quinta-feira, 17 de março de 2011

yahoo #01

foi no carnaval que estreei a minha coluna ultra pop no yahoo e a festividade foi o assunto do primeiro texto. a ideia da coluna é falar sobre grandes e pequenas manifestações culturais populares brasileiras, tanto na tv quanto na música, tanto no cinema quanto na internet. e ser provocante e bem humorado, claro. as atualizações serão quinzenais e quando uma nova estrear por lá, a anterior vem pra cá. agradecimentos a michel blanco, editor-geral de conteúdo do yahoo, e a walter hupsel, outro colunista da casa, amigo dos tempos da sociais e grande incentivador dessa nova empreitada do esforçado. chora cavaco, móderfocker!

em paraty, o carnaval de lama. foto de rodrigo abd/ap

TÔ ME GUARDANDO PRA QUANDO O CARNAVAL CHEGAR

Existem milhões de jeitos de curtir o Carnaval (e outros tantos de não curtir, mas aí é outra história). Pode ser na rua, no trio elétrico, no clube, no boteco, na piscina e até na TV. Mas poucos são tão surreais quanto o da TV. Não estou falando dos desfiles de escolas de samba não, nada dessas coisas cronometradas, com tais e tais alas, e jurados e notas, fantasia e harmonia, nada disso. Quente mesmo é pegar uma Rede TV da vida e acompanhar nas madrugadas o lado B do carnaval, que pode tanto acontecer do lado de fora dos sambódromos quanto na entrada de algum Gala Gay.

Nada é mais carnavalesco que uma ex-BBB metendo os pés pelas mãos em uma entrevista com travestis anônimos no “tapete vermelho” de algum baile mequetrefe. Ou então uma apresentadora e ex-modelo que ameaça tirar a roupa ao vivo para provar qualquer coisa. É caos puro. Alguns podem chamar de gafe ou vergonha alheia, outros de decadência da TV aberta, eu só acho divertido que só. É aquele espírito mambembe que une um monte de gente despreparada ao redor de outro tanto que não quer saber do amanhã. Motivo de sobra para risadas. Ou sustos, afinal, em um dado momento da cobertura de 2008 Monique Evans soltou ao mundo que “vocês sabiam que a Rede TV é 100% HD? Aqui você pode ver tudo como realmente é!”, o que soa ameaçador diante de uma múmia de chinelos segurando um frango de plástico e curtindo um pole dancing.




Pois é, não dá para esperar muita coerência no carnaval. Uma hora a câmera passeia ao redor de uma dançarina, coberta apenas com purpurina e um tapa-sexo, que aos gritos conta detalhes sobre a carreira e os mililitros de silicone colocados em cada seio. A repórter pede mais uma voltinha, close na bunda, outra volta, novo close, e daí que surge, ao vivo e a cores, um belo de um furúnculo. Caos, caos. Ninguém escuta ninguém. É que a bateria está comendo solta a poucos metros, o que deixou o câmera em transe, imagem focada e congelada na bunda e seu furúnculo. Lá no estúdio, o apresentador de peruca nova também grita: “Renata! Renataaa! Tá me escutando?”. Não, não está.

Em transmissões assim, sem acesso aos camarotes com celebridades tipo A, os que estão do lado de fora do cordão, o pessoal da pipoca, acaba tendo vez e voz. E basta um microfone aparecer para ser agarrado com voracidade. É a chance de cada um mostrar que existe e que sua alegria é a maior de todas. Enquanto uma foliã é entrevistada e tenta, aos tropeços, lembrar quantos já beijou na noite um gaiato levanta um cartaz feito em casa com os dizeres “Chiclete com Banana é melhor que U2” e ensaia encoxar uma desavisada hipnotizada pela luz da câmera. De volta ao estúdio, o homem da peruca nova e a apresentadora jovem de vestido curto se confundem com o link ao vivo, os papéis e as serpentinas cenográficas. O carnaval na rua da TV definitivamente não é para amadores.

2 comentários:

Érico San Juan disse...

Mó barato cutucar fãzocas de ídolos teen... Dei meu pitaco lá na coluna, Dafne. Aquele abraço!

dafne disse...

mas apesar de uma ironia ou outra eu queria mais era entender o fenômeno (e o elogiei algumas vezes). só que o pessoal só quer saber de ou amar totalmente ou odiar totalmente.
agora, fico preocupado mesmo com quem odeia sempre com aquela lenga lenga elitista-classe média.
vi seu comentário, claro. valeu.