sábado, 30 de dezembro de 2017

65 + 45 discos brasileiros de 2017

acabei demorando mais do que esperava pra fechar as retrospectivas musicais brasileiras [as gringas, de discos e músicas, saíram mais rapidamente]. muita coisa como sempre, e querendo ser cuidadoso com tudo que ouvi e gostei e me fez pensar e cantar. mas taí, os discos brasileiros de 2017 segundo o esforçado. a de músicas já está pronta [só falta o texto rsrs].

os raps, sempre - e o rap brasileiro continua numa bueníssima onda com beats, misturas, assuntos e sotaques dos mais diversos. mas quatro discos se destacam entre os destaques: galanga livre do paulistano rincon sapiência, esú do baiano baco exu do blues, roteiro pra ainouz vol. 3 do cearense don l e eletrocardiograma da brasiliense flora matos. rincon e baco, cada um a seu modo, dialogam fortemente com a cultura e a história afro-brasileira, e a violência da opressão e preconceito, e o orgulho das raízes, do amor e da beleza, e o poder dos batuques e beats. já don l e flora, mais hedonistas, tratam de rolês mais pessoais e vão fundo nisso embalados por ótimas produções e excelentes rimas e flows.

rincon, baco, don, flora 
e o rap brasileiro em tempos de glória

só que no mundo rap dessa lista tem ainda a força da experiência no retorno do rzo [quem tá no jogo traz ainda participações de sombra, rael, criolo e negra li] e de mais um trabalho firme e caudaloso de rodrigo ogi [pé no chão], além do diálogo brasil X portugal no belo encontro de emicida, rael, valete e capicua [língua franca] e dos elétricos álbuns de estreia do desbocado djonga [heresia], do raivoso coruja bc1 [no dia dos nossos] e do rimas & melodias, coletivo de minas rappers que já possuem sólidas carreiras solo como tássia reis e drik barbosa.

tem ainda o grupo baiano oquadro com mais um disco irrepreensível [nêgo roque], a estreia solo do brasiliense froid no excelente o pior disco do ano, o surpreendente segundo trabalho de nill [regina é ao mesmo tempo doce, tocante e bem humorado], um rico dalasam mais eletrônico e festeiro [balanga raba] e a densidade dos mineiros matéria prima [2 atos, uma interessante parceria com gui amabis] e thiago elniño [a rotina do pombo]. além disso tudo, tem ainda rap nos delicados sambas urbanos de criolo [espiral de ilusão] e na presença de sombra, yzalú e lurdez da luz na ótima estreia do neompbístico [no bom sentido] coletivo rua.

pop, radicalmente - se o disco de estreia do grupo as bahias e a cozinha mineira era ao mesmo tempo teatral, dramático e universitário, no que isso tem de bom e ruim, este segundo trabalho [bixa] vai além como uma deliciosa, tropical e diversa festa autoral muito bem produzida por daniel ganjaman e com ainda melhores arranjos vocais de assucena assucena e raquel virginia. falando em tropicalidades, a estreia do produtor baiano àttøøxxá [#blvckbvng] é um novo caminho de ritmos para o pop nacional, é o pagodão eletrônico no topo. mas nada consegue ser tão desavergonhadamente pop quanto vai passar mal, de pabblo vittar, uma mistura de funk, forró, sertanejo , arrocha, reggae, trap, balada e muita auto estima [logo após anitta, que aparecerá bastante na lista de músicas, pabblo é certamente a grande figura pop do ano].

a maranhense pabblo vittar e o baiano àttøøxxá

instrumentais, majoritariamente - sensacional o que o macaco bong fez com o nirvana em deixa quieto [nevermind, tá ligado?], e lindo o passeio sonoro do duo cæs em santos 3am, e uma delícia de guitarradas em mais um registro de felipe cordeiro com o pai manoel cordeiro em combo cordeiro, e o bandolinista hamilton de holanda encarando com delicadeza o cancioneiro de milton nascimento em casa de bituca [com participações do próprio milton e de alcione], e a sempre atual herança de moacir santos, edu lobo, naná vasconcelos e baden powell tudo misturado em tempo dos mestres de fabiano do nascimento, e o metá metá mais uma vez quebrando tudo na trilha que fez para o grupo corpo [gira tem ainda participação luxuosa de elza soares], e a guitarra sempre instigante de fernando catatau em dois projetos paralelos [tarde, o segundo disco do lamber vision, e praia futuro, feito em parceria com dengue, yury kalil e ilhan ersahin], e o incansável thiago frança abriu e fechou o ano com dois discos curtos, variados e divertidos [chão molhado da roça e bomba, suor e bafo]. destaque especial para o disco de estreia do onça combo, um power trio paraibano que injeta jazz nas tradições musicais indígenas, ibéricas e nordestinas.

