UM CENTRO VIVO E NO VIROTE
Todas as grandes cidades brasileiras possuem, em maior ou
menor grau, um problema em comum. São mais que um, obviamente, mas ficarei aqui
com o pecado capital: o abandono de seu centro. Os culpados são muitos, desde o
poder público até a especulação imobiliária, passando pela miopia de uma
sociedade que não quer ser responsável pelos rumos urbanos.
Em poucas palavras, o centro de uma cidade não pode ser
deixado exclusivamente para o comércio. Tem que ter gente morando dia e noite,
sempre. Tem que ter vida e qualidade de vida, mais que qualquer outro bairro ou
região. Simplesmente porque o centro é o começo e a essência de uma cidade, sua
história, memória, presente e futuro.
Copiado de um evento francês, a Virada Cultural, que acontece desde
2005 em São Paulo, tem sido um jeito interessante, mesmo que tímido em meras
24h, de injetar vida no belo, louco e abandonado centro paulistano (o evento
também ganhou uma versão carioca e outra pelo interior de São Paulo). Talvez
tenha sido um dos poucos projetos realmente públicos da dobradinha PSDB/DEM
(ou, para os mais íntimos, Serra e Kassab) na gestão de São Paulo, pois esse
pessoal costuma segregar mais que democratizar (isso mesmo, hoje em dia quem
mais se diz democrata é quem menos quer democratizar). Falei sobre São Paulo e
cidades em outros dois textos aqui para o Yahoo, “São
Paulo, velha e louca” e “Arte que
desmancha no ar”).
Já fui a várias edições, inclusive na de 2007 no meio do
campo de batalha do não-show
do Racionais MCs na Praça da Sé (e só virou batalha por causa da PM que mais
uma vez fez “uso de força excessiva”). E em todas logo percebi que o mais
bacana não era a variada infinitude de (algumas muito boas) atrações gratuitas
e abertas, e sim ver aquela quantidade de gente indo a pé de um lugar para o
outro no centro, mapinhas em mãos, procurando diversão e ocupando o espaço. Gente
de tudo que é lugar, de tudo que é jeito, fazendo a cidade sua.
Claro que ainda falta muito, tanto pelo lado da Prefeitura
de São Paulo quanto pela população, para esse idílio acontecer. Enquanto os
números de frequentadores da Virada Cultural aumentam em termos de milhões, os
problemas com lixo, higiene pública e segurança só pioram. Falta olhar mais
para o lado, para os outros, porque só assim deixaremos de ser essas ilhas
tristes dentro de nossa próprias casas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário