quinta-feira, 6 de março de 2014

pra vó dedé,

semana passada, na manhã de 26 de fevereiro, partiu minha querida, muito querida, vó dedé, mãe de meu pai. em 2008 foi a vez de seu marido, o vô zé júlio. entre um e outro partiram meus avós maternos, josias e neném. sem mais avós e avôs, portanto. numa troca de emails entre toda a família muitas de suas histórias e falas impagáveis foram sendo relembradas pra produção de uma espécie de libreto a ser lido e distribuído na missa de sétimo dia. minha contribuição foi o texto que segue abaixo.


tem umas coisas especiais que acontecem na vida da gente. dona dedé aconteceu na minha. que delícia de pessoa, que figura, que coisinha linda. discreta e ácida, carinhosa e determinada, bem humorada e direta, religiosa e nada besta. pequenina também. e minha avó, que baita sorte da porra! [ai, desculpa o palavrão, vó, foi uma ênfase necessária pro tanto de amor].

a vó que planejou me sequestrar pr'eu ser batizado, mas preferiu entregar o pagãozinho pra deus. acho que porque a fazia rir com meus mungangos [caretas]. a vó que me fazia rir e lamber os beiços com uma galinha a cabindela [molho pardo] inesquecível. a vó e seu quintal, o quintal de toda minha infância com suas mangas, goiabas, abacates, brincadeiras, siriguelas, flores de jambo cobrindo o chão, frutas do conde, romãs, limões, cocos ralados, etc.

a vó que me dava capitão que, segundo o dicionário aurélio, é um "bocado de comida que tenha molho [feijão, por exemplo], amassado com farinha, entre os dedos, à moda de bolo, e levado com a mão até a boca". segundo eu mesmo, era o momento sensacional & índio & passarinho no qual ficava em um círculo [junto com prima(os), irmã e irmão] sendo alimentado assim, aos ótimos bocados.

minha vó, coisinha mais linda.

não faz muito tempo percebi que tinha sido ela que, silenciosamente, moldou o humor de toda a família que gerou [6 filhos, 11 netos, 6 bisnetos]. já sabia disso inconscientemente porque tinha certeza que aquela coisinha pequena tava dentro de mim, mas foi ao vê-la já doente, lutando pra manter seu afiado senso de vida e ao mesmo tempo cansada dos 6 anos de viuvez [ô seu zé júlio, saudades viu] e dos muito bem vividos 88 anos, que percebi como uma parte do melhor da gente veio dela.

claro que vai fazer falta. muita. mas ela fez tanta tanta diferença por onde passou, nas pessoas que a conheceram, que não tem essa coisa de fim pra dona maria, dona dedé, dona maria de dedé. ela é pra sempre, né?

2 comentários:

Julinho disse...

Lembro que agoniávamos o juízo dela dizendo que o tempero do "capitão" era porquê ela não lavava as mãos. Rsrsrsrs. Boas lembranças de nossa vó meu primo.

Marchando disse...

Leve lindo texto, Dafne! Sorte poder tê-la conhecido!