terça-feira, 7 de outubro de 2025

no more tears, mama

na edição de outubro da Monet rolaram mais dois textos, um sobre Martin Scorsese e esse aqui sobre Ozzy Osbourne. quem me conhece sabe que não sou do rock, muito menos do metal, então meu conhecimento sobre Ozzy & Black Sabbath era bem superficial. foi interessante pesquisar sobre o cara, os caras, e (re)ouvir alguns clássicos do grupo que são realmente muito bons ("Paranoid" e "War Pigs", por exemplo).

O PRÍNCIPE LOUCO DAS TREVAS DO ROCK

Documentário inédito No Escape From Now, disponível no Paramount+, reconta a vida de Ozzy Osbourne, um dos maiores ídolos do rock e do heavy metal mundial

Mais de 5 milhões pessoas do mundo todo assistiram a transmissão do último show da banda de heavy metal inglesa Black Sabbath. Foi um sábado, 5 de julho de 2025, em Birmingham, muito próximo ao local de origem do grupo, em 1968. Estavam todos os quatro lá, a formação original: o guitarrista Tony Iommi, o baixista Geezer Butler, o baterista Bill Ward e, claro, o vocalista Ozzy Osbourne. É fato que Ozzy, muito debilitado pelo Parkinson, fez toda sua apresentação sentado em um grande trono preto, mas mesmo assim teve força o bastante para arrepiar todos os 45 mil presentes no estádio. Dezessete dias depois, Ozzy morreu aos 76 anos. 

Ninguém faz ideia de como ele conseguiu viver tanto, afinal de contas foram muitos anos com muitas drogas, além de inúmeros problemas de saúde nas últimas duas décadas. Em 2019, Zakk Wylde, guitarrista e parceiro de longa data, deu uma dica para tamanha longevidade: “ele tem uma espécie de energia, de força, que é maior que King Kong e Godzilla juntos... sério mesmo! Ele é durão!”.

A dureza/resiliência de Ozzy, nascido John Michael Osbourne em 3 de dezembro de 1948, certamente veio de berço. Pai e mãe trabalhavam em fábricas na cidade de Birmingham, a segunda maior da Inglaterra, e tiveram seis filhos, sendo que Ozzy foi o quarto, e o primeiro menino da família (Ozzy foi apelido que ganhou ainda criança). Os oito Osbournes moravam apertados em uma pequena casa de dois quartos e o dia a dia era repleto de dificuldades e obstáculos. 

Na escola, Ozzy descobriu que era disléxico e que as pessoas não entendiam seu jeito de falar. Descobriu também a violência quando, aos 11 anos, foi assediado sexualmente por valentões da escola. Pensou em suicídio. Mas, aos 14, ouviu “She Loves You” dos Beatles e sua vida mudou, então quis ser músico e teve a mais cristalina certeza que seria um rockstar. “Aquela música me fez virar de cabeça para baixo. Meu filho sempre me pergunta: ‘Como foi quando os Beatles aconteceram?’. Tudo o que posso dizer a ele é: ‘Imagine ir dormir em um mundo e depois acordar em outro tão diferente e emocionante que te faz sentir feliz por estar vivo’”, disse em entrevista para o New Musical Express em 2016. 

Só que antes da música acontecer, Ozzy precisou trilhar um caminho incerto: aos 15, largou a escola, e nos anos seguintes trabalhou na construção civil, em fábrica automotiva, em um matadouro, e foi aprendiz de encanador, entre outros trabalhos de curta duração. Aos 17, foi preso roubando uma loja de roupas e passou seis semanas preso porque seu pai não pagou a fiança para que ele “aprendesse uma lição”. 

O que aprendeu foi que precisava continuar procurando a música e, aos 19, viu um anúncio no jornal do bairro: estavam procurando um vocalista que estivesse disposto a trazer algo novo e excitante para o rock. Ozzy se identificou e foi assim que conheceu Geezer Butler e pouco depois Tony Iommi e Bill Ward. 