os paraibanos porretas do onça combo

cantautoras, intérpretes - e a safra musical brasileira segue alto nível com um punhado de discos de cantoras/compositoras nessa nossa vasta tradição cancioneira: alzira e, uma das preferidas da casa em qualquer tempo, trouxe mais uma beleza rascante, o corte; letícia novaes, metade do saudoso letuce, estreou solo com o eletrônico, noturno e oitentista letrux em noite de climão; xênia frança, uma das vozes do aláfia, também estreou solo com o forte xênia, disco de composições próprias e releituras de figuras como chico césar, antônio carlos & jocafi, luisa maita, verônica ferriani e tiganá santana; tulipa ruiz, acompanhada apenas de gustavo ruiz e stephane san juan, veio intimista, e até relendo algumas músicas do passado, em tu; linn da quebrada entortou o funk em pajubá, disco violentamente conceitual, experimental, sexual e político; luana carvalho mostrou toda a amplitude de sua poesia, sob produção de moreno veloso, nos discos irmãs branco e sul; e ainda teve o balanço de luciana oliveira em deusa do rio niger, as novas bossas de nina becker em acrílico e as múltiplas faces de mallu magalhães em vem.

alzira e, letícia "letrux" novaes e xênia frança

uns grupos, encontros - o excelente grupo paulistano aláfia não brinca em serviço e o terceiro disco deles, sp não é sopa, é mais um tratado sobre balanço, poesia, afrobrasilidades e política; os goianos do boogarins seguem aprimorando psicodelias em seu terceiro disco, lá vem a morte; e os cariocas do amor também experimentam mais e melhor em fodido demais; já os mineiros do pato fu soltaram mais um disco do seu projeto de versões “infantis” para hits nacionais e internacionais, o divertido música de brinquedo 2 [que tem gilberto gil, joão bosco & aldir blanc, raul seixas, raimundos, rita pavone, ricky martin, etc]; e falando em versões, o nação zumbi deu um tempinho nos discos autorais e fez seu primeiro de covers, o excelente radiola nz, vol. 1, que tem tim maia, beatles, david bowie, the specials, marvin gaye, gilberto gil e secos & molhados [com participação de ney matogrosso]; ainda no terreno das interpretações, o trupe chá de boldo lançou o belo verso que tem canções de amigos como alzira e, andré abujamra, negro leo, leo cavalcanti, iara rennó, marcelo segreto, pélico, juliano gauche e tatá aeroplano; e o tatá, aliás, reuniu-se com a amiga e parceira barbara eugênia nos folks delicados de vida ventureira; pra finalizar esse bloco, o surpreendente sambas do absurdo, o encontro de rodrigo campos com juçara marçal, gui amabis, nuno ramos [co-autor das músicas] e albert camus [inspiração do projeto].

os paulistanos/paulistas do aláfia - e olha xênia, novamente - 
e da trupe chá de boldo

uns caras - chico buarque e guilherme arantes, dois medalhões da música popular brasileira lançaram discos bem interessantes [caravanas e flores & cores, respectivamente]; mas outros veteranos se saíram ainda melhor, como foi o caso do gaúcho vitor ramil e seu delicado e milongueiro campos neutrais e o eterno titã paulo miklos com o belíssimo a gente mora no agora [que o colocou em parcerias com emicida, céu, tim bernardes, lurdez da luz, erasmo carlos, guilherme arantes, silva e russo passapusso]; o tim bernardes, por sua vez, deu uma pausa n’o terno pra lançar seu primeiro solo, o folk intimista confessional recomeçar; também são intimistas, e das mais bonitas e diversas formas, os novos discos de dudu tsuda [bicicleta], lucas santanna [modo avião é uma parceria multimídia de lucas com o escritor joão paulo cuenca e o desenhista rafael coutinho], momo [voá] e domenico lancellotti [serra dos órgãos], e as estreias de giovani cidreira [japanese food], lincoln [malvado canto], felipe s [cabeça de felipe] e zé ed; mas certamente os pontos altos desse bloco estão na crueza punk de cortes curtos de kiko dinucci, no lirismo dolorido de batatinha na voz de celso sim [o amor entrou como um raio], no tropicalismo de experimentos grooveados de boca do curumin e em mais uma beleza romântica e torturada, raivosa e sensível, de otto [ottomatopeia].

