quinta-feira, 30 de junho de 2011
estrelando emicida e criolo
correria, humor e exploitation, podiscrê.
quarta-feira, 29 de junho de 2011
o jazz em guiné
pena que no global groove não dê para encontrar os discos de um artista. por outro lado o holandês dono do blog fez uma marcação por gêneros, ritmos e países. o que tem de guiné, por exemplo, está aqui.
terça-feira, 28 de junho de 2011
nego dito, o doc
e essa frase de paulinho lepetit - "acho que o sucesso bateu na porta dele muitas vezes e ele... ele não atendia" - é uma das melhores definições sobre o artista itamar assumpção.
segunda-feira, 27 de junho de 2011
liberalismo ainda que à tardinha
o stf foi chamado a intervir e disse por acachapante unanimidade o que deveria ser óbvio para qualquer magistrado com dois neurônios e meio: proibir a marcha da maconha é crime contra a liberdade de expressão, um dos bem mais caros de um estado democrático. capisci?
houve outra marcha da liberdade, dessa vez em várias capitais.
estreou nos cinemas o bom documentário quebrando o tabu, de fernando grostein andrade (que antes tinha visto o caetano veloso pelado em coração vagabundo), aquele com fhc ciceroneando uma discussão transglobal sobre alternativas ao proibicionismo, com ênfase na descriminalização e regulação da maconha.
e a revista trip, assumida defensora da causa, fez uma ótima edição temática sobre o “cigarrinho de praia”, com direito a uma longa entrevista com fhc e boas reportagens como a da situação na vizinha argentina (outra vez mais progressista que nosotros). apenas três observações: nada bom usar o título do documentário para chamar para a entrevista do ex-presidente (soou venda casada e a entrevista do bruno torturra é infinitamente melhor que as falas de fhc no filme), deixem de falar com ronaldo laranjeira (aka dr. fruta, que em inúmeras vezes se mostrou uma pessoa preconceituosa e de raciocínio limitado e não há título acadêmico no mundo que me prove o contrário) e muita gente boa ficou de fora das matérias/pautas. no mais, grande trabalho.
quer dizer, momento mais que propício para começar a debater o assunto com o mínimo de maturidade (por parte dos proibicionistas, claro esteja) e acredito que quebrando o tabu tem um papel importante, mesmo com alguns tropeços, na melhora do nível para esse debate. não via cinemas, que pelo jeito sua carreira (ooops) não anda das melhores, mas numa potencial e mais interessante distribuição de seu dvd em escolas da rede pública.
acima de tudo porque é um filme habilmente didático e muito bem ilustrado com dados, além de estar posicionado positivamente sobre a questão das drogas. e o positivo, segundo a linha de pensamento aqui da casa, significa ser favorável a política de redução de danos e descriminalização e regulação, entre outras coisas (o longa trata basicamente da maconha, porque sobre as outras drogas o buraco é mais embaixo). quebrando o tabu e fhc, seu co-autor, desejam sinceramente discutir e entender o assunto, o que é um ganho e tanto para a causa em tempos bicudos de tantas reações neoconservadoras. a presença do tucano, erudito, sério, octogenário, respeitado e paulista fhc também tem um importante valor simbólico, ainda mais quando ele se expõe tão clara e progressistamente sobre um tema “maldito”. mas é isso, se o príncipe fala – “é, gente, esse negócio de combater, essa parada de proibição, deu errado, malzaê” -, porra, você acredita.
e é isso, o proibicionismo deu errado. a violência aumentou, o consumo aumentou, as rotas do tráfico aumentaram e os grandes cartéis caíram para dar lugar a uma gigante e descentralizada (portanto, sem cara) rede de micros e médios cartéis. a maconha, no meio dessa bagunça, é um droga menor e que causa menos danos a saúde que os legais álcool e tabaco. porque então não tirá-la desse circuito ilegal, retirando assim uma grande quantidade de consumidores do contato com outras drogas (mais pesadas)? essa é uma das teses liberais do filme e que ganha uma ajuda importante por meio de uma constatação econômica: tá dando prejuízo para o estado essa história de proibicionismo, afinal os bilhões gastos por tantos países não estão dando resultado nenhum. fora o singelo fato de que drogas são usadas cotidianamente pela humanidade desde o tempo do zás-trás e que a proibição data somente da primeira metade do século 20 (portanto, não tem nem 100 anos). as pessoas continuarão a usar drogas, proibidas ou não. ah, também se fala rapidamente do uso medicinal. e lá se vão fhc e fernando grostein andrade rumo a amsterdã, lisboa, rio de janeiro e outras cidades – e em diálogos com jimmy carter, bill clinton, paulo coelho, dráuzio varela, etc - na procura de soluções, experiências e questionamentos.
