nunca vi um verão assim, tão quente, seco e cheio de hits. geralmente rola uma ou duas músicas de muito sucesso na temporada que antecede e incorpora o carnaval, mas este verão tem nada menos que quatro hits. o pontapé inicial foi dado ainda em dezembro com dois que se logo se transformaram em expressão popular [nada mais óbvio, afinal nasceram dela].
tudo começou com "deu onda" de mc g15. nascido gabriel paixão soares em duque de caxias, baixada fluminense, o garoto de 19 anos mudou-se em 2015 para são paulo. ele sabia que, por essas voltas que o mundo dá, são paulo tinha se tornado a capital do funk carioca desde sua mutação no final dos anos 2000, na baixada santista, em funk ostentação. o ostentação não aguentou o tranco da crise econômica e já não iria durar muito justamente por ser tão repetitivo em letras que não passavam de uma longa lista de marcas, e então o funk paulista se multiplicou em outros subgêneros. mc g15 foi atrás de um desses, o funk ousadia, que não passa da velha sacanagem brasileira, dos duplos sentidos com sexo e humor. daí que o sucesso de "deu onda" começou com sua versão explícita ["meu pau te ama"], mas foi a "família" que dominou tudo, um tanto também pela visibilidade que ganhou com o video dirigido por kondzilla, o midas dos clipes. e a música em si? pop até o último, de melodia facilmente identificável e letra cheia de expressões que grudam na cabeça. e ainda por cima ligeiramente nonsense e quase infantil. tudo coisa que dá onda.
igualmente nonsense e infantil - e também sacana, mas bem menos que "deu onda" -, a baianíssima "me libera, nega" é de ítalo gonçalves, 19 anos, mais conhecido como mc beijinho. samba reggae surgido do porta-malas de uma viatura policial [aqui tem um resumo desse início maravilhoso], a música é uma delícia do começo ao fim, principalmente pela curiosa divisão silábica de ítalo. é a silabagem, meu rei, uma das mais inquietas tradições do cancioneiro brasileiro [dá-lhe mário reis, joão gilberto, jorge veiga e tantos outros e outras].
já os outros dois hits do verão 2017, "todo dia" e "pau, perereca e cu", não são do tamanho das anteriores. são mais, digamos assim, de nicho [mas lembrando sempre que os nichos hoje em dia são mundos gigantes]. "todo dia", por exemplo, é do primeiro disco ['vai passar mal'] de pabblo vittar, cantora e drag queen maranhense radicada em são paulo. é pop eletrônico, e algo funk e brega, com refrão surpreendentemente político e festivo ao mesmo tempo ["eu não espero o carnaval chegar pra ser vadia / sou todo dia, sou todo dia"]. a cereja é a participação cantante do rapper rico dalasam.
e nada melhor que "pau, perereca e cu" pra fechar essa seleta de hits de verão né não. numa mistura louquíssima de suingueira, arrocha, funk e brega, o trio de brasília harmonia do sampler [mc caê maia, dj ops e o produtor cleber machado] transformou essas três palavras numa espécie de mantra do bundalelê. não dá pra ficar parado com tantos paus, pererecas e cus e essa é bem a ideia.
que loucura de verão é esse, minha gente?!
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário