoridade crua, com arranjos diretos e contundentes que já havíamos concebidos antes da gravação e que foram potencializados na produção do disco [a cargo de Liminha]”, relembrou Mello.

O Titãs já era bastante conhecido na época – as rádios tocavam “Sonífera ilha”, “Televisão” e “Insensível”, músicas dos dois discos anteriores -, mas os oito rapazes ainda não tinham conseguido registrar o peso sonoro que viam em si mesmos. Tudo mudaria em novembro de 1985 com a prisão de Tony Bellotto e Arnaldo Antunes (o primeiro por porte e o segundo por porte e tráfico de heroína, o que acabou fazendo com ficasse um mês na cadeia). As traumáticas experiências da prisão, da violência policial, do moralismo da sociedade e dos meios de comunicação deram um caráter de urgência ao conteúdo do novo disco.

“No ano em que lançamos o Cabeça, os Paralamas lançaram Selvagem? e o Legião Urbana, o Dois. São três discos antológicos, cheios de qualidades, mas completamente diferentes entre si. O Cabeça é a ponta mais ácida e virulenta dessa tríade e talvez por isso mesmo seja um fenômeno mais raro ainda no panorama geral da música popular brasileira. Acho que um disco assim, barulhento, com palavrões, cheio de atitude e contestação ainda é coisa muito rara no mainstream”, disse Britto.

E todo esse barulho, toda a crítica social das 13 faixas do disco, caiu como uma luva naquele momento de redemocratização brasileira. Para se ter uma ideia, nem as multas pela veiculação dos palavrões de “Bichos escrotos” impediram as rádios de tocarem (muito) a música e o disco acabou vendendo mais de 250 mil cópias. “Tenho a lembrança que éramos muito jovens, fazendo a nossa música, descobrindo o Brasil e já com a certeza de que era isso que queríamos pras nossas vidas. Deu pra perceber o quanto estávamos sintonizados e afiados para realizar esse disco”, vangloria-se Mello.


Cabeça Dinossauro é o primeiro disco titânico a sair nesse formato luxuoso. Outros álbuns que o grupo lançou pela Warner terão o mesmo fim e os mais esperados são Jesus Não Tem Dentes no País dos Banguelas (1987) e Õ Blésq Blom (1989). “Temos muito material extra. Fitas demo ou caseiras feitas antes de cada disco com o material ainda recém arranjado, em estado bruto. E muito material gravado em ensaios. Pretendemos escolher com cuidado entre estes arquivos o que pode ser lançado em futuras edições especiais”, diz Miklos, muito preocupado com a qualidade e relevância do material a ser lançado, mas acima de tudo, animado.

Por outro lado, essas olhadelas no passado protagonizadas pelos remanescentes acabam revivendo as saídas de Arnaldo Antunes (1992), Nando Reis (2002) e Charles Gavin (2010), além da morte de Marcelo Fromer (2001). Com a palavra, o guitarrista Tony Bellotto: “A saída de um ou mais integrantes muda muita coisa em uma banda. Quando algumas pessoas decidem formar um grupo e tocar é por que elas têm química. Não é à toa que a maioria das bandas acaba ou se desconfigura quando alguém decide sair. No caso dos Titãs, cada saída foi triste, mas a morte do Marcelo [Fromer] foi, sem dúvida, o momento mais doloroso que enfrentamos. É sempre difícil superar perdas, ainda mais neste caso.”

E eles superaram, seguiram em frente, porque o show não pode parar e ainda tem muita química para rolar. “Somos um grupo sui generis, com compositores e cantores. Essa característica nos favorece musicalmente. Sempre soubemos ocupar o vazio deixado, nunca ficou um buraco na questão da sonoridade. Mas é claro que as amizades sempre fazem muita falta”, completa Bellotto.


O fato de todos os integrantes conseguirem tocar seus projetos pessoais ajudou a manter acesa a chama dos encontros titânicos: Bellotto se mostrou um hábil escritor de livros policiais; Miklos ganhou fama como ator (O Invasor, É Proibido Fumar e até uma novela, Bang Bang); Mello assinou projetos infantis como Eu e Meu Guarda-Chuva; e Britto encampou novas sonoridades em seus discos solo no decorrer dos anos 2000.

