quarta-feira, 18 de novembro de 2009

é devagar, devagarinho

conversei com martinho da vila um ano trás por causa da estreia, no canal brasil, do especial o pequeno burguês, uma espécie de retrospectiva comentada de sua própria carreira (e que saiu em cd e dvd pela mza). de lá pra cá, o septuagenário sambista não lançou nada de novo, mas segue fazendo shows sem parar sempre com aquele seu bom humor inabalável.

martinho em foto de eric garault

Como surgiu esse projeto de O Pequeno Burguês?
Fui convidado a fazer uma série de shows no FECAP, em São Paulo, que é um teatro mais íntimo, pequeno. Quis fazer um show diferente e pensei em uma espécie de conversa musicada, uma história musicada em que falo da minha carreira e da minha música. Cito uma música que faz parte da minha vida e canto essa música. E assim por diante. Além do especial no Canal Brasil este show também está saindo em cd e dvd. É isso.

Foi você que escreveu o roteiro do show? O que pretendeu contar nele?
Fui eu sim que escrevi. Olha, quis dar uma panorâmica da minha carreira e da minha vida. Quer dizer, é autobiográfico. Mas como tenho muitos anos de carreira e vida dividi tudo em blocos para se ter uma idéia geral. Tem um pouco do começo lá no Festival da Record [em 1967, quando lançou a música “Menina Moça”], depois tem algumas histórias minhas nas escolas de samba, um pouco da carreira mais recente, de alguns sucessos, e vai por aí.

Mas tinha alguma coisa que você achava importante contar para seus fãs e que, talvez, eles não soubessem?
Exato. Queria explicar de que jeito nasceram algumas músicas como as que falam da vila isabel. Então conto histórias do bairro, dos desfiles da escola de samba, e as pessoas vão entendendo melhor a história. Não sinto necessidade de passar mais nada [sobre minha vida pessoal], mas ainda existe muita gente que não me conhece bem. Tenho uma carreira longa, mas também possuo fãs mais jovens com muita curiosidade sobre minha história. Esse especial é quase um talk show, sabe? Não tem nada parecido no Brasil.

Existe alguma diferença entre fãs seus antigos e novos?
Não, parece que todo mundo é igual. É engraçado isso. A maioria dos artistas trabalha em setores mais definidos com um público mais definido. Não eu. Estou em todas as faixas etárias e classes sociais. Não sou um sambista que canta para sambistas porque meu repertório é muito variado. Por isso fui criando um público diversificado. Também faço o mesmo show, independente do lugar, tanto faz ser em uma casa de shows mais privilegiada ou numa quadra de escola de samba. E dá sempre certo.

O título do especial é o mesmo de um de seus primeiros sucessos. Teve alguma razão específica para essa escolha?
É, foi um de meus primeiros grandes sucessos, lá em 1969. Mas tem outra coisa. 'Pequeno burguês' é todo mundo que conseguiu sair da base da sociedade e emergiu. Sou também um símbolo disso, sou pequeno burguês [risos]. É uma música que tem a ver com tudo isso, o começo da minha carreira musical e a minha condição social.

Você sempre manteve uma regularidade na carreira, mas a última década está sendo particularmente movimentada. confere?
É, todo ano um disco. Sempre tem uma coisa ou outra, mas alguns períodos são mais sossegados que outros. Às vezes gravo um disco e não faço shows, nem divulgo. Só lanço e pronto. Em outras ocasiões faço vários shows. É que como já tenho muito tempo de vida não posso ficar sempre na mesma batida. Uma hora estou na escola de samba, em outra escrevo livros ou dou palestras. Isso tudo é ótimo porque na minha profissão as coisas precisam, ou devem, ser feitas com vontade. Por exemplo, ainda essa semana vou a São Paulo para gravar um programa de TV e depois farei shows em Luanda, Angola. Tenho que fazer tudo isso com disposição, não dá para ser pela metade. Artista depende de muita energia. Por isso não posso correr muito [risos].

O que te motiva a continuar produzindo?
É uma idéia, um pensamento. Penso em fazer um disco sobre tal assunto, vou lá e faço. O público também me motiva porque quando um disco, ou um projeto, dá certo dá vontade de fazer outro. É uma troca de energia.

Como está o samba nesse início do século 21?
Nossa, precisariam páginas e páginas para falar sobre isso [risos]. Difícil definir isso numa frase. Mas o samba está bem, sempre esteve bem. Às vezes está mais na moda, em outras menos, mas nunca ficou de fora. Em geral está em primeiro lugar porque todos os grandes artistas acabam cantando sambas. É isso, o samba taí!

segue abaixo um trecho do show com martinho mandando ver em "pra que dinheiro" e na sempre atual "o pequeno burguês".

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