sábado, 29 de dezembro de 2018

60 discos brasileiros de 2018

após os discos gringos é a vez do produto interno bruto e esse ano a nacional também está um pouco menor. como sempre destacarei, em blocos, os preferidos pessoais dentre a lista maior de 60 lançamentos.

a criação de canções, essa instituição brasileira, continua muito bem obrigado. de São Paulo vieram Anelis Assumpção com seu Taurina e Maurício Pereira e o Outono no Sudeste. Anelis vem criando com muito tato e discrição uma belíssima carreira, autoral e pop, e Taurina talvez seja o melhor retrato (até agora) do muito que é capaz (o pai Itamar deve estar tão orgulhoso). enquanto isso, Pereira, velho conhecido da casa, segue mestre total da crônica urbana paulistana e de suas cruas delicadezas.



nesse bloco de canções as surpresas vieram do capixaba Juliano Gauche e do pernambucano Mestre Anderson Miguel. Gauche é artista que acompanho faz um tempinho e até já apareceu em listas passadas, mas nunca me pegou de jeito, faltava alguma coisa. Afastamento, que produziu em parceria com Fernando Catatau, é um disco poderoso, romântico, pop e psicodélico. Anderson Miguel, por outro lado, está no registro da música popular tradicional da Zona da Mata pernambucana, mas a produção de Siba, as participações de Juçara Marçal, Beto Villares e Jorge Du Peixe e sua própria juventude (o mestre tem apenas 22 anos!) fazem de Sonorosa uma moderna revisão das próprias raízes.

então vem o rap, o gênero mais inquieto, inclusivo, diverso e punk de todos (tanto aqui quanto no resto do mundo). nessa seara o baiano Baco Exu do Blues está dominando os holofotes e listas do ano com seu Bluesman, disco mais complexo em sonoridades que sua estreia em Esú, mas também com mais autoreferências, o que pode ser um problema no futuro (até quando se sustenta um universo umbigo?). vale também destacar a malandragem mineira de Djonga em O Menino que Queria Ser Deus, a psicodelia futurista de Edgar em Ultrassom (produzido por Pupillo), as jovens misturas do grupo capixaba Solveris em Vida Clássica e a ousadia conceitual e produção esmerada do veterano Marcelo D2 em Amar é Para os Fortes.


foto de João Wainer na capa de Bluesman de Baco Exu do Blues

e tem medalhões também. Caetano convocou os filhos Moreno, Zeca e Tom Veloso para uma série de shows e daí surgiu o belíssimo Ofertório, cujo repertório costura habilmente produções dos filhos com alguns clássicos do pai. tal qual Caetano, Elza Soares continua cercada de outras gerações (mais novas, claro) e interesse afiado no presente, daí que seu mais recente Deus é Mulher pode não ter o peso e a surpresa do antecessor A Mulher do Fim do Mundo, mas Elza tem o que dizer e cantar e muita força em tudo que faz. e não é que Erasmo Carlos fez praticamente o mesmo no belo Amor é Isso. sob produção de Pupillo, o Tremendão se reuniu a outras gerações tanto nas composições quanto em participações [Emicida, Marcelo Camelo, Nando Reis, Marisa Monte, etc], mas todos e todas lidando com o romantismo gigante gentil que é a sua marca. nesse bloco, menção honrosa para o excelente Jah-Van - Djavan Goes Jamaica, produção de BiD e Fernando Nunes que pegou parte do cancioneiro de Djavan e injetou reggaes, skas e dubs com auxílio de figuras como Criolo, Fernanda Abreu, Arnaldo Antunes, Rincon Sapiência, Zeca Baleiro, Black Alien, Ivete Sangalo e Seu Jorge.