Envelhecer dentro do rock também não é um problema para nenhum dos quatro, que já estão na altura de seus 50 e poucos anos. “O que muda com o passar do tempo são outros aspectos da vida, o lado pessoal e as atitudes. Claro que fazer rock estará sempre ligado a uma ideia de juventude, mas quando estamos juntos parece que somos ainda aquele bando de garotos que se reuniu pela primeira vez para tocar. O espírito continua o mesmo”, reflete Bellotto.

Miklos concorda com o amigo de tempos de colégio, mas vai mais fundo na diversão e se define como um Titã revigorado, positivo e operante. “Atingimos outro patamar depois de mais uma mutação na formação da banda. Estamos nos divertindo como nunca e isto está muito evidente para o público. Esta excursão comemorativa do Cabeça Dinossauro está nos trazendo muitas alegrias. Casas cheias e o encontro carinhoso com os fãs. É muito bom comemorar com rock’n’roll e encontrar as pessoas em meio a toda essa energia”, resume Miklos, titã de corpo presente.

quarta-feira, 25 de julho de 2012

sonhos legais e ilegais

e os clipes nacionais não param de ser lançados. rolando um boom daqueles. e nessa terça, 24 de julho, saíram três ao mesmo tempo. “pra sonhar” é do disco de estreia de marcelo jeneci, de 2010 portanto, mas só veio à tona agora em forma colaborativa com um chamado na internet por imagens de casamento. o resultado é emocionante, música e clipe feitos na medida para fazer qualquer ouvinte-espectador beijar a lona diante de tamanha fofice.


daí vem felipe cordeiro com seu “legal e ilegal”, música de seu disco de estreia, kitsch pop cult (ná music), que foi lançado de forma independente no ano passado, mas tá ganhando mais divulgação por agora mesmo. a música é divertidíssima, tem uma letra tremendamente atual, e o clipe dirigido por brunno regis e carolina matos – com produção executiva de priscilla brasil – ficou a altura. sem falar nas participações de dona onete, manoel cordeiro (guitarrista pai de felipe), keila gentil (gang do eletro) e andré abujamra, o produtor do disco.


finalizando esse post, uma música-clipe novinho em folha. “alteração (éa!)” é do discaço sintoniza lá (coqueiro verde), o segundo e muy esperado disco de bnegão & os seletores de frequência, e ganhou esse clipe com cara de curta esperto dirigido por emílio domingos.

sábado, 21 de julho de 2012

a postos

mês de ótimos clipes novos. coloquei aqui o do antibalas e do duo edi rock & seu jorge , mas teve ainda tulipa ruiz (“é”), lurdez da luz (“levante”), mallu magalhães (“sambinha bom”), criolo (“mariô”), rael da rima, bid & ully costa (“corintiá”), tiê ( “você não vale nada” ) e marcelo d2, sain & hélio bentes (“eu já sabia”), dos que lembro agora. só que agora é hora de um dos mais esperados do ano, o de “mil faces de um homem leal (marighella)”, música inédita que os racionais mcs fizeram para a trilha do documentário marighella, de isa grinspum ferraz, que estreia nos cinemas agora em agosto.


a direção é de daniel grinspum e juliana vicente , e o roteiro é muito bem costurado pela identificação dos racionais (na voz rascante de mano brown) com os ideais/modus operandi revolucionário e contestador de marighella. ótimo início com a tomada da rádio (aconteceu mesmo, em 1969, na cidade de santo andré, região do abc paulista) e cenas sensacionais feitas com o grupo em show na ocupação mauá, na cidade de são paulo.

sexta-feira, 20 de julho de 2012

crítica social no balanço

olhaí o clipe de "that's my way", soul rap da pesada de edi rock (racionais) com participação de seu jorge. a música foi lançada três meses atrás, estará no disco solo de edi rock (contra nós ninguém será) e agora ganhou esse clipe dirigido por rabu gonzalez e protagonizado por darlan cunha (cidade dos homens).





