sexta-feira, 4 de maio de 2012

yahoo #39

me enchi da ana de hollanda e sua patota fazendo bobagens (pra dizer o mínimo) lá no ministério da cultura. e não sei o que é pior: as bobagens ou a nulidade dessa gestão. enfim, mas acabei escrevendo "banditismo por necessidade", mais um texto sobre o caso, e espero que seja o último. não quero mais saber desse assunto. o texto mais recente, "um centro vivo e no virote", chegou lá com um dia de atraso e trata da virada cultural e da relação de seu público com o centro. algo assim.





BANDITISMO POR NECESSIDADE

E a batalha continua. No mês passado, em 22 de março para ser mais preciso, escrevi aqui no Ultrapop o texto “Estamos perdidos?” que repercutia as primeiras denúncias de uma relação muito esquisita, para dizer o mínimo, entre o Ministério da Cultura (gestão Ana de Hollanda) e o famigerado ECAD (Escritório Central de Arrecadação e Distribuição). Em nome de uma pretensa defesa dos direitos autorais de artistas brasileiros contra a malévola internet, o MinC vem assinando embaixo de tudo o que mestre manda (ECAD, gravadoras multinacionais, etc.) e quem for contrário é bandido, pirata da perna-de-pau.

Curiosamente (ou não?), a grande imprensa que gosta de denunciar malfeitos do governo federal mesmo quando são notícias plantadas com segundas intenções (vide caso Demóstenes Torres e Carlinhos Cachoeira) se fez de cega, surda e muda nesse caso do MinC/ECAD. E olha que ontem foi o dia que saiu o relatório final da CPI do ECAD com direito a um pedido de indiciamento de 15 pessoas muito próximas a atual gestão do MinC por apropriação indébita de valores, fraude na realização de auditoria, formação de cartel e enriquecimento ilícito. Como se não bastasse, o relatório também propõe uma grande reforma no sistema de direito autoral brasileiro (atualmente, o 5º pior do mundo) e que a partir de agora a fiscalização seja feita mais duramente pelo Ministério da Justiça.

Se isso vai dar em algum resultado concreto só o tempo dirá, mas em casos assim é sempre bom ficar atento quais interesses estão em jogo. Ontem, por exemplo, a Editora Terceiro Nome divulgou no Facebook que todo o conteúdo do DVD que vem junto com o recém lançado livro Iconografia do Cangaço tinha vazado na internet. São preciosos 14 minutos de imagens de Lampião, Maria Bonita e sua gente filmados em 1937 (algumas delas tinha sido usadas no longa O Baile Perfumado, de 1997, mas quatro minutos desse material são inéditos). O pessoal da editora ficou babando de raiva? Tentaram derrubar o vídeo no YouTube? Nada disso, estavam felizes. Olha o vídeo abaixo (originalmente ele não tem áudio, então é recomendável colocar um som para acompanhar essas imagens históricas).


Agora, me deixa escrever na lousa. O pirata da perna-de-pau que subiu o vídeo não está ganhando dinheiro com isso. A editora não está deixando de vender seu (belo, aliás) livro por causa disso. E todos podem sair ganhando com o fato: o pirata por compartilhar (que é diferente de lucrar) e a editora por ter seu produto divulgado gratuitamente na rede. E olha que o mercado livreiro brasileiro, que também vem se mostrando descontente com o descaso do MinC (olhem esse abaixo-assinado), é um dos que mais sofrem em um país/sociedade que não estimula a leitura. Mas o pessoal da Terceiro Nome adorou a pirataria (e nem mencionei Paulo Coelho, um dos maiores vendedores de livros do mundo, que adora ver seus livros em download). E aí?

Em recente reportagem sobre ensino através de celulares e tablets que assinei na Revista Continuum, do Itaú Cultural, o editor Martin Restrepo afirmou que “não é justo que em um mundo em rede tenhamos que aprender com as metodologias de sempre”. Essa declaração pode muito bem ser ampliada para o mundo da cultura, afinal não somos consumidores passivos (nunca fomos na verdade, só nos faltavam os meios) porque também produzimos conteúdo (bom ou ruim é outra história). O MinC, bem como todas as secretarias de cultura municipais e estaduais, precisa entender de uma vez por todas que é um disparate defender organizações particulares em detrimento do bem comum em um mundo descentralizado e sem fronteiras. Quem é mesmo o bandido?

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