tem umas coisas especiais que acontecem na vida da gente. dona dedé aconteceu na minha. que delícia de pessoa, que figura, que coisinha linda. discreta e ácida, carinhosa e determinada, bem humorada e direta, religiosa e nada besta. pequenina também. e minha avó, que baita sorte da porra! [ai, desculpa o palavrão, vó, foi uma ênfase necessária pro tanto de amor].
a vó que planejou me sequestrar pr'eu ser batizado, mas
preferiu entregar o pagãozinho pra deus. acho que porque a fazia rir com meus
mungangos [caretas]. a vó que me fazia rir e lamber os beiços com uma galinha a
cabindela [molho pardo] inesquecível. a vó e seu quintal, o quintal de toda
minha infância com suas mangas, goiabas, abacates, brincadeiras, siriguelas,
flores de jambo cobrindo o chão, frutas do conde, romãs, limões, cocos ralados,
etc.
a vó que me dava capitão que, segundo o dicionário aurélio,
é um "bocado de comida que tenha molho [feijão, por exemplo], amassado com
farinha, entre os dedos, à moda de bolo, e levado com a mão até a boca".
segundo eu mesmo, era o momento sensacional & índio & passarinho no
qual ficava em um círculo [junto com prima(os), irmã e irmão] sendo alimentado
assim, aos ótimos bocados.
minha vó, coisinha mais linda.
não faz muito tempo percebi que tinha sido ela que,
silenciosamente, moldou o humor de toda a família que gerou [6 filhos, 11
netos, 6 bisnetos]. já sabia disso inconscientemente porque tinha certeza que
aquela coisinha pequena tava dentro de mim, mas foi ao vê-la já doente, lutando
pra manter seu afiado senso de vida e ao mesmo tempo cansada dos 6 anos de
viuvez [ô seu zé júlio, saudades viu] e dos muito bem vividos 88 anos, que
percebi como uma parte do melhor da gente veio dela.
claro que vai fazer falta. muita. mas ela fez tanta tanta
diferença por onde passou, nas pessoas que a conheceram, que não tem essa coisa
de fim pra dona maria, dona dedé, dona maria de dedé. ela é pra sempre, né?
2 comentários:
Lembro que agoniávamos o juízo dela dizendo que o tempero do "capitão" era porquê ela não lavava as mãos. Rsrsrsrs. Boas lembranças de nossa vó meu primo.
Leve lindo texto, Dafne! Sorte poder tê-la conhecido!
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