só não entendi máqueporra foi esse lance de seu jorge, o fantasma camarada. de resto, clipe bacana (tem making of aqui). e de uma música sensacional produzida por dj cuca, levada no flow dolente e marcado de edi ("é um texto dantesco de shakespeare, titio", putz, letra ótima) e com um refrão matador de seu jorge. tem a música aí em streaming.





ah, e rabu gonzales, o diretor do clipe era uma das promessas do rap carioca dos anos 2000, mas de uns cinco anos pra cá começou a se dedicar a clipes e fez trabalhos para funkero, livia cruz (com max b.o.), penna firme (com bnegão), tonho crocco, akira presidente e ponto de equilíbrio. só que vou aproveitar pra relembrar "o último malandro", minha preferida do repertório musical de rabu (e com participação linda de thalma de freitas). acho que é de 2004, algo assim, e continua perfeita.


quinta-feira, 19 de julho de 2012

afrobeat de protesto

e os feras do antibalas estão de volta. disco novo chegando em agosto pela daptone records e a primeira música a sair, e ganhar clipe, é a sacolejante "dirty money". saca só.


mas a versão que sairá em disco é um pouco maior do que essa do clipe.

terça-feira, 17 de julho de 2012

isto é palmirinha

olhaí meu segundo video pro site da istoé. dessa vez não foi reportagem, nem entrevista, simplesmente porque a divertida palmirinha não consegue falar e cozinhar ao mesmo tempo. e como ela tinha em mente uma receita exclusiva pras amiguinhas da revista... a câmera e edição dessa vez ficou à cargo de alexandre gessone. participações musicais de mozart, los miticos del ritmo (quantic) e gang do eletro ("tributo a carmen miranda").



e pouco antes de começar a gravar tirei umas fotos da folclórica e octogenária cozinheira e de seu eterno ajudante guinho. saca só.



quarta-feira, 11 de julho de 2012

meia hora de bill withers

um dos maiores cantores e compositores norte-americanos no seu auge. é bill withers em um programa de tv da bbc direto do ano de 1973. entre uma conversa e outra, withers toca (nessa sequência), “ain’t no sunshine”, “lonely town, lonely street”, “grandma’s hands”, “use me”, “let me in your life”, “lean on me” e “harlem”.



agradecimentos a @fredleal que descobriu essa coisa linda.

dança soldado cabeça de papel

não tem nem muito o que falar sobre esse vídeo. o negócio é deixar rolar. já volto.

Choreography for Plastic Army Men from David Fain on Vimeo

foda. sensacional. a coreografia, a iluminação/direção de arte, o timing, a animação, todas as escolhas. cortesia stop-motion de david fain, profissional experiente que já trabalhou em séries animadas como bob esponja e the ricky gervais show. segundo sua página no vimeo, o curta choreography for plastic army men foi lançado quase um ano atrás.

e tem essa música ótima, tão familiar que me pareceu cover de alguma mistura latina de duke ellington e herbie hancock, mas é do pink martini. o nome também me soou familiar, mas certamente passei batido por eles. é um grupo de portland, oregon, liderado pelo pianista thomas lauderdale desde sua criação em meados dos anos 1990. essa música se chama “ohayoo ohio”, é do guitarrista dan faehnle, e saiu no quarto disco do pink martini, splendor in the grass (heinz records, 2009). curioso que o grupo organizou no início de 2010 um concurso de clipes para as músicas do disco e uma versão de “ohayoo ohio” pegou o quarto lugar. não chega nem próximo dos pés ágeis desses soldadinhos. e por último, vi esse video no fuck yeah dementia que pegou do tumblr anima movies.

terça-feira, 3 de julho de 2012

um bingo erótico em santos

o texto que segue abaixo foi feito originalmente para a revista piauí. seria minha quarta contribuição para a seção "esquinas". acho que seria publicado em maio, ficou pra junho, mas aí alguém decidiu que "ficaria velho" e o texto, já pronto, caiu de vez. ainda tentei vendê-lo para outras duas revistas, mas o estilo era tão "piauí" que acabou não colando. só posso dizer, modéstia às favas, que todas as publicações envolvidas saíram perdendo. tem muitas informações, histórias, realidades e diversões nessa reportagem, uma das que mais gostei de fazer. segue aqui a versão original do texto para o deleite (espero) de quem aparece aqui pelo esforçado.


