sexta-feira, 15 de março de 2013

yahoo #65

não resisti e aproveitei a chance de colocar o "você praça" lá no yahoo, um tanto para divulgar mais, mas também para ver a reação dos comentaristas malucos, e escolhi um recorte bem definido: a reação das pessoas na rua justamente na hora que estou aplicando o stencil. experiência interessante mesmo com poucos comentários postados. enquanto isso, lá no ultrapop, o texto "o princípio, o meio e o fim de harlem shake".



POR UMA CIDADE CHEIA DE GRAÇA

Deixa pedir licença para falar de um projeto pessoal. Quer dizer, pessoal, mas que também tem muito a ver com um dos temas recorrentes aqui nas minhas colunas no Ultrapop: a retomada de uma cidade mais humana a partir do diálogo, do comprometimento, da ação. Faz pouco menos de um mês que venho espalhando uma quadrinha, em formato estêncil, pelas ruas de São Paulo. Escrevi sobre a origem do “Você praça acho graça / Você prédio acho tédio” lá no Esforçado e aqui gostaria de tratar das reações que tenho percebido no momento que estou grafitando.

Antes de tudo é bom dizer que até agora não tive nenhuma experiência de repressão, nem da polícia e nem de seguranças particulares, e olha que tenho feito tudo às claras, sol a pino (e já fiz com dois amigos e duas amigas, sendo que uma delas com seu filho de 9 anos). Tenho duas explicações possíveis para essa calmaria: a quadrinha é doce, não dá para ver nada de ofensivo nela, e o objetivo não é vandalizar nada, justamente pela quadrinha ser doce. Existe uma transgressão, obviamente, mas é uma transgressão moleque, meio hippie, e feita por um sujeito de cabelos e barba grisalhos, óculos. Enfim, eles nem ligam. Melhor pra mim.


E lá vou eu com algumas opções de sprays na mochila (preto, vermelho, cinza, amarelo e azul safira) à procura de tapumes de obras, muros de terrenos baldios, estacionamentos, coisas assim. Logo no primeiro, na Rua Amaro Cavalheiro, um pai parou seu filho de 7 anos. “Olha o que o moço tá fazendo”, disse, e o moleque rapidamente foi hipnotizado pelos movimentos do spray. Não disse nada, mas saiu a contragosto para almoçar em casa. Logo depois, na Rua Fradique Coutinho, o primeiro sorriso.

Sorrisos silenciosos, e invariavelmente femininos, foram se repetindo nos dias seguintes: um grupo de evangélicas perto do Largo da Batata, uma família na Rua Heitor Penteado, um grupo de crianças na Rua Paris, duas amigas em um ponto de ônibus da Av. Corifeu de Azevedo Marques e metade de um outro ponto na Av. Paulista. Mas também um chinês que parou na Rua Girassol, leu o texto com certa dificuldade em voz alta e me deu tapinhas nas costas repetindo “Muito bom, muito bom”. Ou um garoto que passou com a mãe por um dos últimos casarões na Paulista, deu meia volta e tirou uma foto do estêncil fresquinho dizendo que ia colocar “no Face”.

“Você nunca tinha visto alguém fazendo arte na rua, então... e olha, é poesia também”, disse uma mãe para sua filha na Rua Pedroso de Moraes. Já em tapume na Travessa Pátio do Colégio uma garota olha para o namorado e dispara “Vi um desses na Cardeal”, enquanto na escondida Rua das Flores, perto do Poupatempo da Sé, um grupo de amigos lê o texto da quadrinha e ao fim um deles diz simplesmente um “Ó!”. Sem falar em um senhor que deu um tempo de sua cervejinha dominical para acompanhar o grafite sendo feito na Rua Aurélia e seguranças que depois foram bisbilhotar na Rua João Moura e na Av. Brigadeiro Luis Antônio (até agora fiz grafites em 91 pontos de São Paulo e Fortaleza, tudo devidamente registrado no Google Maps e em um tumblr). A listagem de reações não é para encher a bola deste que voz escreve e sim para mostrar como é possível, e fácil, fazer sorrir em uma cidade que aparentemente distancia as pessoas. Basta ser carinhoso.


Por fim, esse grafite, como toda arte urbana, tem a consciência do efêmero. O local pode ser demolido, alguém pode pintar por cima, outro grafite pode ser feito por cima, tudo pode acontecer, menos a eternidade. E tudo bem. O que importa é a ação e as reflexões/emoções conseguidas através dela. Por essas e outras disponibilizei o PDF da quadrinha-estêncil para download. Para que essa ação possa ser feita em outras cidades, por outras pessoas, ou seja inspiradora, vai saber. Cidade boa é aquela que sorri junto com a gente.

p.s.: Dos mais de 60 textos que já fiz para o Yahoo! estes são os outros em que tratei da cidade. “Quando o Minhocão balançou de alegria”, “Saudade de cinema de rua”, “Nem todos estão surdos”, “Um centro vivo e no virote”, “Arte que desmancha no ar”, “São Paulo, velha e louca” e “Pra cima, com raiva”. E para finalizar o texto, “Cola de Farinha”, ótimo documentário sobre um grupo que vem trabalhando em São Paulo com stickers, uma variação do bom e velho lambe-lambe, e suas inspirações.

3 comentários:

Anônimo disse...

"jornalista até que me provem o contrario"...Olha, você acha que é jornalista por que? Pq te deram um diploma? Vim até aqui p dizer q vc só escreve merda, merda pura. Seu comunista de merda. Voce é um de-serviço. To de saco cheio de vagabundo igual a voce que acha que sabe tudo... pensa: escrever uma materia entitulada ENTENDENDO
MUJICA. Vc tá é espalhando a merda q vc tem no lugar do cerebro para os outros. Obrigado por isso seu filho da puta. Quem é vc p dizer que sabe da verdade e que entende de tudo, seu merdinha.

Dafne Sampaio disse...

ih, vaia de anônimo não vale...

Ana Afonso disse...

Bacana! Hoje dei de cara com a quadrinha no tapume do que ain da ontem eram casas aqui na Rua Natingui... vou compartilhar.
Ana Afonso