AS CHARGES E A DOR
A tragédia ocorrida na madrugada do último domingo em Santa
Maria, Rio Grande do Sul, é maior do que julga nossa filosofia chué. Não fazemos
ideia de seus desdobramentos e do tamanho do vazio nos corações de inúmeras
famílias da cidade e região. Mas não quero falar aqui da tragédia em si e de
seus responsáveis, muito menos da dor, afinal o companheiro de Yahoo!, Walter Hupsel, já o fez muito
bem no texto “Impossível”.
O lance aqui é como um acontecimento dessa magnitude foi retratado
pelas charges de jornal, mídia das mais acessíveis e sintéticas dentro da
imprensa. Dependendo do assunto a charge pode ser bem humorada ou reflexiva,
mas em ambos os casos precisa ser, necessariamente, crítica. Santa Maria é
assunto dos mais delicados – mais de 200 pessoas morreram, todos jovens –,
portanto aqui o humor não tem lugar.
O primeiro a surgir veio assinado por Carlos Latuff, um reconhecido
exemplar de chargista-ativista. Ele não perdeu tempo e foi logo mirando seus
traços para o jeito sensacionalista e desumano com que a imprensa televisiva
trata a notícia e as pessoas. Na mosca.
Depois apareceu outro colega aqui do Yahoo!, o Alpino,
que delicadamente resumiu a dor de todos nessa imagem de um gaúcho em lágrimas.
E não precisou dizer, nem mostrar mais nada.
Então veio Chico Caruso no jornal O Globo e logo depois no Blog
do Noblat. Que Noblat é um dos colunistas mais irresponsáveis da imprensa
brasileira já é sabido, afinal seu blog é quase todo feito com material de
outras pessoas e veículos, e geralmente confunde fofoca, ou sonhos pessoais,
com notícia. Mas é sujeito fino que gosta de jazz e música clássica, portanto
era de se esperar que tivesse sensibilidade. Qual o quê?! Republicou com
galhardia essa mancha no currículo do veterano Caruso, uma tentativa rastaquera
de associar a presidenta Dilma com a tragédia. O horror, o horror.
Por fim, na Folha de S. Paulo de hoje, Jean Galvão foi o mais
feliz de todos. Marcou o Brasil no lugar onde está Santa Maria no mapa do Rio
Grande do Sul. Sem texto, sem rostos, só sentimento e solidariedade, material
que tem andado em falta nesses tempos cínicos.
Atualização 1: depois que esse texto foi publicado fiquei sabendo no Facebook que o chargista Marco Aurélio, e logo no gaúcho Zero Hora, cometeu uma das leituras mais cretinas do incidente ao colocar os jovens mortos na entrada de uma universidade celestial. Não dá para entender como os editores deixam passar isso (detalhe, poucos dias depois, Marco Aurélio foi afastado do jornal).
atualização 2: dias depois que esse texto foi publicado no yahoo apareceu, no facebook, essa charge do sempre ótimo guazzelli. simples e contundente.
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