FIQUE À VONTADE (MAIS
UMA VEZ)
O palco é um útero. O estúdio é um útero. Coisas são
gestadas nesses espaços: vida e metáforas da vida. Animado e prolixo, o ator
Zécarlos Machado está ensaiando um monólogo em um teatro do Centro de São Paulo,
mas abre um sorriso largo quando o assunto é Sessão de Terapia, série que protagoniza e cuja segunda temporada
acabou de ser gravada há poucas semanas. “Tem coisas que você quer que acabem
logo. E tem outras que você quer que voltem por vários motivos. Voltar nesse
caso foi muito consagrador porque considero um material dramático da maior
qualidade e acho que fiquei devendo na primeira temporada. É uma questão
pessoal minha, não é nada grave, mas senti que poderia ter ido mais”, e o ator
relembra a agenda puxada de gravações no ano passado, principalmente para ele
que, como o terapeuta Theo Cecatto, está presente em todos os episódios.
O público, obviamente, não sentiu nada disso e a primeira
temporada foi um sucesso muito maior que a expectativa de todos e atraiu cerca
de 9,5 milhões de pessoas ao GNT considerando todas as exibições da série
dirigida por Selton Mello, que também está de volta no comando. “É um trabalho
muito estimulante e uma escola pra mim como diretor. Estou saltando alguns
degraus. Porque em cinema você faz um filme depois fica cinco anos pra
conseguir dinheiro pra fazer outro e aí vai perdendo a mão. No Sessão de Terapia tenho uma sala pra
contar histórias, não tenho pra onde fugir, não tenho flashback. Então é um
exercício de concentração, de tom, de ritmo, de linguagem, é uma coisa extraordinária”,
explica o ator que recentemente se consagrou também como diretor de longas
premiados como Feliz Natal e O Palhaço, e que na série dirigiu todos
os 80 episódios das duas temporadas.
Falando especificamente da série, Mello diz que existe um
salto de cerca de seis meses entre as temporadas, tempo o bastante para Dr.
Theo se separar, mudar de casa e atender novos pacientes. Um deles é o garoto
Daniel (Derick Lecoufle), filho do agora ex-casal João (André Frateschi) e Ana
(Mariana Lima). Estreante como ator, Lecoufle encantou a todos no set com sua
tranquila naturalidade. “Só tinha feito duas figurações em publicidade, aí fui
chamado para um teste e passei depois de muitas etapas. Quando vi que era do
Selton [Mello] achei que era comédia, mas minha mãe disse que não, que era um
negócio bem tenso [risos]”, disse o garoto de 10 anos que antes só tinha
interesse por música, mas que gostou muito dessa coisa de atuar, de ser outro.
“Meus pais não são separados, mas tenho muitos amigos com pais separados, então
entendo o Daniel e ele é gente boa, é um garoto incrível”, completa.
Já André Frateschi, que volta ao papel de João, comemora a
“sorte de poder aprofundar um personagem, fato que não é comum na TV”. Mas como
acabou de se tornar pai na vida real, o ator viu no texto algumas questões
perturbadoras. “Foi difícil ver o filho ser usado como uma peça no jogo deles,
e de um jeito irresponsável, pra atingir um ao outro. O moleque está no meio
dessa roda viva e começa a mostrar que essas coisas estão lhe afetando”. No
entanto também vê alguns avanços no seu personagem, tais como uma relação menos
hostil, menos refratária, com o Dr. Theo, e uma interessante troca de papéis
com a ex-mulher. “Minha sensação nessa segunda temporada é que o João aprendeu
a usar o Theo pra se ajudar e que conseguiu resolver o ciúme que tinha da Ana,
que se cansou desse jogo, dessa relação atormentada”.
Em comum a todos os depoimentos destes envolvidos na série
foi possível notar como as questões levantadas pelos personagens ressoavam na
vida de cada um. “É um trabalho lindo, sabe? Porque é a vida, porque somos nós
e nossas fraquezas, sonhos, desejos, desejos não concluídos, são várias
qualidades de grandes e pequenos dramas humanos. E em todos os personagens você
vê a terapia agindo. É, de certa forma, uma homenagem a profissão do terapeuta.