Então, entre o fim de 1967 e o início de 1968, mais um quarteto de rock se formou na Inglaterra. E o nome? Pensaram em ‘Earth’, uma coisa meio hippie, mas já existia uma banda chamada assim, então alguém lembrou de um filme italiano de horror chamado Black Sabbath (1963), dirigido pelo cultuado Mario Bava. A partir daí um certo tom sombrio e pesado foi adotado, tanto nas apresentações quanto nas músicas. 

Corta para o ano de 1970, quando o Black Sabbath lançou seu disco de estreia (Black Sabbath) e já engatou um segundo (Paranoid), consolidando rapidamente uma sonoridade própria e muito sucesso ao embalo de porradas como “War Pigs”, “Iron Man” e as faixas-titulo. Ozzy, frenético e carismático, deu rosto e voz ao que depois seria chamado de heavy metal. Nascia ali, “O Príncipe das Trevas”. Sob o apelido, Ozzy disse em uma entrevista de 2013, que “é só um nome. Não acordei uma manhã e pensei: ‘Sabe de uma coisa, vou me chamar de...’. Começou como uma brincadeira, e estou tranquilo com isso, sabe? É melhor do que ser chamado de babaca”. 

Durante os anos 1970, Ozzy seguiu com o Black Sabbath por mais seis discos, com maior (Master of Reality, Vol. 4 e Sabbath Bloody Sabbath) ou menor sucesso (Sabotage, Technical Ecstasy e Never Say Die!), e muitos shows, muita estrada e brigas em hotel. Sem falar nas doses cavalares de álcool e cocaína. Em 1978, na gravação de Never Say Die!, as relações pessoais e artísticas dentro do grupo haviam se deteriorado a um ponto sem volta. “A gente vivia muito drogado o tempo todo. Íamos para o estúdio e ninguém conseguia acertar uma música, todo mundo tocando uma coisa diferente, porque estávamos muito chapados; então a gente tinha que parar”, relembrou Tommy Iommi em entrevista nos anos 2000. Todo mundo fazia tudo, mas foi Ozzy quem foi mandando embora em 1979 (por, oficialmente, não ser confiável e ter muitas questões com drogas). 

Nos anos 1980, no início de sua bem sucedida carreira solo, Ozzy Osbourne aperfeiçoou e exacerbou a persona que criara no Black Sabbath: o louco, o roqueiro satanista, o polêmico, o que urina em monumento histórico, e morde morcego no palco e pombo em encontro com executivo de gravadora. Nessa segunda fase da sua vida artística, que vai até meados dos anos 1990, vieram também discos aclamados como Diary of a Madman, Bark at the Moon e No More Tears. 

A terceira fase da vida de Ozzy vai de meados dos anos 1990 até sua morte em 22 de julho de 2025 e tem menos relação com música e mais com sua persona midiática. Tudo começou com o Ozzfest, um festival de música criado em 1996 por Sharon Osbourne, sua segunda mulher e mãe de três dos seus seis filhos, e que durou até 2010. A iniciativa foi baita sucesso comercial e deu uma nova visibilidade ao roqueiro que acabou o levando, junto com parte da família, para um reality show pioneiro lançado pela MTV, The Osbournes (2002-05). Na mesma época do reality, Ozzy descobriu que os tremores que sentia não tinham relação com o tanto de drogas que usou e sim com a doença de Parkinson. 

E seguiu trabalhando, produzindo e vivendo, com direito a reencontros com o Black Sabbath, novos discos, outros realities, muitos shows, o olhar louco de sempre, o humor afiado. Em quase 60 anos de carreira, Ozzy Osbourne vendeu mais de 100 milhões de discos, somando os que fez com o Black Sabbath e os da carreira solo, e fez o que queria do jeito que queria, para o bem e para o mal. Mas tinha uma coisinha que o incomodava. 

Em uma entrevista para a revista Spin em 2023, confessou que “nunca me senti confortável com esse título que me deram – ‘metal’. Porque toco pesado, mas as bandas que são [consideradas metal] são realmente pesadas, e todos nós somos colocados na mesma categoria. Quando você é rotulado em um determinado [gênero], pode ser muito difícil fazer algo um pouco mais leve, uma faixa acústica ou qualquer coisa que você queira fazer. Antigamente, era só rock. Ainda é só rock”.

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