quarta-feira, 24 de junho de 2009

tirando sons do ar

fechei um ciclo, digamos assim. em março assisti moog, um documentário sobre robert moog, o inventor do célebre sintetizador. e aí, ontem, vi theremin - an electronic odyssey (1994) que trata de lev sergeivich termen (1896-1993), criador, no final da década de 1920, daquele instrumento maluco que se toca sem chegar perto, uma espécie de avô-pai de toda parafernália eletrônica que se espalhou pelo mundo a partir dos anos 1960 (moog, que é um dos entrevistados do filme, começou sua carreira construindo theremins).

lev termen, ou león theremin, em ação

theremin
, o filme, é o único trabalho de direção do ator steven m. martin (não confundir com o comediante steve martin). bem realizado, repleto de boas entrevistas e muitas cenas de arquivo, o longa acaba derrapando em detalhes importantes: falta de legendas para identificar pessoas e datas, além de alguns buracos na complexa história desse russo maluco.

nascido entre os últimos suspiros da rússia czarista, theremin começou a trabalhar cedo, chegou a apresentar seus primeiros inventos para o camarada lenin em 1922. cinco anos depois aportou nos estados unidos, apresentou-se no carnegie hall, criou outros instrumentos, montou estúdio-ateliê e fez importantes amizades que garantiram boa divulgação para seu estranho instrumento que "tirava sons do ar" (uma dessas amizades foi a de clara rockmore (1911-1998), personagem importante no filme). mas aí o russo pirou em lavinia williams, primeira bailarina do american negro ballet, e eles se casaram. imagine o caos nos estados unidos na década de 1930: um "comunista" branco e estrangeiro casado com uma negra. o desfecho é inusitado, pois em 1938 theremin sumiu. uns dizem que foi sequestrado pela kgb e levado de volta para a união soviética. outros afirmam que ele fugiu por questões financeiras. certo é que ele voltou e passou 7 anos preso para depois ser contratado como funcionário da kgb. theremin passou o resto da vida na união soviética, casou pela terceira vez, foi pai de duas meninas, e só depois da queda do muro conseguiu sair para receber homenagens na europa e nos estados unidos, onde reencontrou com a amiga rockmore após muitas décadas (cena que encerra bem o filme). história misteriosa no melhor estilo soviético de silêncios opressores.


a cena acima é de 1953 e seu protagonista é samuel hoffman, o theremista de hollywood. é ele que toca o instrumento nas trilhas pioneiras que miklos rozsa fez para
quando fala o coração (1945), de alfred hitchcock, e farrapo humano (1945), de billy wilder. nos dois filmes, o som do theremin serviu para ilustrar confusões mentais e alucinações. pouco anos depois, a partir do clássico o dia em que a terra parou (1951) de robert wise (trilha de bernard herrmann), o instrumento virou sinônimo de ficção científica. outros exemplos são monstro do ártico (1951) e veio do espaço (1953). aí, uma molecada que cresceu vendo esses filmes entrou para o rock'n'roll na década seguinte e tiveram o estalo de usar o instrumento. gente como brian wilson e seus beach boys ("good vibrations", "i just wasn't made for these times", etc.) e o led zeppelin ("whole lotta love", the songs remais the same, etc.). agora, de cabeça, lembro também de rita lee e fernanda takai tocando o instrumento aqui no brasil.



essa versão genial de "crazy" do gnarls barkley é de um theremista chamado randy george. e pra encerrar o post, achei theremin - an electronic odyssey na excelente torrenteca do blog república de fiume. e é possível comprar uma versão 100% nacional (?) do instrumento no site da rds theremin por 750 paus + frete (queria muito, mas por esse preço...).

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