quinta-feira, 27 de setembro de 2012

yahoo #47, um novo começo

pois então... pouco mais de três meses de lapa de baixo (aka istoé) depois, o que era sólido se desmanchou no ar, e voltei ao fantástico e assustador mundo da frilândia. uma das primeiras coisas que fiz foi ligar para o bróder michel blanco para reativar minha coluna no ultrapop (afinal, meu rostinho feio continuava lá no header junto com pedro alexandre sanches e dudu tsuda). delícia voltar a escrever a coluna, saiu tão rápido... e sensacional (pro mal e pro bem) acompanhar novamente as mil e uma loucuras na caixa de comentários. tava com saudades, nem sabia quanto. e o texto de volta deve agradecimentos ao deputado protógenes queiroz e sua delirante cruzada contra o ursinho e a "mensagem" do filme ted, de seth macfarlane.



O URSINHO DA MALDADE CONTRA O MORALISTA MÍOPE

Foi domingo agora, provavelmente em algum normalíssimo cinema de shopping, que o deputado federal Protógenes Queiroz (PC do B/SP) levou seu filho Juan, “o pequeno Juan” de 11 anos, para assistir ao longa norte-americano Ted. Deveria ser um programa divertido, pai e filho juntos, domingão, mas deu tudo errado, pelo menos para Protógenes que ficou absolutamente chocado com o filme e saiu xingando muito no twitter (as aspas logo abaixo estão do jeito que o excelentíssimo digitou). Até agora ninguém sabe o que o menino achou do acontecido.

“Assisti com o pequeno Juan o filme Ted uma cena de apologia às drogas: o ursinho Ted e o seu dono consumindo drogas. Isso é um absurdo! MJ [Ministério da Justiça] deve explicações!”, mas sua raiva santa não se conteve com isso e no dia seguinte aumentou a carga. “Acionarei os meios legais, a fim de impedir que o lixo o filme infanto-juvenil Ted seja exibido nacionalmente e apurar responsabilidades. O filme não esta apropriado para nenhuma faixa etária. Incentivar o consumo de drogas é crime, usando ainda ícones infantis.”

Bem, na minha terra isso tem nome e um nome apenas: censura. Curioso que no mesmo dia, o deputado disse que não concorda “com a restrição a liberdade de expressão” ao comentar uma notícia sobre censura a blog do Estadão.

Curioso também que o político que ficou famoso quando era delegado da Polícia Federal e integrou importantes operações como a que prendeu Law Kin Chong, o maior contrabandista do Brasil, e a complexa Satiagraha, a que encarcerou momentaneamente o banqueiro Daniel Dantas, Celso Pitta e Naji Nahas, não deu uma investigadinha nos antecedentes do filme. Não olhou o trailer, não levou em conta a classificação (“Não recomendado para menores de 16 anos”) e não leu críticas, portanto não ficou sabendo que Ted é o primeiro longa de Seth MacFarlane, mais conhecido por ter criado as animações críticas e debochadas Family Guy, American Dad! e The Cleveland Show. Viu o ursinho no cartaz e achou que estava tudo bem para o pequeno Juan.


No entanto, o pior veio depois. O valente deputado que conseguiu criar as CPIs de Carlinhos Cachoeira e da Privataria Tucana simplesmente não entendeu o filme. Fala de incentivo de uso de drogas justamente quando o ursinho drogado é visto no filme como um vagabundo imaturo. Em uma reportagem no Estadão, Protógenes “disse que o filho perguntou se ele queria ir embora. ‘Respondi que não. Queria ver até onde ia aquele desrespeito.’” Parece o papo clássico de falso moralista. Quer dizer, ou se tem maturidade para falar o que é certo e errado para o seu filho, sem precisar apelar para qualquer tipo de proibição, ou você é um fracasso como pai/educador/cidadão.

Então, a partir de uma indignação conservadora e absolutamente pessoal, o deputado decidiu que seus preconceitos deveriam se estender a todo o país (“#foraFilmeTED das telas do cinema brasileiro. Não aceitamos mais esses enlatados culturais americanos no Brasil”). O filme é bom? Ruim? Aí vai da opinião livre de cada um. A reação, principalmente no twitter, foi rápida, irônica, inclemente e tão poderosa que ele desistiu do banimento do filme e já se contentava com a classificação de impróprio para 18 anos. Ainda deu tempo de soltar um desabafo ontem: “O mundo esta cheio de ursinho Ted”. E em vários lugares do mundo, Teds dos tipos mais variados soltaram risadinhas esfumaçadas.

Felizmente, essa história não vai dar em nada, diferente de outras restrições conservadoras e burras que ainda teimam em aparecer aqui e ali no Brasil (São Paulo, ou Kassabistão de Tucanópolis, está ficando mestre nessas patacoadas). E tomara que o pequeno Juan se saia melhor que o pai.

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