Eu, por exemplo, faço terapia e acho importantíssimo, mas foi muito
interessante ter retornos de espectadores que resolveram coisas pessoais só de
assistir a série. Sessão de Terapia é
uma tremenda viagem emocional, e é um trabalho pra quem não tem pressa, pra
quem faz e pra quem assiste”, diz Selton Mello que, no set de filmagens, repetia
um mântrico “Suavidade em tudo” tanto para os atores quanto para a equipe
técnica.
Para o expansivo Zécarlos Machado, integrante do célebre
grupo teatral Tapa, essa história de “suavidade” foi um desafio a mais. “O
terapeuta tem uma chave diferente do ator. Um só ouve, enquanto outro só fala.
Então precisei de menos tensão e mais atenção para trabalhar essa capacidade de
ouvir o outro, enquanto aguçava minha própria investigação sobre a alma humana.
Afinal, ver o outro é ver a si mesmo”, relembra o ator para logo depois
enumerar algumas leituras que o acompanharam durante as filmagens (Carl Jung,
Sigmund Freud e o dramaturgo August Strindberg).
“O Zécarlos é realmente muito diferente do Theo. Foi um
trabalho de contenção e ele detonou! Porque são os outros que solam e ele fica
lá ouvindo, mas você percebe um ser delirante através dos olhos dele. É aquela
coisa: se atuar muito vira um ator sentado no sofá falando, se não atuar nada
vira confissão e aí não é ficção. É um tom muito perigoso, um equilíbrio muito
delicado, e a gente encontrou essa cara para a série”, aí é novamente Selton
Mello, um dos maiores entusiastas que Sessão
de Terapia tenha mais temporadas no Brasil. A versão original israelense
teve apenas duas e a norte-americana, mais conhecida, acabou tendo uma
terceira. “No Brasil, se bobear, podem rolar cinco, seis temporadas, porque a
gente aqui tem o hábito de assistir dramaturgia diariamente na TV por causa das
novelas”.
No que depender de Selton, Zécarlos e do resto da equipe,
incluindo a produtora Moonshot de Roberto D’Ávila que trouxe a série para o
país, Sessão de Terapia terá uma vida
longa (a estreia da segunda temporada será acompanhada do lançamento em DVD da
primeira e de um livro escrito pela roteirista-chefe Jaqueline Vargas).
“Todo mundo percebeu alguma coisa especial nesse trabalho,
alguma coisa pra vida”, conclui Zécarlos diante dessa fascinante e assustadora
matéria prima que é o ser humano.
FREUD EXPLICA?
Saiba quem são os novos pacientes do Dr. Theo, lembrando que
às sextas ele continua sendo analisado pela sua terapeuta, Dora (Selma Egrei)
SEGUNDA
Carol (Bianca Comparato)
Jovem universitária de 25 anos, Carol procura terapia após
descobrir que está com câncer. Ela entra em estado de negação da doença e chega
a se recusar a dar início a dolorosa, porém necessária, quimioterapia. A atriz
Bianca Comparato raspou a cabeça para dar mais veracidade ao personagem.
TERÇA
Otávio (Cláudio Cavalcanti)
O empresário de 70 anos nunca fez terapia e chega ao
consultório do Dr. Theo com o objetivo de resolver rapidamente um mal estar e
umas dores no peito que vem sentindo. No decorrer das conversas, Otávio
descobre que está sofrendo de ataques de ansiedade e que a saída da sua filha
caçula de casa tem mais influência nisso do que imagina.
QUARTA
Paula (Adriana Lessa)
Aos 41, Paula é uma advogada bem sucedida, mas sua vida dá
um nó quando decide ser mãe, mas descobre que seus óvulos estão ficando velhos
e que seu marido, que já tem filhos do primeiro casamento, não está lhe dando
apoio. Um aborto no passado e um pai dominador podem ser as chaves para Theo
entender mais sobre Paula.
QUINTA
Daniel (Derick Lecoufle)
Após a separação dos pais interpretados por André Frateschi
e Mariana Lima, que estiveram em terapia na primeira temporada, o estudante de
10 anos se vê em crise e se torna um comedor compulsivo. Super protegido pela
mãe e cobrado pelo pai, Daniel encontra em Theo tanto um porto seguro quanto
uma forma de se entender com os pais.
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