quarta-feira, 23 de outubro de 2013

fala baixinho só pra eu ouvir

já faz um bom tempo que fiz esse texto a pedido da amiga carol patrocínio, editora de revistas do grupo dasa lá na new content. uma das coisas boas de ser jornalista frila é pode passear por assuntos variados e o desafio desse texto, especificamente, foi o de ser didático e interessante ao mesmo tempo. acho que deu certo e, como sempre, o texto aqui é a minha versão original, sem revisão e edição.


AO PÉ DO OUVIDO

Em tempos de MP3, saiba como se prevenir dos excessos de barulhos e do mau uso de fones

Impossível viver em qualquer cidade, grande, média ou pequena, sem ser bombardeado diariamente por estímulos sonoros dos mais variados: buzinas, carros de som, promoções em lojas populares anunciadas por megafones, sirenes, bate estacas e por aí vai. Mas esses barulhos são externos e apenas parte do problema. E os que criamos para nós mesmos a partir do uso de aparelhos de entretenimento portáteis colados nos ouvidos?

Médicos otorrinos vêm alertando que a diversão em altos brados proporcionada hoje por iPhones, smartphones, tablets e iPads podem facilmente criar sérios problemas auditivos em seus usuários no futuro. Até mesmo perda de audição permanente. “A maneira como esses aparelhos têm sido usados, sem controle e informação, pode realmente criar uma geração de futuros surdos”, afirma sem meias palavras o Dr. Ricardo Ferreira Bento, professor titular de Otorrinolaringologia da Faculdade de Medicina da USP.


Entre tantos cuidados com a saúde necessários nos dias de hoje, o auditivo parece de menos importância. Porém, segundo relatório divulgado em março deste ano pela Organização Mundial da Saúde (OMS) cerca de 360 milhões de pessoas no mundo sofrem de perda de audição, sendo que aproximadamente 15 milhões apenas no Brasil (uma das três deficiências mais comuns no país). É uma importante questão de saúde pública, certamente, mas os especialistas também concordam que é muito fácil se prevenir. “Os fones de ouvido podem ser usados desde que se escute em um nível sonoro médio de aproximadamente 85 db [decibéis]. Até esse volume é possível usar pelo tempo que quiser. Acima disso o tempo vai decrescendo conforme o nível de exposição. A 100 db, por exemplo, tem que ser no máximo 30 minutos por dia”.

Esse limite de decibéis mencionado pelo Dr. Ricardo equivale a ouvir músicas (ou filmes, programas de TV, etc.) com o volume até a metade. Também é importante nunca ouvir o som tão alto a ponto de não saber o que está acontecendo ao seu redor e jamais dormir com o fone no ouvido. Outra recomendação é que se dê preferência aos modelos supra aurais por serem menos nocivos que os fones de inserção (aqueles que entram no canal auditivo). E, claro, fazer um exame de audiometria pelo menos uma vez por ano.


A regularidade do exame é importante porque a perda auditiva é um problema progressivo e que só é percebido a médio/longo prazo. “Existem cinco sintomas básicos associados a patologias do ouvido. A perda auditiva é um deles, sendo que no início a pessoa passa a ter certa dificuldade de entender as palavras em ambientes com ruído. Mas também é preciso estar atento a zumbidos, tonturas, dores ou sensação de ouvido cheio”.

Todo esse cuidado preventivo poderia ser facilitado se houvesse uma lei no Brasil que regulamentasse o limite máximo de decibéis transmitidos pelos fones (existem aparelhos que chegam a 130 db). O limite europeu é de 100 db, considerado razoável pelos especialistas daqui. “No entanto, um problema adicional é que nem todos os aparelhos têm ajustes iguais, portanto o usuário deve consultar o manual para ver qual o nível de volume. Muitos equivalem ao som de uma turbina de avião em decolagem ou de uma britadeira e, consequentemente, são extremamente prejudiciais ao ouvido”.


Ainda no quesito que mistura entretenimento e volume alto, outro acontecimento preocupa os otorrinos: as baladas em casas noturnas. Tanto os usuários quanto os funcionários desses lugares estão sujeitos, sem perceber, a uma longa e constante agressão sonora. A solução pode parecer frustrante, mas segundo o Dr. Ricardo Ferreira, “não há como se preservar nesses casos. Com o tempo a pessoa que frequenta muito essas baladas terá problema de audição e/ou zumbido. A única medida preventiva é usar protetor auricular nos ouvidos”.

Enquanto regulamentações e controles de gerações de ruídos em equipamentos e ambientes não são postos em prática, o jeito é se cuidar por conta própria para deixar tudo soando bem aos ouvidos.

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