“UM 69 E EU LEVO A PINTOLA!”

Todos os calores femininos em um bingo erótico na Baixada Santista

O início da tarde de domingo se arrasta nublado na altura do número 700 da rua Carvalho de Mendonça, em Santos: um senhor barrigudo de sunga azul faz alongamento apoiado em uma lixeira, uma criança volta da padaria com dois refrigerantes nada dietéticos, um sem teto dorme embaixo da mesa de sinuca do fechado (aos domingos) Familia’s Bar. Tudo normal. Mas em um salão de festas, ao lado do tal bar familiar, seis pênis infláveis de cores diversas jazem pendurados na parede e lingeries sensuais disputam espaço com vibradores numa mesa desmontável.

Olga é a responsável por isso. 38 anos, casada, a mãe de dois meninos corre para cima e para baixo no salão. É o 3º Bingo Erótico Só para Mulheres que ela organiza em menos de um ano, mas o nervosismo continua o mesmo. Mal dormiu a noite anterior de tão ansiosa. “Comecei a trabalhar com produtos eróticos um pouco antes do primeiro bingo e logo vi que era complicado de vender. Você não bate na porta de ninguém oferecendo. Mas tinha que existir um jeito de expor isso pra mulherada e explicar qual a finalidade. Porque, por exemplo, muitas nunca viram um vibrador. Não sabe como funciona, o que faz... só sabe onde entra, né? Então vi que tinha que reuni-las e achei o bingo uma boa ideia”, disse enquanto atende o celular e passa coordenadas para uma prima e uma tia que vieram de Bertioga lhe ajudar. Caio, seu marido, não gosta muito dessa história de sex shop e bingo erótico, mas prefere vê-la ocupada e ganhando o próprio dinheiro, então o que lhe resta é perguntar o menos possível.

As cervejas, águas e refrigerantes chegam quentes apenas uma hora antes do evento e Olga precisa comprar gelo. Mas antes de sair explica que o convite é 25 reais e dá direito a cinco cartelas, uma Espanhola (coquetel feito de vinho doce, leite condensado e abacaxi), um prato de salgados e outro de doces. Cartelas extras e as outras bebidas são pagas por fora. Pouco mais de 100 mulheres fizeram reserva e, segundo Olga, “elas cobram cada centavo do que pagam, querem tudo que tem direito”. Se todas vierem os custos da festa se pagam. A experiência dos outros dois bingos mostrou que essa é a matemática simples do evento e que lucro mesmo acontece nos dias seguintes quando os “brinquedinhos” são levados nas casas das clientes em horário apropriado (sem filhos e marido).


“Tá vendo aquela lua que brilha lá no céu? / Se você me pedir, eu vou buscar só pra te dar / Se bem que o brilho dela nem se compara ao seu”, derrama-se Thiaguinho, uma das vozes do Exaltasamba, nos alto falantes enquanto a força-tarefa de Olga dá os toques finais na decoração. Balões amarelos e brancos estão espalhados pelo salão principal, palco do bingo, das apresentações dos seis gogo boys contratados e do soundsystem caseiro que fará a trilha sonora da tarde. Tudo pronto também na entrada com mesas e araras cheia de roupas, calcinhas, lingeries e biquínis, produtos mais comportados que acabaram se tornando o lado B do catálogo da organizadora. Nessa edição, o bingo ainda conta com a presença de uma mesa de cosméticos populares com direito a maquiagens gratuitas. No mais, entre a entrada e o salão principal está a mesa com os brinquedos eróticos, agora adornada com um boneco inflável quase em tamanho natural.

As primeiras mulheres chegam por volta das 14h30. “Vou ali ver as coisas... peraí, deixa eu pegar os óculos ou não enxergo nada”, diz uma delas, acompanhada de filha e mãe. “Vem Neuza! Já tá aberto! Tem um monte de coisa pra ver”, diz outra, míope de lentes muito grossas. E vão chegando outras, idades e tipos dos mais variados.


