O CINEMA PARADISO DA FULERAGEM
Por essa pouca gente esperava. Uma comédia independente, sem
atores famosos, cearense e com legendas (isso mesmo, legendas pra entender
melhor o “cearensês”), pode ser o grande sucesso nacional de 2013, desbancando
o atual hit do ano, Minha Mãe é uma Peça.
Mesmo que fique em segundo lugar, o longa Cine
Holliúdy já é um grande vencedor, afinal estreou na semana passada em
alguns cinemas de Fortaleza, Sobral, Maracanaú e Limoeiro do Norte e vendeu 43 mil
ingressos em apenas 6 dias (45% do total da bilheteria do Estado). São números
impressionantes e que prometem aumentar quando o filme de Haldon Halder Gomes estrear,
em 30 de agosto, em outras cidades e capitais do Norte e Nordeste (Sul, Sudeste e Centro
Oeste ficarão mais pra frente numa interessante e regionalizada nova estratégia
de lançamento).
Rodado em seis semanas e com um orçamento de R$ 1 milhão, Cine Holliúdy é a história de Francisgleydisson
(Edmilson Filho), um homem apaixonado por cinema que organiza, junto com a
mulher e o filho, exibições improvisadas de filmes em uma cidade no interior do
Ceará, na década de 1970. A divertida fauna humana da cidade e as confusões
geradas por um projetor quebrado completam o quadro dessa comédia escrachada e
profundamente cearense. E as legendas servem para outros Estados entenderem
palavras como “catrevagem”, “espilicute”, “bonequeiro”, “cangapé” ou expressões
como “tenha nervo”, “do tempo que o King Kong era soim” e “chiba nos possuídos”.
Diretor de filmes de ação (Sunland
Heat), terror (The Morgue) e drama espírita (As Mães de Chico Xavier), Haldon Halder Gomes batalhou durantes anos
para transformar um curta que fez em 2004 (Cine
Holiúdy - O Astista Contra o Cabra do Mal) em um longa que homenageasse as
coisas que mais ama na vida: o cinema, o humor e sua terra. E agora está feliz
“que só uma porra”. Falaí, macho réi.
Como foram as exibições em Fortaleza?
Sensacionais! Todas as sessões esgotadas horas e dias antes,
em todos os cinemas e em todos os horários. As pessoas não saem simplesmente
satisfeitas - o que já seria excelente -, mas, sim, militantes do filme. Tenho
visitado e aberto sessões diariamente nos cinemas da cidade pra agradecer este
carinho.
E sua expectativa pra
recepção do filme em outras regiões do Brasil, especialmente Sul e Sudeste?
Também espero uma ótima recepção. O filme já esteve em
vários lugares do mundo, e andou pelo Brasil, em festivais, e tem encantado por
onde passa. É uma história de amor universal, acima de tudo. Muitos críticos o
chamaram de Cinema Paradiso Brasileiro.
Em seus filmes
anteriores você trabalhou em gêneros (ação, comédia, terror) e temas
(espirituosidade) bastante populares. Que cineastas ou artistas são referências
no seu trabalho? Que outros tipos de gêneros você gostaria de trabalhar?
Minha vida sempre foi muito intensa e eclética de universos:
luta, surf, futebol, artes plásticas, etc. Quero contar histórias com que me
identifico, por isso esta pluralidade. Não tenho tantas referências, sou mais
de fazer reverências a muita gente e coisas que gosto, como pintura, músicas,
filmes, futebol, etc. Isto sempre está presente nos meus filmes. No momento,
quero fazer mais comédias de ação, em parceria com a Downtown Filmes, e, em seguida, um filme autoral, sobre um
pintor no fim da vida, Vermelho Monet.
Ouvi você falando em
outras entrevistas que existe uma procura consciente da sua parte pelo público,
pela comunicação com a plateia. O que você acha que os brasileiros querem ver
na tela? E como lutar contra Hollywood?
Sim, faço minhas pesquisas empíricas de mercado. Procuro
nichos latentes e seus anseios. O cinema nacional precisa saber se posicionar e
compreender sua diversidade cultural e regionalização em virtude de suas
dimensões continentais e populacionais. Cine
Holliúdy está aí pra mostrar ao cinema nacional independente como enfrentar
Hollywood.
O que você aprendeu
nos seus anos de Estados Unidos em termos de produção e comunicação?
Uni meus conhecimentos em administração de empresas e
especialização em marketing a aplicação no cinema, como produção e lançamento.
Pude aprender o que eles fazem de melhor e aplicar à nossa realidade, com
precisão e cadeia produtiva, sem perder a autoralidade.
O Ceará é muito
conhecido por seu humor e seus humoristas. Como você descreveria o humor
cearense?
O humor cearense é diferenciado devido a nossa capacidade de
saber rir de si, de não ter barreiras para a piada sem medo de perder o amigo.
Este exercício diário de humor aguçado nos deixa mais criativos e com timing
perfeito pro humor. Tanto é que no Ceará não existe bullying. Nós temos o
anti-bullying, que é uma expressão local que diz “Aí dentu!”. Assim, todo
mundo tira onda com todo mundo, e assim vivemos um show de humor no cotidiano.
com vocês, o curta cine holiúdy - o astista contra o cabra do mal.
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