da música popular brasileira ao pop propriamente dito é um pulo e aqui vale destacar o finíssimo pagodão eletrônico soul do baiano ÀTTØØXXÁ em Luvbox, o pancadão veloz do Heavy Baile em Carne de Pescoço e as diversas faces do pop brasileiro de Iza em Dona de Mim e Pabblo Vittar em Não Para Não (que mesmo mais estudado e menos espontâneo que o anterior, Vai Passar Mal, é bem acima da média).



chegando ao fim dos destaques, é a hora dos instrumentais. 2018 trouxe mais um disco potente do grupo paulistano Bixiga 70 em Quebra Cabeça, o retorno das experimentações dos pernambucanos d’A Banda de Joseph Tourton em A Banda de Joseph Tourton e a diversão multigênero do projeto The Universal Mauricio Orchestra, que reuniu pela primeira vez uma ruma de Mauricios (tem Mauricio Pereira e Mauricio Fleury, do Bixiga 70, e ainda Mauricio Badê, Mauricio Bussab, Mauricio Tagliari e Mauricio Takara).


fechando com chave de ouro os destaques da lista, dois discos “infantis” muito especiais: Guitarrada para Bebês, uma produção do guitarrista Félix Robatto (La Pupuña e Gaby Amarantos) que refaz hits paraenses em tom doce de caixa de música, e Iaiá e Os Erês, no qual Iara Rennó cria todo um mundo mágico com influências negras e indígenas, participações de Moreno Veloso, Andreia Dias e Luz Marina, e canções feitas em parcerias com crianças.



segue então a lista completa e em ordem alfabética com links para os discos inteiros no Spotify ou YouTube.

A Banda de Joseph Tourton - A Banda de Joseph Tourton
A Banda dos Corações Partidos - Desamor
Alice Caymmi - Alice
André Abujamra - Omindá
Anelis Assumpção - Taurina
Arnaldo Antunes - RSTUVXZ
ÀTTØØXXÁ - Luvbox
Baco Exu do Blues - Bluesman
Bixiga 70 - Quebra Cabeça
BK' - Gigantes
Cacá Machado - Sibilina
Caetano, Moreno, Zeca e Tom Veloso - Ofertório [Ao Vivo]
Café Preto - Oferenda
Carne Doce - Tônus
Cordel do Fogo Encantado - Viagem ao Coração do Sol
Daniel Groove - Levante
Diomedes Chinaski - Comunista Rico
Drik Barbosa - Espelho
Duda Beat - Sinto Muito
Edgar - Ultrassom
Elza Soares - Deus é Mulher
Erasmo Carlos - Amor é Isso
Félix Robatto - Guitarrada para Bebês
Gal Costa - A Pele do Futuro
Gilberto Gil - OKOKOK
Gui Amabis - Miopia
Heavy Baile - Carne de Pescoço
Iara Rennó - Iaiá e Os Erês
Illy - Vôo Longe
Inquérito - Tungstênio
Juliano Gauche - Afastamento
Karol Conká - Ambulante           
Kassin - Relax
Laura Lavieri - Desastre Solar
Luiza Lian - Azul Moderno
Mahmundi - Para Dias Ruins
Marcelo Cabral - Motor
Maria Beraldo - Cavala
Mauricio Pereira - Outono no Sudeste
Mestre Anderson Miguel - Sonorosa
Mundo Livre SA - Dança dos Não Famosos
Pabblo Vittar - Não Para Não
Quartabê - Lição #2: Dorival
Raphão Alaafin - A Gosto
Rodrigo Campos - 9 Sambas
Romulo Fróes - O Disco das Horas
Saulo Duarte - Avante Delírio
SDDS - SDDS
Silva - Brasileiro
Solveris - Vida Clássica
Tatá Aeroplano - Alma de Gato
The Universal Mauricio Orchestra - The Universal Mauricio Orchestra
Totonho e os Cabra - Samba Luzia Gorda
Verônica Ferriani - Aquário
Wado - Precariado

Um comentário:

Clipping Path disse...

Thank you so much for the detailed article.Thanks again.