Com meia hora de atraso, exatamente às 15h45, o 3º Bingo Erótico Só para Mulheres tem início e pouco mais de 100 senhoritas e senhoras de idades e tipos mais variados conversam animadamente. Nem imaginam que a Striperboys Eventos, a empresa dos gogo boys, lhes preparou uma surpresa: os petiscos (sinônimo para jovens iniciantes) Paolo e Daniel farão “um esquenta para a mulherada”.

De sunga amarela e botas, a dupla entra no recinto ao som de alguns gritinhos e uma dance music genérica. Passam pelas mesas agarrando uma, levantando outra, tendo suas bundas apertadas, tirando fotos. A música parece durar eternamente e de vez em quando eles não sabem mais o que fazer e ficam mexendo nas laterais da sunga olhando para o infinito. Algumas poucas não parecem se importar muito com os petiscos e uma delas até sai no meio da apresentação para fazer uma maquiagem na entrada.

A música chega ao fim e Olga pega o microfone para falar de alguns dos brinquedinhos antes de começar o bingo erótico propriamente dito. Um tesômetro e um pênis de borracha são levados de mesa em mesa pelos petiscos e novos gritinhos e risadas são ouvidos pelo salão. É o coquetel já fazendo efeito. “Vamos começar, gente?”, diz a organizadora quando o relógio marca redondas 16h.


Enquanto os primeiros números começam a sair, e os brindes para as vencedoras são kits com produtos do sex shop, o petisco Paolo combina um cinema para mais tarde. “Demorô! Já estou com a roupa aqui”, diz, ainda de sunga, ao celular. “Desde pequeno queria ter um corpo igual de gogo boys, porque eles têm o corpo mais evoluído. Aí ano passado vi na internet um rapaz e comecei a ver as fotos e ele dançava... ao mesmo tempo conheci uma pessoa que fazia o evento aqui em Santos e que me chamou. Sempre tive vontade de dançar pra todo mundo ver... ser olhado, né?”, confessa o jovem de 18 anos que trabalha como montador de móveis planejados. Paolo começou a “dançar” em novembro do ano passado e já é chamado para dois eventos por semana, tanto para mulheres quanto para o público GLS.

“A gente tem que se encaixar em todos os lugares, não pode ter preconceito nenhum. A diferença é que as mulheres ficam todas loucas e o homossexual fica mais na dele. Às vezes eles machucam um pouco porque sabem que você tem aquilo que eles têm. Então tentam pegar, mas a gente não deixa, porque quando pegam dá aquela dor. Já as mulheres são mais carinhosas com a gente porque vêm pra se divertir, pra brincar”, conclui enquanto arruma, nada discretamente, o pênis na sunga.

No salão principal, as mulheres já nem lembram mais dos petiscos. Só tem olhos e ouvidos para as cartelas do bingo e o chamamento dos números. “Essa é a única hora que vejo mulher calada”, diz uma. Até que na terceira cartela, quando o prêmio é um pênis de borracha de 20 cm, o silêncio é quebrado meio que sem querer. “Um 69 e eu levo a pintola!”, torce alguém no fundo. Todas riem e, como em um jogral, gritam “Uiiii!”. Mas o 69 não sai e sim um 47. A felizarda da vez é uma moça baixinha que se assusta um pouco ao colocar as mãos em seu prêmio cor da pele.


“Eu e minhas amigas frequentamos eventos assim há dois anos. A gente procura se divertir pra sair da mesmice que é o domingo: sofá, macarrão, frango, filho, neto, Silvio Santos”, explica Naná, 63 anos, em uma pausa para o cigarro do lado de fora do salão. Ela veio acompanhada das amigas e vizinhas Nenê (68) e 51 (60), todas casadas. “Íamos mais em clubes, é melhor, porque esses salões viraram moda, banalizaram. Parece loja de material de limpeza que em cada esquina tem uma... e esses meninos então... chegam esfregando o negócio e ficam andando por aí com essa sunga encardida. Não admito”. As amigas concordam e 51 completa que “os profissionais mesmo chegam arrumados, com roupas limpas e decentes, e conforme o show acontece tiram a roupa, afinal a gente vai lá pra ver eles pelados. Quase pelados, na verdade. Tudo pra fazer aquela farra, aquela algazarra. Nossos maridos sabem que a gente não vem aqui pra agarrar os homens. Porque se a gente quisesse fazer algo de errado não vinha em lugar público com filhas e netas, né?”

