sexta-feira, 10 de setembro de 2010

ela toca campainha e sai correndo

encontrei com maria rita em um café chique na rua oscar freire, em são paulo, acho que em outubro de 2005. nossa conversa estampou a capa da tam magazine (spring) de novembro do mesmo ano, com fotos dos bróders da cia. de foto e coisa e tal. mas antes da entrevista acontecer houve uma certa tensão no ar, principalmente por causa dos assessores da cantora, completamente neuróticos pela recente polêmica criada, com aquela leviandade de sempre, pela revista veja (o caso dos ipods distribuidos pela gravadora warner para algumas figuras da imprensa - aqui, "o mensalinho de maria rita", é comentado por luis antônio giron). nada de fazer perguntas sobre o caso, nada de perguntas sobre a vida pessoal, etc. como se eu me interessasse por fofocas, vejam só vocês. só que quando maria rita chegou e o gravador foi ligado tudo isso desapareceu e a conversa rolou muito bem, e ela sempre muito simpática, muito acessível.

nesse tempo, maria rita estava lançado
segundo (warner, 2005), um disco agradável e sonoramente próximo a sua ótima estreia em maria rita (warner, 2003). depois desse nosso encontro fulgaz, a cantora se mudou para o rio de janeiro e caiu no samba. achei o terceiro disco da moça, samba meu (warner, 2007), um tanto chato, talvez pelo excesso de composições de arlindo cruz - eu realmente não gosto da escola cacique de ramos, não tem jeito - e por respeitar muito o cânone carioca do samba (fiz resenhas dos três discos para o gafieiras e os link estão em maria rita, segundo e samba meu). no mais, maria rita, que ontem completou 33 anos, continua uma das melhores cantoras da atualidade. e a vida continua.

A CERTEZA DE SER MARIA RITA

Quando, há dois anos, a cantora Maria Rita surgiu para o grande público foi com a força de um fenômeno natural, um furacão, um terremoto, um vendaval, e em seu rastro brotaram todo tipo de comentários: produto de gravadora, linda, filha da Elis, produto de marketing, maravilhosa, revelação, filha de César Camargo Mariano, um novo sopro de vida da MPB e assim por diante, para todos os gostos. Muita coisa mudou desde então e Maria Rita tanto ganhou quanto perdeu. Ganhou um filho, Antônio. Ganhou uma legião de fãs de todas as idades, e em mais de 30 países, que levaram as vendas de seu disco de estréia a ultrapassarem as 800 mil cópias. Perdeu o amigo e produtor do primeiro CD, Tom Capone, morto em um acidente nos EUA na noite da entrega do Grammy Latino 2004 (onde Maria Rita, que estava lá, levou três prêmios).

O mundo deu muitas voltas e recentemente deu mais uma paradinha para ver a cantora lançar seu esperado segundo disco, e por isso mesmo intitulado de
Segundo (Warner Music). A Maria Rita que se vê hoje não é a estrela distante que se espera, é apenas uma jovem mulher que sofre quando o filho fica doente, cola frases em sua agenda, brinca, grita, fala palavrão e sente uma força inexplicável quando sobe ao palco e enfrenta platéias com desejos e expectativas tão diversas. “Quem sou eu para julgar as interpretações dos outros. também sou uma intérprete”, disse durante a entrevista exclusiva.

O certo é que Maria Rita faz suas escolhas ouvindo a intuição. Foi assim que manteve a sonoridade ao vivo com piano, baixo e bateria dos amigos Tiago Costa, Sylvinho Mazzuca e Cuca Teixeira: “Se eu mudasse falariam que não tenho personalidade e se eu repetisse diriam que estou seguindo uma fórmula”, brincou. Foi assim que voltou a gravar composições de Marcelo Camelo, da banda carioca Los Hermanos, que no primeiro disco emplacou três e agora volta com duas, “Casa pré-fabricada” e a inédita “Despedida”. Foi assim que apostou suas fichas em compositores pouco conhecidos como Rodrigo Maranhão, Edu Tedeschi e Edino Krieger, além de encarar interpretações pessoais dos clássicos “Sobre todas as coisas” (Chico Buarque e Edu Lobo) e “Minha alma (A paz que eu não quero)” (Marcelo Yuka e O Rappa). Foi assim que chamou o ídolo Lenine para co-produzir o disco a seu lado. E foi assim por diante, feliz e certa de suas escolhas, que chegou ao final das gravações de
Segundo.

