SAUDADE DE CINEMA DE RUA
Os primeiros filmes que vi foram em cinemas de rua, mais
precisamente no Centro de Fortaleza. Dá-lhe E.T.
– O Extraterrestre, Superman III,
Loucademia de Polícia e Trapalhões,
muitos Trapalhões. O São Luís ainda existe, mas outros como o Diogo passaram
dessa pra pior (shoppings, igrejas ou a pura e simples demolição). Depois
vieram os do Rio de Janeiro. Vários na Praça Saens Peña, perto de onde morava,
outros tantos no Centro e alguns poucos na Zona Sul. E tome Guerreiros de Fogo, Remo – Desarmando e Perigoso, Por
Incrível que Pareça, Ran e Brás Cubas. Depois ainda vieram Ribeirão
Preto, Campinas e, finalmente, São Paulo. Muitos e muitos filmes em cinemas de
rua, sempre.
Tinha algo de mágico nesse movimento de sair da realidade (a
cidade) para entrar na fantasia (o cinema) e depois voltar com uma montanha de
imagens e assuntos na cabeça. Sempre achei que cinema, literatura, quadrinhos,
música, cultura de uma forma geral, fazem a gente viver mais ou, pelo menos,
ter mais experiências, conhecimentos e paixões. Cultura fica na gente, por
baixo da pele, nos olhos. E os cinemas de rua fazem com que essas sensações se
relacionem com a cidade. Mas lá pelo final dos anos 1980 os shoppings começaram
a ganhar terreno.
Primeiro como modernidade e status provinciano, e depois
como refúgio de classes médias e elites contra uma cidade que lhes parecia cada
vez mais assustadora (é o medo do outro, do diferente, do Brasil, como se pode
ver no longa O Som ao Redor, assunto
que tratei em “Nem todos
estão surdos”). Daí que os cinemas de rua foram sendo abandonados em nome
de uma bolha de segurança e vitimados pela sempre esperta especulação
imobiliária.
Mas não adianta chorar pelo fotograma derramado, pois os
cinemas de shopping vieram pra ficar e ficou muito caro manter um cinema de
rua. Talvez se houvessem incentivos públicos como isenção de IPTU, a coisa
melhorasse um pouco, afinal qualquer equipamento cultural acaba movimentando a
região que o cerca e isso é ótimo pra cidade.
No entanto tive sensações conflitantes quando soube que Juca
Ferreira, Secretário de Cultura da nova gestão da Prefeitura de São Paulo, planeja
comprar o prédio do falecido Cine Belas Artes (esquina da Consolação com a
Paulista) para transformá-lo em centro cultural. Quer dizer, todo novo centro
cultural é bem vindo, onde quer que seja, e a região agradeceria – bem como os
que vivem, trabalham ou passam por ela – que lhe dessem uma chance contra a
degradação urbana.
Por outro lado, o Belas Artes não tem nada de especial, a
não ser, claro, a relação afetiva com seu frequentadores. Mas prédios também
possuem seu ciclo de vida, é normal. Então, não seria o caso de usar esse
dinheiro para criar equipamentos culturais em áreas menos favorecidas, como
sugere Raul Juste Lores em “O
elitismo da ‘compra’ do Belas Artes”? Ou que se pensem em políticas
culturais melhores e mais abrangentes como diz Ricardo Queiroz em “A polêmica do
Belas Artes”?
De uma forma ou de outra tem que ter pipoqueiro, boteco
perto, esses gêneros de primeira necessidade de uma cidade feliz.
Nenhum comentário:
Postar um comentário