quinta-feira, 17 de maio de 2012

antônio nóbrega, 60 anos

e as coisas continuam rolando na revista brasileiros. agora na edição de maio saiu um perfil que fiz do antônio nóbrega sobre esse ano de 2012 cheio de novidades e comemorações. a entrevista aconteceu em sua casa perto da praça do pôr do sol, aqui em são paulo, e teve pouco mais de uma hora. como esse texto da brasileiros era mais genérico sobre o momento e seus planos ficou muita coisa de fora de uma conversa que tivemos sobre a dança brasileira, seus questionamentos, etc. acabei utilizando esse material bônus para um outro frila, dessa vez para o site revista de dança. e a caravana segue...


EM NOME DA DANÇA NACIONAL

Em momento no qual comemora 60 anos de vida, 40 de carreira e 20 de seu Teatro Brincante, Antônio Nóbrega coloca sua energia na criação de uma linguagem brasileira para a dança

Pouca gente imagina, mas antes de ser chamado, quatro décadas atrás, por Ariano Suassuna para integrar o lendário Quinteto Armorial, o músico, dançarino e ator Antônio Nóbrega não tinha interesse algum por cultura popular. Na verdade era mais desconhecimento do que qualquer outra coisa. “Meu pai me colocou para estudar violino ainda criança, aos 10 anos, e três anos depois montei um grupo com minhas irmãs. Mas a gente tocava músicas que ouvíamos na rádio e TV: Roberto Carlos, Beatles, a MPB dos festivais, canções francesas e latinas. O folclore não fazia parte da minha história, sequer de minha visibilidade”, explicou em entrevista na sua casa, em São Paulo. No entanto foi sua formação erudita na Escola de Belas Artes de Recife que chamou atenção de Suassuna.

Nóbrega, que já vivia na dicotomia clássico-popular, passou a conhecer e se encantar por zabumbas, rabecas, caboclinhos, bumba-meu-boi e quetais. “Curiosamente comecei a me entender e a me deixar seduzir também pelo universo da dança, pelo frevo. Na época não tinha preocupação em compreender esse me encantamento, simplesmente o vivia”. E lá se foi o pernambucano mergulhando profundamente nesse novo mundo ao mesmo tempo em que ficava conhecido Brasil afora nos shows e discos do Quinteto Armorial, entre eles Do Romance ao Galope Nordestino (1974) e Aralume (1976). “Teve momentos dessa jornada em que eu era quase um nacionalista inveterado... como assim nós brasileiros não dançamos a nossa música, não cantamos e tocamos a nossa música?! Eu devia ser muito chato nessa época [risos]. Só depois coloquei esse brasileirismo na prateleira adequada”.

A mudança para São Paulo no início da década de 1980 com a recém-esposa, dançarina e parceira Rosane Almeida ajudou nessa adequação entre brasileirismos e universalismos (sem contar o nascimento dos filhos Gabriel e Maria Eugênia). Mas foi somente uma década depois, com a fundação do Teatro Brincante e a ótima recepção dos espetáculos-discos Na pancada do ganzá (1996) e Madeira que cupim não rói (1997), que o projeto cultural de Nóbrega começou a andar de espinha ereta.


Pouco a pouco, a dança foi ganhando mais destaque em seus trabalhos posteriores e Nóbrega tem a explicação na ponta da língua: “A dança de nossos palcos ainda é de extração tipicamente ocidental. Mas você não vê alguma coisa que traga uma representação simbólica do Brasil. Quando traz é de uma maneira muito frágil. Não é assim com a música de Villa-Lobos ou a literatura de Guimarães Rosa, por exemplo. Além d’eu ter me sentido chamado corporalmente pela dança também me senti compelido a fazer essa reflexão, talvez até por conta dessa ausência”.

Por essas e outras que entre seus muitos projetos futuros o que lhe é mais caro é a criação da Companhia de Dança Antônio Nóbrega, no qual tem a missão de ampliar a formação brasileira e popular de dez bailarinos junto com a criação de um espetáculo inédito previsto para meados de 2013. No entanto, o incansável artista quer ainda esse ano estrear um show em homenagem a Luiz Gonzaga e um longa inspirado no espetáculo Brincante (em sua quarta colaboração com o cineasta Walter Carvalho), além de uma série de eventos em seu teatro-instituto na Vila Madalena.

Com tudo isso na cabeça, o ágil Nóbrega chegou à conclusão que “a arte não vai mudar a ordem das coisas, mas tem o papel de ajudar a ter uma consciência um pouco mais completa para fazer a mudança”. E é dançando que ele quer chegar lá.




p.s.: e olha aqui como o texto ficou na página da revista.


Nenhum comentário: