MICHEL TELÓ EM PELE DE CORDEIRO
Tenho uma dívida
eterna com Timpin Pinto, afinal ele é (com certeza é) o cara que mais conhece a
verdadeira música popular brasileira do século 21. E não é a tal “curiosidade
antropológica”, pois o cara gosta profundamente de tudo que ouve (e isso vale
também pro que não gosta). Foi através dele e de seu Cabaré que conheci os eletromelodys paraenses, as swingueiras
baianas, os bregas-funks pernambucanos e por aí vai. Mas tem outra: Timpin
gosta e não foge de briga. O sujeito que já foi ameaçado de morte por gente
ligada ao submundo do forró agora está numa missão de desconstruir a fama de
bonzinho de Michel Teló, o multimilionário homem de um sucesso só. Pedi permissão
ao Cabaré para reproduzir aqui no Ultrapop uma versão ligeiramente editada de
“A verdadeira (e sórdida) história de Michel Teló”. Vai que é sua, Timpin!
Recentemente
Michel Teló foi pra mídia reclamar que o Ministério da Cultura se recusou a
ajudá-lo em um documentário através da Lei Rouanet. O cantor queria um milhão e
trezentos do governo (entenda-se, do povo que paga os impostos que sustentam o
governo) para documentar seus passeios pela Europa, na esteira do sucesso de “Ai
se eu te pego” que, diga-se de passagem, tem sua autoria até hoje contestada na
justiça. Na entrevista ao site Universo Sertanejo ele não consegue
deixar de transparecer sua arrogância. Declarou que com seu hit levou “...o
nome do país pra fora, o país voltou a ser notícia por algo de cultura”
A
questão é que Michel Teló pousa de mocinho e de mocinho ele não tem nada. Quer
desmascará-lo? Pergunte qual foi a verdadeira história da saída de sua antiga
banda, o grupo Tradição, do Mato Grosso do Sul. Peça para Michel Teló explicar
porque a banda se dilacerou, com todos os membros, que tocavam juntos há anos,
partindo cada um para lado. Essa história nunca foi bem contada. Aliás, essa
história nunca foi contada, apesar de que todo mundo que trabalha nos
bastidores do mercado sertanejo saiba. Mas o público e os fãs não sabem. Por
isso este cabaret vai trazê-la à tona.
Tudo
começou em 2008, quando o grupo Tradição estava finalizando seu DVD Micareta Sertaneja 2. O anterior tinha
rendido um disco de ouro e uma apresentação no Domingão do Faustão. Tinha tudo
para não só repetir a dose como ainda apresentá-los para o resto do Brasil, já
que seu sucesso ainda era regional. Ocorre que quando tudo já estava pronto,
inclusive a arte final do DVD, Michel e seu irmão Teófilo Teló, disseram que as
oito músicas que estavam registradas na editora Panttanal, que era deles, só
seriam liberadas mediante ao pagamento de uma pequena fortuna por cada uma.
Valores absurdos, completamente acima do valor do mercado.
Naturalmente
a banda declinou da proposta, alegando que se fosse o caso, excluiriam as tais
oito músicas e seguiriam em frente. Então os dois rebateram: se fosse feito
assim, os direitos de uso das imagens do cantor não seriam liberados. O que se
seguiu foi uma discussão que, segundo fontes seguras, chegou às vias de fato.
Em seguida foi convocada uma entrevista coletiva no qual Michel Teló anunciou
sua carreira solo, tranquilizando os fãs de que cumpriria a agenda de shows já
vendidos, permanecendo na banda por seis meses. Isso depois de cantar na banda
a mais de dez anos (ele foi descoberto pelos empresários do Tradição quando
ainda era adolescente).
Durante
meio ano a banda se apresentou por toda a região Sul e Centroeste disfarçando
nos palcos o clima horrível que imperava nos bastidores. Chegou agosto de 2009,
Michel desligou-se da banda, levou toda a estrutura de palco e ainda estreou
solo usando nos cartazes de divulgação a expressão “Micareta Sertaneja”. Deixou
pra trás uma banda falida e despedaçada. Todos os outros membros saíram, com
exceção do guitarrista Wagner Pekois que insistiu em tentar o que na época era
considerado por todos uma louca utopia, recomeçar do zero.
E
foi o que ele fez. Inicialmente viajou ao Rio Grande do Sul e em Ijuí recrutou
os irmão Guilherme e Leonardo Bertoldo, cantor e baterista do grupo Os 4 Gaudérios,
respectivamente. Da banda sul matogrossense Zíngaro contratou o sanfoneiro
Jefferson Villava, o baixista Leandro Azevedo e o percussionista Marcio
Pereira. Com a formação nova gravaram o disco Caixinha de Surpresas e caíram na estrada por dois anos até
adquirirem a sinergia e a verba necessária para a gravação de um novo DVD.
O
DVD Tô de Férias acabou sendo um dos
melhores lançamentos sertanejos de 2010, apesar da baixa repercussão que teve
na mídia. E assim o Tradição continua na batalha até hoje. Recentemente
lançaram um single de sucesso, chamado “Ui, adoro” que, apesar não tocar nas rádios, já teve
mais de um milhão de downloads.
Só
que a lei do karma ruim é implacável. A música “Ai se eu te pego” pode estar
tocando no planeta inteiro, mas o sucesso de Michel Teló é uma bolha, uma mera
ilusão porque ele não tem fãs. Ao contrário da maioria dos cantores que saem de
suas bandas e se lançam em carreira solo, os fãs do Tradição não migraram para
o lado do cantor, muito pelo contrário, permaneceram ainda mais fiéis à banda,
sendo praticamente uma extensão do departamento de divulgação. Enquanto a
preocupação de Michel é ganhar mais e mais dinheiro, o Tradição segue apostando
na construção de uma carreira artística de qualidade.
O
dia em que algum empresário visionário resolver investir no Tradição, o Brasil
irá conhecer um dos melhores shows da atualidade. Se no momento Michel Teló é
um dos artistas mais saturados do país, certamente o Tradição é o segredo mais
bem guardado. Quem vai entrar na história como o mocinho e quem vai entrar como
o bandido, só o futuro dirá. Mas não é muito
difícil de adivinhar.
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