QUANDO O MINHOCÃO BALANÇOU DE ALEGRIA
Existem os carnavais de rua profissionais do Rio de Janeiro,
Salvador e Recife/Olinda e existe o de São Paulo, franzino, tímido e motivo de
deboche nacional. Por enquanto. É que ninguém fica na cidade. É que São Paulo
não gosta de folia. É que sempre chove no carnaval. Nada disso é desculpa,
muito menos verdade, e a festa pagã deste ano pode ser um momento de virada
nessa história. Não é à toa que é o primeiro carnaval após os oito anos
restritivos, burocráticos e caretas da gestão Serra-Kassab. Deu pra sentir nas
ruas um eufórico espírito de retomada, mesmo que ainda um tanto caótica, afinal
a cidade não está acostumada a ser feliz.
No final do ano passado foi criado o Manifesto Carnavalista,
uma reunião de blocos e cordões independentes com interessantes
reinvindicações: direito à alegria; direito à folia; valorização e afirmação da
tradição cultural paulistana; ocupação do espaço público como exercício da
cidadania; e identificação do potencial econômico do carnaval de rua. Daí que a
nova gestão da Prefeitura de São Paulo, na figura do Secretário de Cultura Juca
Ferreira, estabeleceu um diálogo com os blocos e foi assim que a história da
folia paulistana ganhou novas caras e um novo futuro.
E as ruas foram tomadas tanto pelos tradicionais Bloco dos
Esfarrapados (66 anos) e Vai Quem Quer (33 anos) quanto por blocos jovens ou
estreantes como Bloco Afro Ilú Obá de Min, Cordão Kolombolo Diá Piratininga,
Acadêmicos do Baixo Augusta, Ó do Borogodó, Nois Trupica Mais Não Cai, Bloco
Soviético, Confraria do Pasmado, Cordão Cecília, Jegue Elétrico, Pimentas do
Reino, João Capota na Alves, Zé e Maria, Vaca das Galáxias e Bando dos 7.
Mas o caso do Agora Vai, que saiu no final da tarde de ontem
(terça gorda), é bastante revelador desse novo espírito. Fundado em 2005 na
Barra Funda, o bloco sai do Largo Padre Péricles e anda um tanto bom pelo
Minhocão até voltar ao largo, com direito a hino próprio, marchinha inédita
todo ano, duas vocalistas em um carrinho de som improvisado, estandarte e uma
pequena e aplicada bateria que faz até breques de funk.
E tinha de tudo por lá, casais e solteiros(as), homos e
heteros, crianças e velhos, gente fantasiada e malucos à paisana, todos
cantando e dançando por uma cidade que seja boa para quem a faz. Perto da
concentração aconteceram ainda divertidas intervenções em placas e, de uma hora
pra outra, a feia Marginal Tietê se transformou numa esfuziante Marginal Paetê.
Mas o auge do bloco aconteceu quando as cerca de 3 mil
pessoas presentes começaram a pular e fazer o Minhocão balançar. Construído por
Paulo Maluf e com nome de ditador militar (Costa e Silva), o Elevado felizmente
já é usado para fins recreativos nos finais de semana, mas nesse Carnaval ele
virou uma grande passarela para alegrias das mais diversas. Desde um cadeirante
com cabelos lotados de confete até um menino de 4 anos vestido de Batman que
abriu os braços e sorriu ao ter seu nome de herói gritado por centenas de
pessoas. Esse é o tecido de que são feitos os sonhos carnavalescos de uma
cidade.
p.s.: falando em Carnaval de São Paulo, nada melhor que
encerrar esse post ao som d’A Espetacular Charanga do França.
2 comentários:
Cara, até arrepiei com o post. Suas ideias compactuam muito com meu ideal de cidade, bem como com meu desejo de uma convivência alegre e pacífica entre as pessoas.
Um abraço,
Vitor
que legal, vitor. bacana saber disso. e olha, a história não para por aí... saca só... http://br.noticias.yahoo.com/blogs/blog-ultrapop/por-uma-cidade-cheia-gra%C3%A7a-200042390.html
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