NO NOSSO TEMPO É QUE É MELHOR
Quando comecei a escrever a coluna Ultrapop, um ano e meio
atrás, tinha um propósito, uma espécie de missão: falar de cultura popular
brasileira no século 21. E popular com P maiúsculo em um tempo de muitas e
altas velocidades, novas liberdades e velhos moralismos. Falar e refletir sobre
coisas acontecendo na música, TV, internet, cinema, shows e artes plásticas.
Sobre descentralização, pirataria, humor, religião, drogas, violência policial,
política e a cidade (brasileira). Sem julgamento de valores (na medida do
possível), preconceitos e nem falsas polêmicas. Respeitando, sendo curioso,
aquela onda toda.
Uma coisa em especial me ajudou nessa trajetória: nunca fui
um nostálgico, sempre achei o presente um negócio muito interessante de se ver
e viver. Afinal é no presente (numa eterna troca com o passado) que o futuro dá
seus primeiros passos. Daí que colunas que fiz nesse período vivi e escrevi sobre culturas e
comportamentos brasileiros em presente contínuo. E gostando muito do que via e
ouvia. Gostando até do que não gostava porque dava pano pra manga de pensar.
Acompanho mais de perto música e internet, logo depois
quadrinhos, cinema e TV, e acredito realmente que o Brasil vive um momento
particularmente rico (e isso já tem um tempo, desde meados dos anos 2000, mais
ou menos). A produção é grande, variada, autogerida, cada vez mais sofisticada
e independente de grandes esquemas. Nesse atual estado das coisas é eletrizante
assistir a verdades universais caindo por terra junto com monopólios de
comunicação ou então ver o ocaso dos formadores de opinião, toda essa turma que
não está entendendo o que diabos acontece no Brasil e no mundo desse início de
século 21.
Acho que consegui, nas 45 colunas que fiz nesse período
(essa é a 46ª porque acabar em 45 é a maior zica), dar uma pequena contribuição
para se compreender o que sucede por essas bandas. Claro que sou inveterado
otimista e um apaixonado pelo Brasil (inclusive por seus defeitos e
contradições), o que deixa marcas no meu jeito de entender as coisas, mas
sempre tentei olhar para os muitos lados de um evento/acontecimento/fenômeno.
E assim minha trajetória aqui no Ultrapop do Yahoo! chega ao
fim. Infelizmente por um lado, pois tive aqui total liberdade para escrever do
jeito que quis e sobre o que bem entendesse (grande abraço para Michel Blanco e
Rafael Alvez), além de participar de uma invejável equipe de colunistas (um
salve pros manos Walter Hupsel, Pedro Alexandre Sanches, Dudu Tsuda, Fernando
Vives, Celso Athayde e Lúcio Flávio Pinto, e pras minas Carol Patrocínio,
Raquel Rolnik e Nega Gizza). Mas felizmente por outro, já que a minha saída é
por motivos profissionais. No mais,
os cãos ladram e o tempo ruge. Simbora que tem muita coisa bacana acontecendo,
muita história pra contar.
p.s.: lá no meu blog
pessoal, o Esforçado,
estão todos os textos que publiquei no Yahoo, mas gostaria de deixar aqui
o link direto para os que melhor resumem essa ótima experiência que tive como
colunista. São eles “Não tem
papo, não tem alô” (uma defesa do funk carioca), “Bastardo
é a mãe” (sobre atuais misturas de gêneros na música brasileira), “Pra que
discutir com a madame?” (sobre o programa Mulheres Ricas), “BBB no
dos outros é refresco”, “Custe o
que custar, uma ova!” (uma carta de fim de namoro com o CQC), “Jesus não
tem dentes no país dos banguelas” (de como não misturar religião com
realidade), “Meu fraco
é subcelebridade”, “Miss de
tudo um pouco”, “Vira-lata,
um complexo”, “Arte que
desmancha no ar”, “Vamos
gozar outra vez?” (pela volta do espírito da pornochanchada no cinema
brasileiro), “A gente
não quer só comida” (sobre o programa Larica
Total), “Faça você
mesmo” (na internet, esse mundo mágico), “Quem tem
medo de Carlinhos Brown?” e a reportagem especial “A
serviço secreto de sua majestade, o sabiá” (sobre a visita do Príncipe
Harry a um haras paulista).