o lugar do russomanno
POLITIZA QUE EU GAMO
Lembro que quando começou a campanha eleitoral deste ano vi inúmeras
mensagens no Facebook de pessoas avisando, quase sempre ameaçadoramente, que
deletariam qualquer “amigo” que postasse ou compartilhasse mensagens políticas.
Que o Facebook é um residencial virtual e realmente careta todo mundo sabe e
essa repulsa à política é apenas reflexo de um dos mais idiotas sensos comuns de
todos os tempos.
Quer dizer, os não-políticos curtem adoidado mensagens
“edificantes” sobre fotos de bebês ou cachorros fofos, mas na hora que o calo
aperta, quando temos a chance de mudar algo em nossas cidades, o pessoal tira o
corpo fora com o bordão “político é tudo a mesma merda”. Peraí, a gente é tudo
a mesma merda? Porque, afinal de contas, político é gente, político é a gente,
sem tirar nem por.
Obviamente, essa gritaria apolítica não adiantou em nada e
as campanhas para prefeituras e assembleias de todo o Brasil se espalharam
rapidamente pela internet, principalmente no Facebook, para o bem e para o mal.
Como vivo há 18 anos em São Paulo sou bombardeado pela campanha local, mas com
a internet consigo ter alguma noção do que está acontecendo em outras cidades
do meu interesse: Fortaleza, Rio de Janeiro, Recife, Belo Horizonte, Belém,
Salvador e Porto Alegre. Se fosse esperar pelos jornais e revistas...
Porque internet é praça pública, é o caos da vida. Tem
discussão, piada, agressão, troca de ideias, uma baladinha aqui, um bandeiraço
acolá. Onde mais se poderia rir, agrupar e comentar as impagáveis fotos
careteiras e os micos de José Serra? Nessa eleição, o veterano candidato tucano
– que está correndo o sério risco de não conseguir emplacar no segundo turno em
São Paulo (numa disputa que ele estava em primeiro poucos meses atrás), – virou
protagonista de três tumblrs divertidíssimos: Serra Demasiadamente Humano, Serra
Loko e Serra Inova. Rir é política também.
No entanto, também foi na internet que o Coronel Telhada,
ex-comandante da Rota e candidato a vereador pelo PSDB, ameaçou e incentivou
agressões a André Caramante, profissional sério que cobre segurança pública
pela Folha de S. Paulo. O jornalista que tanto apontou em suas reportagens um
aumento de mortos por policiais em 2012 quanto os assassinatos de policiais,
numa autêntica nova guerra entre Rota e PCC, foi afastado (exilado) pelo jornal
por medida de segurança.
Agora, por exemplo, soube que o Coronel publica em sua
página no Facebook fotos de bandidos (ou quem ele julga bandidos) assassinados
pela polícia na rua. Esse tipo de material violento o Facebook demora séculos
para tirar, diferente de um evento-festa que, criado na segunda feira para
criticar o candidato Celso Russomanno, foi deletado duas vezes em questões de
minutos (o Facebook assumiu o erro e republicou o evento “Amor sim,
Russomanno não”, que acontece nessa sexta).
Toda ação, progressista ou conservadora, individual ou
coletiva, gera uma reação. Isso é política. Acompanhei muita coisa interessante
nesses meses, muita mobilização, várias discussões importantes sobre que tipo
de cidade queremos viver. Também assisti a coisas de perder a fé na humanidade.
Mas, como diria Carlinhos Cachoeira, tudo é processo.
O que quero dizer é que não adianta fugir da
responsabilidade. A política somos nós, no que temos de mais bonito e feio, e
assino embaixo no que o colega aqui de Ultrapop, Pedro Alexandre Sanches, disse no twitter: “Quem pensa que a política não é arte. E não é nobre. Não
sabe nada. Da vida.”
Um comentário:
Alguém já disse que o problema de quem não gosta de política,é que eles são governados por gente que gosta muuuito.
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