POR UMA CIDADE CHEIA DE GRAÇA
Deixa pedir licença para falar de um projeto pessoal. Quer
dizer, pessoal, mas que também tem muito a ver com um dos temas recorrentes
aqui nas minhas colunas no Ultrapop: a retomada de uma cidade mais humana a
partir do diálogo, do comprometimento, da ação. Faz pouco menos de um mês que venho
espalhando uma quadrinha, em formato estêncil, pelas ruas de
São Paulo. Escrevi sobre a origem do “Você praça acho graça / Você prédio acho
tédio” lá no Esforçado
e aqui gostaria de tratar das reações que tenho percebido no momento que estou
grafitando.
Antes de tudo é bom dizer que até agora não tive nenhuma
experiência de repressão, nem da polícia e nem de seguranças particulares, e
olha que tenho feito tudo às claras, sol a pino (e já fiz com dois amigos e duas
amigas, sendo que uma delas com seu filho de 9 anos). Tenho duas explicações
possíveis para essa calmaria: a quadrinha é doce, não dá para ver nada de
ofensivo nela, e o objetivo não é vandalizar nada, justamente pela quadrinha
ser doce. Existe uma transgressão, obviamente, mas é uma transgressão moleque,
meio hippie, e feita por um sujeito de cabelos e barba grisalhos, óculos.
Enfim, eles nem ligam. Melhor pra mim.
E lá vou eu com algumas opções de sprays na mochila (preto,
vermelho, cinza, amarelo e azul safira) à procura de tapumes de obras, muros de
terrenos baldios, estacionamentos, coisas assim. Logo no primeiro, na Rua Amaro Cavalheiro, um pai parou seu
filho de 7 anos. “Olha o que o moço tá fazendo”, disse, e o moleque rapidamente
foi hipnotizado pelos movimentos do spray. Não disse nada, mas saiu a
contragosto para almoçar em casa. Logo depois, na Rua Fradique Coutinho, o
primeiro sorriso.
Sorrisos silenciosos, e invariavelmente femininos, foram se
repetindo nos dias seguintes: um grupo de evangélicas perto do Largo da Batata,
uma família na Rua Heitor Penteado, um grupo de crianças na Rua Paris, duas
amigas em um ponto de ônibus da Av. Corifeu de Azevedo Marques e metade de um outro
ponto na Av.
Paulista. Mas também um chinês que parou na Rua Girassol, leu o texto com
certa dificuldade em voz alta e me deu tapinhas nas costas repetindo “Muito
bom, muito bom”. Ou um garoto que passou com a mãe por um dos últimos casarões
na Paulista, deu meia volta e tirou uma foto do estêncil fresquinho dizendo que
ia colocar “no
Face”.
“Você nunca tinha visto alguém fazendo arte na rua, então...
e olha, é poesia também”, disse uma mãe para sua filha na Rua Pedroso de Moraes.
Já em tapume na Travessa Pátio do Colégio uma garota olha para o namorado e
dispara “Vi um desses na Cardeal”, enquanto na escondida Rua das Flores, perto
do Poupatempo da Sé, um grupo de amigos lê o texto da quadrinha e ao fim um
deles diz simplesmente um “Ó!”. Sem falar em um senhor que deu um tempo de sua
cervejinha dominical para acompanhar o grafite sendo feito na Rua Aurélia e
seguranças que depois foram bisbilhotar na Rua João Moura e na Av. Brigadeiro
Luis Antônio (até agora fiz grafites em 91 pontos de São Paulo e Fortaleza, tudo devidamente
registrado no Google Maps e em um tumblr). A listagem
de reações não é para encher a bola deste que voz escreve e sim para mostrar
como é possível, e fácil, fazer sorrir em uma cidade que aparentemente
distancia as pessoas. Basta ser carinhoso.
Por fim, esse grafite, como toda arte urbana, tem a
consciência do efêmero. O local pode ser demolido, alguém pode pintar por cima,
outro grafite pode ser feito por cima, tudo pode acontecer, menos a eternidade.
E tudo bem. O que importa é a ação e as reflexões/emoções conseguidas através
dela. Por essas e outras disponibilizei o PDF da
quadrinha-estêncil para download. Para que essa ação possa ser feita em outras
cidades, por outras pessoas, ou seja inspiradora, vai saber. Cidade boa é
aquela que sorri junto com a gente.
p.s.: Dos mais de 60 textos que já fiz para o Yahoo! estes
são os outros em que tratei da cidade. “Quando o
Minhocão balançou de alegria”, “Saudade
de cinema de rua”, “Nem todos
estão surdos”, “Um centro
vivo e no virote”, “Arte que desmancha
no ar”, “São
Paulo, velha e louca” e “Pra cima,
com raiva”. E para finalizar o texto, “Cola de Farinha”, ótimo documentário
sobre um grupo que vem trabalhando em São Paulo com stickers, uma variação do
bom e velho lambe-lambe, e suas inspirações.
3 comentários:
"jornalista até que me provem o contrario"...Olha, você acha que é jornalista por que? Pq te deram um diploma? Vim até aqui p dizer q vc só escreve merda, merda pura. Seu comunista de merda. Voce é um de-serviço. To de saco cheio de vagabundo igual a voce que acha que sabe tudo... pensa: escrever uma materia entitulada ENTENDENDO
MUJICA. Vc tá é espalhando a merda q vc tem no lugar do cerebro para os outros. Obrigado por isso seu filho da puta. Quem é vc p dizer que sabe da verdade e que entende de tudo, seu merdinha.
ih, vaia de anônimo não vale...
Bacana! Hoje dei de cara com a quadrinha no tapume do que ain da ontem eram casas aqui na Rua Natingui... vou compartilhar.
Ana Afonso
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