segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

"my soul is black, meu sangue é quente"

show lindo, poderoso, político, afetivo, cheio de emoções e distorções esse 'a mulher do fim do mundo' da grande gigante elza soares. ela ali no alto de seu trono, frágil e poderosa, entra com tudo nas músicas do disco, algumas difíceis ("benedita", celso sim e pepê mata machado, com participação de celso) ou épicas ("o canal", rodrigo campos), rasgadas ("dança", cacá machado e romulo fróes) ou das ruas ("firmeza?!, rodrigo campos), sambas punk ("pra fuder", kiko dinucci) ou apocalípticas ("luz vermelha", kiko dinucci e clima), espelhos ("a mulher do fim do mundo", romulo fróes e alice coutinho) ou conscientes ("maria da vila matilde", douglas germano). e assim vai, voz tinindo.



e acompanhada de uma puta banda (guilherme kastrup, rodrigo campos, rafa barreto, marcelo cabral e da lua com metais e sopros do bixiga 70 e quarteto de cordas) e uns arranjos tão fiéis ao disco, um dos grandes desse ano, quanto potentes ao vivo. tudo também muito paulistano, tirando beleza e urgência de sujeiras e distorções.

além das músicas inéditas, quatro de seu passado: a já clássica "a carne" (seu jorge, marcelo yuka e ulisses cappelletti), uma arrepiante "malandro" (jorge aragão) e, nos bis, "volta por cima" (paulo vanzolini) e "pressentimento" (elton medeiros).

ela disse, do alto de seus 78 anos, que queria um disco com sexo e negritude. não só conseguiu, em disco e no show, como foi além mostrando que a atual fragilidade física não é páreo pra sua energia inquieta de artista mulher negra.



e foi lindo vê-la feliz sendo aplaudida de pé em vários momentos e amada de muitas formas em um show absolutamente arrebatador, de abrir sorrisos e chorar repetidas vezes (eu chorei pelo menos duas vezes, carolina outras tantas), de pensar e se incomodar, de se enroscar e ser repelido(a). foi um show tipo viver mesmo, no que tem de mais lindo e perturbador. elza soares da vida, diria itamar assumpção. e que bom, que importante, que a gente tenha percebido que temos muita sorte de ter e ser elza.



p.s.: acho, só acho, que teria sido muito foda ela cantar "elza soares" do itamar assumpção.

Nenhum comentário: