lázaro pergunta a selton se este já tinha visto o recém-lançado ó pai, ó. não, ainda não, doido pra ver. lázaro mostra um dvd. olha só isso aqui que achei em são paulo. e na tv surgem imagens do pelourinho, gente dançando, música. mas já tem o filme pirata? aí lázaro explica que não só é pirata, como é pirata de uma cópia não finalizada. não custa lembrar que isso aconteceu logo após o fenômeno tropa de elite nos camelôs do país. e entre surpreso e maroto (e também orgulhoso, porque não?), o baiano conta que estava passeando na liberdade, bairro central de são paulo, quando viu numa banquinha de dvd o seu filme. não pensou duas vezes: me dê o meu filme, rapaz! e que o camelô, entre surpreso e envergonhado, lhe deu as três cópias que tinha. cai o pano.
acabei não atualizando o texto, mas de lá pra cá, selton fez bastante sucesso nas bilheterias com meu nome não é johnny e a comédia a mulher invisível, além de ter protagonizado a erva do rato (de júlio bressane) e sofrido um bloqueio criativo após a filmagem de jean charles (de henrique goldman), que o fez pensar em desistir de atuar. dirigiu em 2008 seu primeiro longa, o drama feliz natal. tem mais coisa pela frente, inclusive o citado federal. já lázaro ramos se dedicou à tv, com direito a uma novela (duas caras) e duas séries (ó pai, ó, inspirada no filme homônimo de 2007, e decamerão, a comédia do sexo). selton e lázaro ainda não trabalharam juntos.

Uma segunda-feira de sol e céu azul no Rio de Janeiro foi o cenário para um encontro inédito de dois dos melhores atores da nova geração do cinema brasileiro. Inédito porque, surpreendentemente, Lázaro Ramos e Selton Mello ainda não foram vistos juntos na telona, nem na televisão e muito menos nos palcos, o que é, claro, apenas uma questão de tempo (suas participações afetivas e em cenas distintas de Nina de Heitor Dhalia, obviamente, não contam). Mas os dois têm em comum o fato de serem orgulhosos destaques - ou habitantes como preferem - da programação do Canal Brasil. O mineiro Selton está há quatro anos com seu Tarja Preta, enquanto o baiano Lázaro, mais novo na casa, acabou de começar o segundo ano de Espelho. Entre águas, cafés e sucos de acerola, a dupla acabou descobrindo muitas outras semelhanças.
A chegada de Selton Mello ao canal aconteceu há pouco mais de quatro anos quando houve uma reviravolta na programação. “A direção que entrou na época queria dar uma arejada na grade. Eles tinham um grilo de que o canal era taxado por passar só filme brasileiro, só cinema, e não ter programas ou entretenimento. Houve então uma abertura de espaços que acabou dando uma cara forte para o canal, que hoje é cinema, mas também é música, fotografia, artes plásticas, teatro e muito mais”, afirma. Porém, antes do Tarja Preta, Selton passou por uma espécie de batismo ao assinar um episódio do programa Retratos Brasileiros dedicado ao cineasta Afonso Brazza (1955-2003). “Ele era bombeiro em Brasília e adorava filmes de ação, era fã do Stallone. Ele filmava, atuava, editava, escrevia, fazia efeitos, vendia bala no quartel para conseguir dinheiro. Enfim, tinha uma história linda, chapliniana”. Após a morte precoce de Brazza, o Canal Brasil embarcou no projeto e bancou mais entrevistas e a finalização do documentário. Assim, dando voz a uma figura pouco lembrada pela história da sétima arte brasileira, nasceu o Tarja Preta. “É um painel pessoal do cinema nacional”, disse Selton, que em quatro anos de programa já entrevistou mais de cem personalidades, entre atores, atrizes, cineastas e técnicos.
E o Espelho, Lázaro? “Entrei nessa por causa do sucesso do Tarja, mas enquanto não chegava a uma idéia própria para um programa fiz um Retratos Brasileiros sobre o ator e cantor Toni Tornado. Meio que para saber se sabia fazer, afinal não é a experiência de ator que determina se você sabe dirigir ou contar uma história. Depois veio a inspiração de um programa baseado em uma peça do meu grupo, o Bando de Teatro Olodum, que tratava de questões raciais de uma maneira muito democrática, sem dar respostas e buscando reflexões”. Esquetes teatrais, entrevistas, música e papo furado se misturam em uma tentativa nada ortodoxa de se entender o Brasil. “É um programa sem formato e a única coisa que une os episódios é a vontade de falar sobre certas coisas que não vejo serem ditas na TV, mas com leveza e diversão”.

Tudo isso acontece no terreno vasto do Canal Brasil que é um espaço, segundo Selton, que “está crescendo junto com o cinema brasileiro; aos poucos a gente vai ganhando público, pois um espectador vê um filme, gosta, quer ver outros e agora tem o Lázaro que dá uma baita visibilidade para o canal. A gente está construindo um espaço e é um barato participar disso. Era impensável há alguns anos”. A produtora das fotos que estampam estas páginas interrompe para perguntar se a dupla está pronta. Só mais um minutinho e Lázaro aproveita para educamente dar um toque: “a TV aberta ganharia muito se tivesse programas como os que tem no Canal Brasil. Daria uma renovada e traria um sabor muito bacana”. E lá se vão os dois, que fazem questão de não se maquiarem, para a primeira bateria de fotos.
Entre um clique e outro, Lázaro e Selton seguem conversando entre si. Falam de programas do Canal Brasil que gostam, entre eles a impagável sessão de pornochanchadas, os making of, o Cine Jornal, os musicais Zoombido (de Paulinho Moska) e Faixa Musical, os recém-nascidos Todos os Homens do Mundo (de Domingos de Oliveira e Priscila Rozenbaum) e Retalhão (de Zéu Britto) e, claro, os próprios (Lázaro Ramos, aliás, fez questão de frisar que a equipe técnica do Espelho é formada por alunos da Central Única das Favelas, a CUFA).

Selton retoma a palavra para dizer que “nós somos um pouco aquilo que interpretamos e acredito que pessoas que gostam do nosso trabalho identificam nos nossos personagens as nossas personalidades. Mas os programas são um bom lugar para que conheçam o homem por trás daqueles personagens. Saber, por exemplo, o que o Lázaro pensa da vida, o que ele gosta, quais são suas referências”. Mas o tempo é implacável, principalmente quando a conversa é boa, e é chegada a hora de levantar o acampamento. Algo mais? Lázaro Ramos dá um sorriso e solta: “Ó, lembrei de uma coisa... a gente se encontra no Canal Brasil”. Anotado, Seu Lázaro.
Nenhum comentário:
Postar um comentário