O URSINHO DA MALDADE CONTRA O MORALISTA MÍOPE
Foi domingo agora, provavelmente em algum normalíssimo
cinema de shopping, que o deputado federal Protógenes Queiroz (PC do B/SP)
levou seu filho Juan, “o pequeno Juan” de 11 anos, para assistir ao longa norte-americano
Ted. Deveria ser um programa
divertido, pai e filho juntos, domingão, mas deu tudo errado, pelo menos para
Protógenes que ficou absolutamente chocado com o filme e saiu xingando muito no
twitter (as aspas logo abaixo estão do jeito que o excelentíssimo digitou). Até
agora ninguém sabe o que o menino achou do acontecido.
“Assisti com o pequeno Juan o filme Ted uma cena de apologia às drogas: o ursinho Ted e o seu dono
consumindo drogas. Isso é um absurdo! MJ [Ministério da Justiça] deve explicações!”,
mas sua raiva santa não se conteve com isso e no dia seguinte aumentou a carga.
“Acionarei os meios legais, a fim de impedir que o lixo o filme infanto-juvenil
Ted seja exibido nacionalmente e
apurar responsabilidades. O filme não esta apropriado para nenhuma faixa
etária. Incentivar o consumo de drogas é crime, usando ainda ícones infantis.”
Bem, na minha terra isso tem nome e um nome apenas: censura.
Curioso que no mesmo dia, o deputado disse que não concorda “com a restrição a
liberdade de expressão” ao comentar uma notícia sobre censura a blog do
Estadão.
Curioso também que o político que ficou famoso quando era
delegado da Polícia Federal e integrou importantes operações como a que prendeu
Law Kin Chong, o maior contrabandista do Brasil, e a complexa Satiagraha, a que
encarcerou momentaneamente o banqueiro Daniel Dantas, Celso Pitta e Naji Nahas,
não deu uma investigadinha nos antecedentes do filme. Não olhou o trailer, não levou
em conta a classificação (“Não recomendado para menores de 16 anos”) e não leu
críticas, portanto não ficou sabendo que Ted
é o primeiro longa de Seth MacFarlane, mais conhecido por ter criado as
animações críticas e debochadas Family
Guy, American Dad! e The Cleveland Show. Viu o ursinho no
cartaz e achou que estava tudo bem para o pequeno Juan.
No entanto, o pior veio depois. O valente deputado que
conseguiu criar as CPIs de Carlinhos Cachoeira e da Privataria Tucana
simplesmente não entendeu o filme. Fala de incentivo de uso de drogas
justamente quando o ursinho drogado é visto no filme como um vagabundo imaturo.
Em uma reportagem no Estadão, Protógenes “disse que o filho perguntou se ele
queria ir embora. ‘Respondi que não. Queria ver até onde ia aquele
desrespeito.’” Parece o papo clássico de falso moralista. Quer dizer, ou se tem
maturidade para falar o que é certo e errado para o seu filho, sem precisar
apelar para qualquer tipo de proibição, ou você é um fracasso como
pai/educador/cidadão.
Então, a partir de uma indignação conservadora e
absolutamente pessoal, o deputado decidiu que seus preconceitos deveriam se
estender a todo o país (“#foraFilmeTED das telas do cinema brasileiro. Não
aceitamos mais esses enlatados culturais americanos no Brasil”). O filme é bom?
Ruim? Aí vai da opinião livre de cada um. A reação, principalmente no twitter,
foi rápida, irônica, inclemente e tão poderosa que ele desistiu do banimento do
filme e já se contentava com a classificação de impróprio para 18 anos. Ainda
deu tempo de soltar um desabafo ontem: “O mundo esta cheio de ursinho Ted”. E em
vários lugares do mundo, Teds dos tipos mais variados soltaram risadinhas
esfumaçadas.
Felizmente, essa história não vai dar em nada, diferente de
outras restrições conservadoras e burras que ainda teimam em aparecer aqui e
ali no Brasil (São Paulo, ou Kassabistão de Tucanópolis, está ficando mestre
nessas patacoadas). E tomara que o pequeno Juan se saia melhor que o pai.
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