ontem foi ao ar o último dos 6028 programas – em 33 anos –
apresentados por david letterman. é, sem sombra de dúvida, o fim de uma era,
mas certeza que ele nunca aceitaria uma afirmação tão categórica e muito menos
o fato de que é uma das figuras mais influentes da cultura popular mundial do
final do século 20, mais até que o comediante mentor de sua geração, johnny
carson.
e não é por [falsa] humildade ou discrição. é que tudo
parece natural na sua ocasional rabugice, no humor auto depreciativo, na
absoluta gratuidade nonsense de alguns quadros ou intervenções, no interesse
genuíno por boas e engraçadas histórias de outras pessoas, na aversão pelo show
business, etc. tudo isso era e continua moderno mesmo que já tenha sido
assimilado por gerações mais novas.
não lembro quando comecei a acompanhar letterman. deve ter
sido em algum lugar do final dos anos 1990. mas imediatamente me identifiquei
com seu tipo de entrevistas, mais pra conversas sobre assuntos aparentemente
triviais [e que mudaram de estilo, ficaram mais leves, após a cirurgia cardíaca
no início dos anos 2000], e com seu humor ácido.
seu último top 10 – uma das marcas mais duradouras do
programa e que começou em 1985 com “top 10
things that almost rhyme with peas” – é um belo resumo das melhores
qualidades de letterman, de seus roteiristas e do programa [que será comandado,
a partir de setembro, pelo genial stephen colbert, uma das melhores
substituições da história da tv]. com vocês, dez coisas que que sempre quis
falar pro dave que, no caso, são alec baldwin, barbara walters, steve martin, jerry
seinfeld, jim carrey, cris rock, julia louis dreyfuss, peyton manning, tina fey
e bill murray.
mas o último programa começou assim, cheio de moral, com a
presença de três ex-presidentes americanos [bush pai, clinton e bush filho] e obama.
no canal do late show no youtube tem um monte de coisas recentes e do
passado. vale muito a pena passar horas e horas nele e se divertir com excelentes
e/ou históricos números musicais [aqui
o rap], algumas pegadinhas sensacionais, coisas sendo arremessadas do alto
do prédio do ed sullivan theatre e top 10 maravilhosos como esse estrelado por
barry white.
torço muito para que letterman não se aposente totalmente e
que ainda apronte coisas simples e geniais como seinfeld tem feito com a série comedians in cars getting coffee [foi
demais o encontro deles, aqui].
seu humor e sua inteligência são necessários demais, ainda mais neste ano que
jon stewart também deixará o daily show.
de qualquer forma, muito muito obrigado, dave.
leia também: “a despedida de letterman”, “letterman,
the last american broadcaster”, “david
letterman: the late-night prankster who became a comedy godfather”, “how
david letterman changed comedy, according to comedy bang! bang!’s scott aukerman”, “david
letterman’s lasting impact: a smudge on the collective unconscious”, “couch
warfare”, “the
lost laughs of letterman” e “letterman
was great, even in the very first episode of late night”.
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