otto, paulo miklos e curumin

A Espetacular Charanga do França - Chão Molhado da Roça/Bomba, Suor e Bapho
Aláfia - SP Não é Sopa
Alzira E - Corte
As Bahias e a Cozinha Mineira - Bixa
ÀTTØØXXÁ - #BLVCKBVNG
Baco Exu do Blues - Esú
Barbara Eugênia e Tatá Aeroplano - Vida Ventureira
Boogarins - Lá Vem a Morte
Chico Buarque - Caravanas
Coletivo Rua - Coletivo Rua
Combo Cordeiro - Combo Cordeiro
Coruja BC1 - No Dia dos Nossos
Curumin - Boca
Djonga - Heresia
Do Amor - Fodido Demais
Domenico Lancellotti - Serra dos Orgãos
Dudu Tsuda - Bicicleta
Duo Cæs - Santos 3AM
Emicida, Rael, Valete e Capicua - Língua Franca
Fabiano do Nascimento - Tempo dos Mestres
Felipe S - Cabeça de Felipe
Fernando Catatau, Dengue, Yury Kalil e Ilhan Ersahin - Praia Futuro
Flora Matos - Eletrocardiograma
Giovani Cidreira - Japanese Food
Guilherme Arantes - Flores & Cores
Hamilton de Holanda - Casa de Bituca
Kiko Dinucci - Cortes Curtos
Lamber Vision - Tarde
Lincoln - Malvado Canto
Linn da Quebrada - Pajubá
Luana Carvalho - Branco/Sul
Lucas Santanna - Modo Avião
Luciana Oliveira - Deusa do Rio Niger
Macaco Bong - Deixa Quieto
Mallu Magalhães - Vem
Matéria Prima - 2 Atos
Metá Metá - Gira
Momo - Voá
Nação Zumbi - Radiola NZ, Vol. 1
Nina Becker - Acrílico
niLL - Regina
Onça Combo - Onça Combo
OQuadro - Nêgo Roque
Otto - Ottomatopeia
Pabblo Vitar - Vai Passar Mal
Paulo Miklos - A Gente Mora no Agora
Rico Dalasam - Balanga Raba EP
Rimas & Melodias - Rimas & Melodias
Rincon Sapiência - Galanga Livre
Rodrigo Campos, Juçara Marçal e Gui Amabis - Sambas do Absurdo
Rodrigo Ogi - Pé no Chão
Thiago Elniño - A Rotina do Pombo
Tim Bernardes - Recomeço
Trupe Chá de Boldo - Verso
Tulipa Ruiz - Tu
Vitor Ramil - Campos Neutrais
Xênia França - Xênia
Zé Ed - Zé Ed

e como já é de lei aqui por essas bandas, uma segunda lista se faz necessária pela quantidade de discos interessantes lançados ano após ano. uns só não entraram na primeira por motivos de não ter ouvido tanto quanto outros. coisa de momento/oportunidade mesmo.

Airto Moreira - Aluê
Akira Presidente - Fa7her
André Sampaio - Alagbe
Angela Ro Ro - Selvagem
Arto Lindsay - Cuidado Madame
Banda Mantiqueira - Com Alma
Camarones Orquestra Guitarrística - Feeexta
Castello Branco - Sintoma
Chaiss - Chara
Cinnamon Tapes - Nabia
Conteção 33 - Ruas Sujas
Davi Moraes - Tá em Casa
Diomedes Chinaski & DJ Caique - Ressentimentos II
Gragoatá - Gragoatá
Haikaiss - Teto Baixo
Hermeto Pascoal & Big Band- Natureza Universal
João Donato e Donatinho - Sintetizamor
Johnny Hooker - Coração
Jonathan Tadeu - Filho do Meio
Juliana Kehl - Lua Full
Kalouv - Elã
Lia Sophia - Não Me Provoca
Luedji Luna - Um Corpo no Mundo
Luiza Lian - Oyá Tempo
Marcelo Callado - Musical Porém
Meia Dúzia de 3 ou 4 - 81 Anos de Tom Zé
My Magical Glowing Lens - Cosmos
Nana - CMG-NGM-PDE
Nevilton - Adiante
Nomade Orquestra - EntreMundos
Satanique Samba Trio - Xenossamba
Seu Pereira e Coletivo 401 - Eu Não Sou Boa Influência pra Você
Tetê Espíndola - Outro Lugar
Tiê - Gaya
Tribalistas - Tribalistas
Valério - Água Pedra
Vanguart - Beijo Estranho

Um comentário:

Pena Schmidt disse...

Foi pra #listadaslistas

abs
pena