sexta-feira, 7 de outubro de 2011

um aventureiro à serviço de sua majestade

devo confessar que nunca havia assistido um programa inteiro da série-reality à prova de tudo até algumas horas antes de entrevistar o apresentador & aventureiro bear grylls, ao vivo e em londres, a convite do discovery channel. é certamente um dos canais que mais assisto, mas não sou muito desse segmento de aventuras (detestava aquele australiano dos crocodilos que morreu). mas daí que assisti dois episódios da sexta temporada que estreia este mês no brasil e foi divertido. assistirei outros? provavelmente não. só que isso não importa porque a viagem a londres, a coletiva e os rápidos 5 minutos que estive cara a cara com o simpático bear grylls (mais sobre ele na wikipédia) serviram para esta reportagem publicada na revista monet desse mês. e gostei do resultado.


SOBREVIVENDO A SI PRÓPRIO
Fomos ao encontro de Bear Grylls para saber o que passa pela cabeça do sujeito que se mete em tantas roubadas por conta própria em À Prova de Tudo. A resposta? Voltar para casa

Final de junho, início do verão no hemisfério norte, e Londres estava em festa com a presença do sol: famílias estendendo toalhas no Green Park para fazer um lanchinho em plena terça-feira, casais se abraçando nos bancos ao longo do Rio Tâmisa, jovens executivos indo trabalhar de bicicleta e sem camisa, uma alegria só.

Se alguém cruzasse com Bear Grylls nesse dia, e por acaso não conhecesse seu trabalho na série
À Prova de Tudo, jamais imaginaria que seu cotidiano é muito diferente dos seus conterrâneos. A pele bronzeada, o bom humor e o aspecto saudável poderiam sugerir férias tranquilas no Caribe, mas o aventureiro e apresentador de TV tinha acabado de voltar a sua terra natal após sofrer o pão que o diabo amassou em algum lugar desértico no estado americano do Utah.

Bem, essa é a sua vida, os fãs esperam mesmo que ele sofra um bocado e Grylls está acostumado com essa demanda, tanto que seu programa já está na sexta temporada. Mas nenhuma de suas habilidades de sobrevivência o deixa confortável quando é hora de falar sobre si e sobre seu trabalho para um bando de jornalistas de vários lugares do mundo. E esse encontro é apenas o primeiro compromisso de um dia agitado socialmente. Após a coletiva, Grylls almoçará e depois receberá cada um dos profissionais da imprensa em uma suíte de um hotel bacana a poucos quarteirões de Piccadilly Circus, região central de Londres, e então correrá até uma livraria para uma sessão de autógrafos de seu mais recente livro,
Mud, Sweat and Tears [Lama, Suor e Lágrimas]. Para encerrar o dia, Grylls e sua equipe receberão convidados para a pré-estreia dessa nova temporada. Tudo muito diferente de seu cotidiano de aventuras entre as densas florestas de Bornéu ou ao lado do ator Jake Gyllenhaal nas montanhas vulcânicas da Islândia.

grylls durante a coletiva

“A grande dificuldade do programa é achar as locações. Pedimos ajuda dos fãs, mas existe sempre uma batalha entre os produtores, que desejam que eu vá para os piores lugares, e eu, que prefiro mais sossego. Procuramos achar um meio termo”, afirmou entre goles de água durante a coletiva. Além das citadas Islândia, Utah e Bornéu, essa nova temporada o levou a lugares como Nova Zelândia, Noruega, Escócia, Indonésia e Arizona. Mais alguns pontos e aprendizados vindos diretamente do mapa-múndi deste homem casado, 37 anos, pai de três filhos (Marmaduke, Jesse e Huckleberry), em tudo normal.

Bem, quase tudo. Eterno desafiador de si mesmo, Grylls virou celebridade na Inglaterra após narrar em livro a sua escalada ao Everest com meros 23 anos, apenas 1 ano e meio após ter sofrido um acidente de pára-quedas que quase o matou. De lá para cá outras aventuras foram encaradas, bem como livros e convites para entrar no mundo da televisão, no entanto foi só a série
À Prova de Tudo que acabou, meio que instintivamente, se tornando a melhor tradução de seu espírito.

Enquanto isso, cinco horas antes da sessão de autógrafos ter início, uma fila começa a se formar na entrada de uma livraria na Piccadilly Street. Fãs de todas as idades, munidos de cadeirinhas e sombrinhas, disputam espaço com funcionários da prefeitura, tapumes, grades e desvios. É que Londres está vivendo em permanente tumulto devido às obras para as Olimpíadas de 2012. Mas alheio a tudo isso, Grylls fala do prazer que sente ao fazer cada episódio (“É como se eu estivesse fazendo um filme caseiro e a dinâmica se manteve a mesma durante essas seis temporadas”) e de quanto admira sua pequena equipe de amigos, principalmente o cinegrafista Simon Reay (“Ele faz tudo que eu faço só que com uma câmera pesada no ombro”).

Lembra como dava trabalho para sua mãe com sua curiosidade, tanto que a primeira enrascada que lembra de ter se metido foi aos 7 anos quando ficou preso em areia movediça numa praia. E falou da força e tranquilidade de sua mulher (Shara), do quanto adorou quando um de seus filhos disse que queria ser contador, de como é difícil fazer seguro em seu nome, das inúmeras vezes que recusou entrar para TV e do seu lado chorão (“assisti um dia desses no avião aquele filme
Diário de uma Paixão [filme de 2004 dirigido por Nick Cassavetes e estrelado por Ryan Gosling e Rachel MacAdams] e chorei tanto que a aeromoça veio perguntar se eu estava bem”). Então a coletiva chega ao fim. Tempo de comer algo e checar o cronograma das individuais. E lá em frente a livraria, a fila de fãs só aumentando.

fila de fãs na livraria waterstones perto do piccadilly circus

CARA A CARA COM O PERIGO – Um grande sofá de couro em formato de meia lua domina o centro da suíte reservada para as entrevistas e Bear Grylls, o homem mais destemido a serviço de Sua Majestade, levanta-se calmamente para receber o jornalista da vez. Não é a primeira e nem será a última.

“Sinto-me lisonjeado das pessoas assistirem ao
À Prova de Tudo com essa vontade de viver aventuras através dele. Já fiz isso também com outras atrações, mas o meu foco é gravar o programa e voltar para casa”, disse à MONET o inglês que desde que se casou em 2000 vive em um barco holandês com mais de 100 anos próximo a Battersea Bridge. “Acho que fazer um programa técnico de sobrevivência seria muito chato. Porque se você está numa situação dessas é preciso se manter seguro, não correr riscos e esperar o resgate. O que a gente quis simular é uma situação de autoresgate e existe uma espontaneidade nisso que faz com que eu me mantenha interessado em fazer o programa.”

mr. grylls cercado por escoteiros

O tempo ruge, a engrenagem gira e uma equipe de TV mexicana já está a postos. A fila lá fora não para de crescer e ainda tem a pré-estreia, os convidados, o discurso, o coquetel, os escoteiros querendo tirar fotos, os tapinhas nas costas. Então, de repente, estar perdido com um grupo de amigos e um canivete no meio de uma selva tropical não parece uma idéia tão assustadora assim.

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