difícil mensurar se o filme chegará aos proibicionistas ou se apenas pregará aos já convertidos, mas é sempre melhor fazer algo do que nada, né não? sua existência, seu contexto, seu momento, sua tese, tudo é importante. mas quebrando o tabu é sobretudo um filme de tese que busca números e falas para comprová-la, o que invariavelmente o transforma em propaganda e lhe deixa com poucas facetas. mas diferente de eduardo escorel, que em crítica mal humorada na revista piauí deu uma desancada no documentário, não procuro eduardo coutinho ou frederick wiseman onde não possa achá-los. um filme não pode ser criticado pelo que ele não se propõe ou entramos na egotrip do crítico.
partindo dessa questão complexa da propaganda gostaria de falar de alguns problemas do documentário. quase todos são decorrentes de sua cara liberal elevada, só que não dá para saber quem é o responsável: se o jovem diretor ou o velho intelectual, ou um pouco de ambos. de qualquer forma, esse liberalismo paternalista coloca todos os usuários de drogas como dependentes necessitados de um tratamento de saúde (isso fica bem claro nas falas de fhc, dráuzio varela e paulo coelho). não se menciona o direito individual, a autonomia de cada cidadão no uso de seu próprio corpo e o uso real de drogas com fins recreativos, religiosos e/ou culturais.
por causa dessa postura, o filme perde a oportunidade de entender porque as pessoas fazem uso de drogas. ao falar com um jovem branco de classe média que enfrenta uma série de perigos na biqueira (tanto por parte dos traficantes quanto dos policiais) para comprar sua maconha, o igualmente jovem cineasta não pergunta o que motiva o garoto a fazê-lo. é para dar risada com os amigos? é para assistir algum filme de ação? é para curtir uma larica total? nada, ele não pergunta qual é o barato.
o filme também não questiona a injustiça social que se esconde nas entrelinhas do proibicionismo mundo afora, afinal são os negros e pobres que continuam sendo majoritariamente presos e mortos nessa roda viva. decorrente dessa constatação, outra pergunta é deixada de lado: quem lucra com o proibicionismo, além dos traficantes? o combate ao tráfico, aliás, aumenta o preço das drogas, aumentando assim o lucro e o interesse comercial.
a discussão ainda está no começo nesse brasilzão conservador, mas a descrimizalização e a regulação da maconha (para uma posterior legalização) devem ser encaradas como os principais objetivos – dentro dessa questã das drogas - para uma sociedade mais igualitária e madura. não dá para fazer tudo de uma vez: o assunto é complicado, a ignorância/hipocrisia é muita e as drogas tem os mais variados usos e diferenças entre si. mas é certo que a proibição não ajuda em nada, só atrapalha. as drogas estão com a gente desde sempre, para o bem e para o mal, como tudo que é nosso. não adianta fugir. somos grandinhos, sabemos o que é certo e errado (e quando não sabemos fazemos merda, independente do jeito ou aditivo). simples assim.
