segunda-feira, 1 de outubro de 2012

paulo carvalho, cantautor

nunca fui um profissional de releases (musicais) para imprensa e nesses meus doze anos de profissão só tinha feito um, no final de 2008, porque foi pedido de um amigo (oga mendonça, do projeto manada), gosto do trabalho dele/grupo, presto muito atenção no rap brasileiro e gostaria de dar uma contribuição e tals. mas daí que em março ou abril, o paulistano paulo carvalho me convidou pelo facebook pra fazer o release de seu segundo disco solo (o amor é uma religião). não sei se ele tinha uma opção anterior, não o conhecia pessoalmente, mas lembrava que tínhamos falado um pouco por emails quando ele lançou seu disco de estreia em 2007 e me agradeceu pela resenha que fiz no gafieiras. fui tomado por receios ético-profissionais. e se não gostar do disco? será que vou ter que apelar pra ficção jornalística? na conversa com paulo decidimos que iria acompanhar um pouco dos ensaios em maio e da gravação em junho para ter mais informações extra-musicais. e, ufa, bastaram alguns minutos do primeiro ensaio pra ter certeza que não precisaria usar de truques para falar sobre um disco que se mostraria cheio de boas surpresas e muitas e belas canções. portanto, seguem algumas fotos que tirei nesse processo, o release em si e o disco em streaming (que também pode ser baixado gratuitamente no site oficial do paulo ou, acima, no link do disco).  



CORAÇÃO NA BOCA

O amor é um daqueles grandes mistérios, e consequentemente temas, da humanidade. Artistas e não-artistas tentam entendê-lo (e assim louvá-lo, amaldiçoá-lo, mil coisas) em verso e prosa desde que a maçã foi comida. Paulo Carvalho gosta de escrever sobre o amor e não é de hoje. Em 2007, sobre sua estreia em disco (De Longe) como cantor e compositor, escrevi o seguinte para o site Gafieiras: “Romântico, o paulistano prefere cantar dores de amor e ausências, mas devidamente colocadas em um cenário urbano e atual”.

Mas foi necessário um pouco mais de tempo e maturação para o também escritor e psiquiatra tomar coragem de se assumir definitivamente como um “cantautor”. O resultado é seu segundo disco, O Amor é uma Religião, que volta a tratar dos solavancos do coração, só que de uma forma mais aberta e ainda mais poética e autoral. O título vem de um dos versos de “Solando no tempo” – canção de Luiz Melodia, gravada originalmente em Mico de Circo (1978) –, uma das duas regravações presentes no disco. A outra é “Aeroplanos” (Jorge Mautner e Rodolfo Grani Jr.), que Mautner gravou em Mil e Uma Noites de Bagdá (1976).

Nessas duas músicas, e também nas autorais “Sóis” e “Segredo” (esta com a irmã Luciana de Carvalho, parceira habitual), existem ligações evidentes entre amor, Deus e religião/crença, como sugere o título desse disco de 12 faixas. Mas na verdade o amor-religião de Paulo Carvalho é feito de belezas e mistérios muito próximos, em nada distantes ou idealizados. Tanto faz ganhar ou perder, o importante é se encantar e se entregar. Amor é vida, o resto é ficção.

É notável a coragem de Paulo Carvalho enfrentar o amor (logo o amor) dentro do historicamente fértil terreno da canção popular brasileira, e ele se sai muito bem nas suas escolhas poéticas, mas teve ainda a grande sabedoria de chamar um afiado quarteto de músicos-arranjadores para todo o disco.

Três deles possuem uma longa convivência no grupo Cidadão Instigado: Dustan Gallas (teclados), Rian Batista (baixo) e Régis Damasceno (guitarra e violão). Rian e Régis haviam tocado na estreia discográfica de Paulo Carvalho e agora o guitarrista é co-produtor ao lado de Yury Kalil (que também co-produziu a estreia de Paulo, mas na época ao lado de Fernando Catatau, o líder do Cidadão Instigado). O baterista Richard Ribeiro poderia ser um estranho no ninho, mas toca com Régis em seu projeto solo (Porto) e na banda de Marcelo Jeneci (e de lá veio Laura Lavieri que cantou junto de Paulo na delicada “Miragem”), além de também colaborar com o Cidadão Instigado.

Nos ensaios, a familiaridade de uns com os outros era patente em quão rápido e fácil encontravam soluções e caminhos para cada música de O Amor é uma Religião. Uma psicodelia aqui, uma bossa nova acolá, pitadas de futurismo, umas colheres de Jovem Guarda, um jeito Caetano Veloso, uma valsinha com clima de praia, uma guitarra Lulu Santos, rocks variados e assim por diante em um disco repleto de surpresas sonoras. Tudo isso, todo esse clima leve, ajudou Paulo a ter mais confiança e lá se foi o rapaz arriscar em espanhol (“Inmersión”) e inglês (“Dreamer”, parceria com Régis) e assinando canções com Pélico (“Teu nome”) e Pecker, cantor e compositor espanhol que veio até São Paulo gravar uma participação em “Inmersión” (além de terem feitos juntos “Segredo”). O amor, esse mistério, nos dá força pra cada coisa.



p.s.: as fotos acima foram tiradas durante os ensaios, que aconteceram no estúdio loop, a as que seguem abaixo nas gravações nos estúdios mosh.


yuri kalil (co-produção)

dustan gallas (teclados)

rian batista (baixo)

régis damasceno (guitarras, violão e co-produção)

richard ribeiro (bateria)

laura lavieri (voz) e tony berchmans (acordeon), 
participações especiais em "miragem"

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