mãe elis, filha maria rita

Vendo você nos shows, ouvindo você falar, dá para notar uma postura pessoal bastante discreta. Como é ser assim e ter que lidar com um grande esquema de divulgação que exige superexposição?
É difícil, é algo que gera conflitos mesmo, porque eu realmente sou uma pessoa mais envergonhada, mais caseira. Não gosto muito de falar. E toda essa exposição gera muitos incômodos no dia-a-dia... gente tocando a campainha ou telefonando... mas é claro que é uma escolha. Sou uma artista e quero que as pessoas conheçam meu trabalho, mas é preciso colocar limites. Isso é muito importante.
E onde colocar esse limite?
Também é difícil saber porque uma hora tudo bem e outra hora não. A resposta é vaga... porque sim! Mas a gente também tem que pensar que para a pessoa levantar de onde ela está, respirar fundo... porque, enfim, é um ídolo dela ou é alguém que ela admira... e vir falar exige também uma coragem. Mas ao mesmo tempo vejo palavras minhas numa revista e não disse nada daquilo ou... quem tirou esse foto do meu filho? Quem deu autorização? Eu só trabalho com quem me cobra. Não sou preferencial, preferenciável ou prereferenciada. Não quero isso. Quero que respeitem meu trabalho, e as pessoas com quem trabalho, como respeito o trabalho de todo mundo.
E como foi esse aprendizado de lidar com todas essas questões?
Como tudo aconteceu muito rápido no primeiro disco, foi uma coisa meio no susto, não tive muito tempo para digerir. É assim? Então tá! Mas é um aprendizado diário. Chegou um momento na turnê do primeiro disco que não conseguia dormir, não conseguia sair com os amigos, namorar, tava fazendo mal a minha saúde. Foi muito delicado. E ao mesmo tempo você tá no meio disso tudo e não dá pra parar porque tem gente que tá comprando, gente que tá vendendo, gente que tá segurando a onda.


Maria Rita - Cara Valente
Enviado por azvix_1
Mas você esperava que fosse assim? Qual era tua expectativa?
Eu achei, claro, que fosse ter uma procura porque sou filha de dois grandes ídolos da música brasileira e minha mãe tem muitos fãs até hoje. Achei que houvesse uma curiosidade normal. Mas não achei que fosse tanto e que fosse tão rápido. De repente começou a encher o Supremo Musical
[onde Maria Rita começou a cantar ao lado de Chico Pinheiro e Luciana Alves logo que voltou dos Estados Unidos], que tinha 70 lugares. Tivemos que fazer shows extras. Aí mudamos para um outro lugar um pouco maior, o Crowne Plaza. E começou a lotar também. Recebi até uma carta de uma fã dizendo que apanhou na fila porque queria comprar quatro ingressos e a gente tinha limitado em dois por pessoa. Uma loucura. Essa rapidez com que as coisas aconteceram me impressionou. E tenho que entender meu lugar nisso tudo.
Você já fez os shows de lançamento do disco novo em São Paulo e no Rio de Janeiro. Notou alguma diferença no público deste disco para o público da sua estréia?
A gente já notou uma diferença durante a turnê do primeiro disco. O público foi ficando mais jovem. No começo apareceram os fãs da minha mãe, fãs de todas as idades, mas rapidamente isso foi mudando, foram aparecendo jovens, adolescentes e até crianças. As pessoas cantavam as minhas músicas e, juro, nunca ninguém pediu nenhuma música da minha mãe nos shows. Acho que todos logo perceberam que quem estava ali no palco era a Maria Rita.
E como surgiu a idéia do Lenine produzir o disco?
Quando o Tom Capone morreu eu fiquei muito insegura. Foi um baque muito forte porque a gente se entendeu muito rápido e era uma coisa que não precisava de palavras. No olhar a gente se entendia. Tinha muita verdade, muita entrega. E ele virou logo uma referência musical pra mim porque produziu de tudo, MPB, rock, tudo. Foi difícil pensar em um produtor novo. Aí, um dia, o Álvaro [Alencar], que é amigo de infância do Tom e foi engenheiro de som do primeiro disco, disse: “E o Lenine?”. O Lenine? E foi o primeiro nome com quem me senti confortável. Já tinha gravado uma música dele no primeiro disco (“Lavadeira do rio”) e o admiro muito. Senti que esse era o caminho e que tava tudo bem.


Você manteve a mesma sonoridade do primeiro disco no segundo com piano, baixo e bateria. Ao vivo. Foi uma escolha natural?
Pois é, se eu mudasse falariam que não tenho personalidade e se eu repetisse diriam que estou seguindo uma fórmula [risos]. Um dia eu tava folheando uma revista e vi uma propaganda, tinha uma mulher toda poderosa, um fundo branco ao lado, e uma frase que dizia assim: “A intuição é a arma mais poderosa da mulher. Use-a!”. Achei aquilo o máximo, colei na agenda e tudo. Decidi usar minha intuição, meu coração e pensei... porque mudar? Estou com esses músicos há anos, são meus amigos. Eles entendem minha linguagem corporal no palco. A gente se entende muito bem. Segui então minha intuição.
Mas você tem vontade de se envolver com outras sonoridades, outros tipos de formação?
Tenho sim. Gosto muito de metais e uma paixão pelo trompete. Gosto de cordas. Tenho vontade de fazer uns projetos especiais, mas não sei se esse é um nome adequado. Gosto de rock, tenho isso dentro de mim. Quero colocar isso pra fora. Não sou uma bonequinha! Não mesmo. Fico indignada com muitas coisas, com todas essas injustiças sociais, crianças abandonadas na rua, e acho que tem sonoridades que cabem melhor a esse tipo de indignação. O rock, por exemplo.
E você toca algum instrumento?
Campainha [risos]. Adorava tocar campainha e sair correndo [risos]. Mas tenho vontade de aprender algum instrumento sim, mais até do que compor. Tem esse lance de menininha... papai é meu herói... então tenho um lance com piano. Acho piano tão bonito!

2 comentários:

Ademar amancio disse...

"Swuinga que nem a mãe",quem dera Gil.

Anônimo disse...

Quem dera nada. Swinga que nem a mãe mesmo. Só não é maior que ela; duas cantoras impecáveis