O PRINCÍPIO, O MEIO E O FIM DE "HARLEM SHAKE"
Faz pouco mais de um mês que o mundo foi inundado por um
novo e, como tudo na internet, inescapável meme. Impossível que você, caro(a)
leitor(a), não tenha visto alguma versão do “Harlem Shake”, mesmo que depois
tenha pensado cá com seus botões porque as pessoas estavam fazendo esse fuzuê
todo.
A história começou mais ou menos assim. Baauer, um jovem DJ
norte-americano nascido Harry Rodrigues, lançou em maio do ano passado a música
“Harlem
Shake”, mas ninguém deu a mínima pelota para esse batidão eletrônico
que não tinha nenhuma relação com a dança de mesmo nome surgida no início dos anos 1980. Daí que o
tempo passou e no final de janeiro deste ano, o comediante Filthy Frank pegou
um trecho de quase 20 segundos da música, fez uma coreografia maluca com amigos
e colocou como o início da compilação “Filthy Compilation #6 – Smell my
fingers”. O viral estava quase pronto.
Três dias depois, apenas três dias depois, cinco moleques
australianos autoproclamados The
Sunny Coast Skate chegaram
lá e definiram o formato que se espalharia pelo mundo com a mesma velocidade
fatal da gripe espanhola. O vídeo tem apenas 30 segundos. Na primeira metade
apenas um integrante do grupo dança ao som de “Harlem Shake”, e este usa um
capacete, então acontece um breque na música, um corte seco no vídeo, e de
repente todos começam a dançar dos jeitos mais nonsense possíveis. Pronto, o
estrago estava feito.
No texto “Um artista desconhecido no topo da
parada da Billboard”, o jornalista Alexandre Matias
afirma que o vídeo “virou uma pérola de humor nonsense da internet. Justamente
por isso pegou. E, como outros, começou a ser citado, referido, misturado. E o
‘do the harlem shake’ convidou as pessoas a fazerem seu próprio ‘Harlem Shake’.
O resto é história”.
Essa combinação explosiva de dança, humor, simplicidade e
tudo isso em apenas 30 segundos fez nascer versões como a do exército
norueguês, os jogadores de basquete do Miami
Heat e os mergulhadores da equipe da Universidade da Georgia, além de incontáveis compilações. O Brasil, claro, também deu sua contribuição e teve
desde o Programa
do Ratinho e o Programa
da Eliana, passando por manifestações em Indaiatuba e na Avenida
Paulista, até montagens com clipe de “66” da
banda O Terno, o caos do transporte público em São Paulo e evangélicos rodopiando. E também compilações
nacionais e até uma
versão com letra em português (“Harlem Tcheka”) feita
pelo Bonde do Rolê. Mas nada, em nenhum lugar, chega próximo da habitual
genialidade d’Os Simpsons.
Claro que os mal humorados de plantão acham que por causa
dessa febre o mundo vai acabar (mais uma vez). Não conseguem enxergar como um
vídeo desses amplia o vocabulário de imagens e referências da cultura pop
mundial. É uma Luisa Marilac, um “Gangman Style”, um “David after dentist”,
coisas que passam, mas também deixam seus rastros.
De uma forma ou de outra, o sonho “Harlem Shake” está
prestes a acabar, tanto que Rubinho Barrichello fez o seu no
casamento de Tony Kanaan, mineiros australianos foram demitidos após colocarem sua versão no YouTube e russos foram presos após dançarem
em um Memorial da Segunda Guerra. Por outro lado, Baauer está sendo processado por Hector Delgado e Jayson Musson
por terem sampleado suas vozes (“Com los terroristas” e “Do the Harlem Shaker”,
respectivamente) e ainda cometeu a burrada de brigar com uma estrela em
ascensão, a rapper Azealia Banks, por causa de seu remix da música, quando deveria
se sentir prestigiado. Escuta (e vê) só.
Já surge uma nova onda, um novo viral, porque a vida
também é feita dessas coisas efêmeras e tem maluco pra tudo nesse mundo.
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