Nova gritaria no salão. Quem fechar a quinta cartela terá um minuto com um dos seis profissionais que irão se apresentar ao final do bingo. “Balanga o saco!”, gritam em coro. Ganha uma senhora que estava tirando fotos do evento com seu celular do Palmeiras, mas que, tomada por algum pudor, desiste da prenda. E, pela segunda vez nessa tarde, uma jovem instrutora da academia que Olga frequenta é premiada. “Aêêê Pocahontas!”, comemoram suas amigas.


“Nunca ganho nada, não sei o que aconteceu. É a primeira vez que venho em um evento desses e tô adorando, só mulherada, tudo livre, podendo falar besteira a hora que quiser. Eu, pra ser sincera, acho bem engraçado esses gogo boys. Acho que vale mais pra despertar o fogo da mulherada, fazer bagunça, mas não me atrai não, tanto que na hora que cheguei e vi, pensei ‘nossa, que gay isso!’. Nem queria ter ganho o minuto com o boy, acho que vou rir da cara dele ou então perguntar porque ele faz isso. O que me chama mais atenção mesmo são os brinquedinhos”, diz Camila, 23 anos, formada em Educação Física. Seu outro prêmio foi uma taça de champanhe com um pênis brilhando no meio que ela não faz ideia de como desligar.

O bingo erótico acaba por volta das 18h30 e quem ganhou, ganhou. A partir de agora a felicidade é geral com a apresentação dos profissionais. Olga pede à reportagem que acompanhe apenas o primeiro show e depois deixe as mulheres à vontade. Também dá um aviso: “Por favor, não coloquem as fotos no Facebook”. Então, a luz é apagada e o salão fica iluminado apenas por alguns raios de laser dançantes.

Vestido de toureiro, o primeiro boy a surgir é Danyllo Mack e a reação da “mulherada” é instantânea e explosiva. Logo tira uma para dançar, pega outra na cadeira e joga ainda uma outra no chão. Elas, por sua vez, passam as mãos por seu corpo, apertam a bunda, gritam “Vem! Vem! Vem!”. Antes do gran finale, no qual o toureiro tira a sunga (sem jamais mostrar a genitália, esse é o combinado), Danyllo ruma até o grupo das amigas da melhor idade. Naná e 51 se atracam com o boy, Nenê fica só olhando e batendo palmas.


A euforia é geral e ainda se apresentarão um cowboy, um Don Juan, um marinheiro, um gladiador e um policial da SWAT. Mas é preciso uma pausa entre um e outro para as damas se recomporem. Em um canto externo do salão, Naná, com o rosto suado, dá o seu veredicto para o primeiro show. “Foi bom, mas faltou um pouquinho. O meu marido me chama de ‘a crítica do mundo’, mas não é verdade. É que eu acho que tudo pode melhorar”, confessa enquanto traga longamente seu cigarro de filtro branco. Uma nova música começa a tocar, talvez seja a hora do cowboy que ela conhece de outros clubes das mulheres e sabe que tem pegada. Silvio Santos? Só domingo que vem.

domingo, 1 de julho de 2012

esforçando o instagram #08

gente. gente no centro de são paulo, na brigadeiro luis antônio, na nove de julho, na vila madalena, na lapa de baixo, na rua dos bombeiros. gente.

"visão de mundo"

"bola com bola"

"
"a passos largos"

"de olho em você"

"pois então, vermelho"

"resistance avec elegance"

"cercado pelas sombras"

 "mão na coisa, coisa na mão"

"esperando, esperando"

"entrega"