COMÉDIA MTV E O HUMOR COMO LENTE DE AUMENTO
Já virou lugar comum falar da genialidade de Marcelo Adnet,
Dani Calabresa, Tatá Werneck e o resto da turma do Comédia MTV. Além de serem seus próprios roteiristas, os
integrantes do programa também são ótimos atores (principalmente o trio citado
acima) e Adnet ainda leva uma vantagem por criar e cantar músicas (todas em
parceria com o produtor Arthur
Joly). Mas isso não é o bastante para explicar porque eles estão anos-luz à
distância do humor de seus contemporâneos CQC
e Pânico na Band, por exemplo.
O Pânico é aquela
coisa: humor barulhento, adolescente, popular, um cruzamento de Zorra Total com
Luciano Huck. Ninguém é particularmente bom no que faz – o Ceará, a Sabrina
Sato e o Polvilho, vá lá -, mas o riso acaba acontecendo no
encontro-choque-surpresa de anônimos e famosos com os personagens malucos do
programas. No mais, a tosquice e a imaturidade são assumidas, sinceras.
Já o CQC se vendeu de uma forma no início e foi mostrando
sua verdadeira cara nos anos seguintes (tratei especificamente dessa mudança em
outro texto aqui para o Yahoo!, “Custe o
que custar, uma ova”). O que parecia ser adulto foi se mostrando moralista,
vazio, bajulador e, o pior de tudo, sem graça. Para se defenderem das
crescentes críticas a seus escorregões cômicos adotaram o discurso de que lutam
pela “liberdade de expressão” e que estão contra esse “politicamente correto
que grassa por aí”. Mesmo papinho de comediantes de stand-up medíocres, os
proibidões-coxinhas, que ganham manchete por motivos errados (falei disso em “Cê tá
rindo do quê?”).
O humor do Comédia MTV
é, em tudo, mais anárquico e surreal que o Pânico
e muito mais crítico e inteligente que o CQC.
Nenhum deles ironiza “gente da alta” ou até parte de seu próprio público como a
turma liderada por Adnet em quadros impagáveis como o do “Eleitor Elitista” ou do “Homem
Área VIP”. Nem conseguem ser ao mesmo tempo sofisticados e esculachados
como nos quadros “Gaiola das Cabeçudas”,
“Proibidão Acústico” e o memorável “Tia
Creuza”. E muito menos possuem a acidez do “Jogador Sincero”, “Adnaldo Jabor”, “Igreja Nossa Senhora do Off Line” ou do
“Indiretas Já” (vídeo abaixo).
Claro que o Comédia
MTV não é pioneiro nisso, afinal o saudoso TV Pirata vivia dessa mistura no final dos anos 1980, e hoje em
dia temos o Larica Total improvisando muito
solto (não coincidentemente, Adnet chegou a fazer teste para o papel assumido
por Paulo Tiefenthaler). É que todos esses profissionais do humor sabem que
para fazer rir não é preciso manipular ou humilhar, basta olhar com atenção, e
bem de perto, alguma coisa, qualquer coisa. Daí fica fácil perceber que nada
faz sentido e o jeito é rir mesmo, rir bastante (inclusive de si próprio).
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