p.s.: gostaria de finalizar com a última resposta de fhc na entrevista dada a trip, justamente sobre um dos lados do assunto não tratados em quebrando o tabu:
“eu desconheço qualquer sociedade que não tenha experiências com suas drogas de preferência. isso tem alguma relação com o transcendental. não é uma experiência religiosa, mas tem algum parentesco. é sair do objetivismo, escapar do que você não consegue escapar, que é a sua carne, da mera matéria. então, claro que não espero que um policial vá encarar nesses termos, mas eu não sou um policial. sou um sociólogo e tenho que pensar nisso. tem gente que tem experiências místicas, uma viagem, um barato espiritual. as pessoas buscam essas coisas. eu estudei umbanda. o que é aquilo? também é uma experiência mística, transcendente. e tem ali tabaco, álcool, no meio de uma tentativa de se comunicar com outro mundo. isso é natural, próprio da experiência humana, eu acho que a gente tem que entender isso com uma visão mais ampla. não estou justificando, mas as pessoas precisam ir em busca de si mesmas. às vezes recorrem à droga como desespero. às vezes recorrem sem desespero, conscientemente. eu acho que temos que encarar como parte da vida. não como algo que temos que eliminar. porque isso não se vai conseguir.”
sexta-feira, 24 de junho de 2011
yahoo #08
RÁDIO: ENTRE O AMOR E O JABÁ
Já estava mais que na hora de falar de rádio, esse veículo de comunicação tão potente quanto subestimado (nas últimas décadas) no Brasil. Outros assuntos acabaram tomando à frente aqui na Ultra Pop, mas um texto no site Farofafá!, serviu de estímulo para a frequência modulada finalmente ecoar por essas bandas. Nele, o jornalista Eduardo Nunomura compilou as cinco músicas mais pedidas nas rádios mais populares de 9 grandes cidades brasileiras: Belém (Rádio Liberal), Fortaleza (Jangadeiro FM), Recife (Clube FM), Salvador (Itapoan FM), Belo Horizonte (BH FM), Rio de Janeiro (FM O Dia), São Paulo (Tupi FM), Curitiba (98 FM) e Porto Alegre (Cidade FM). Resolvi acrescentar Goiânia (Rádio Terra 104,3) porque senti falta de um representante do Centro-Oeste.
A sabedoria popular diz que a variedade é o tempero da vida. E eu acrescentaria, parafraseando o saudoso Itamar Assumpção, que tal se a gente sonhasse com o impossível? Uma rádio variada e para todos.
Belém – Rádio Liberal
Fortaleza - Jangadeiro FM
Recife - Clube FM
Salvador - Itapoan FM
Goiânia - Rádio Terra FM 104,3
Belo Horizonte - BH FM
Rio de Janeiro - FM O Dia
São Paulo - Tupi FM
Curitiba 98 FM
Porto Alegre - Cidade FM
pará invade são paulo, outra vez
ou a jovem guitarrada de pio lobato (la pupuña/cravo carbono).
ou o brega sacolejante de edilson moreno.
ou o folclore vivo do carimbó uirapuru.
ou a versatilidade de lia sophia.
ou félix y los carozos que emprestou alguns de seus integrantes (o guitarrista félix robatto e o baterista adriano sousa, ambos ex-la pupuña) para formar a banda base para todo esse terruá.
ou a erudição de sebastião tapajós.
ou as canções de luê soares.
ou as muitas caras/sons de felipe cordeiro (e o pai manoel cordeiro).
ou o compositor paulo andré barata (de hits como "foi assim" eternizado pela conterrânea fafá de belém).
ou os eruditos-moleques da orquestra juvenil de violoncelistas da amazônia.
ou o choro raiz das meninas da charme do choro.
ou o clássico brega solano.
além de, claro, gaby amarantos e a gang do eletro.
domingo, 19 de junho de 2011
sábado, 18 de junho de 2011
anônimos somos nozes
para acompanhar alguns dos movimentos desse coletivo global descentralizado, e cujo um dos símbolos é a máscara do "terrorista" guy fawkes de v de vingança, dê um pulo no your anon news ou então no twitter @YourAnonNews ou ainda no facebook. claro que esses endereços costumam cair, a batalha é dura, mas não é possível "cortar a cabeça de uma cobra decapitada". segue abaixo a tradução do comunicado anonymous que peguei lá do link (grifos meus).
Saudações, membros da OTAN. Nós somos Anonymous.
Em uma recente publicação, vocês destacaram o Anonymous como ameaça ao ‘governo e ao povo’. Vocês também alegaram que sigilo é ‘um mal necessário’ e que transparência nem sempre é o caminho certo a seguir.
O Anonymous gostaria de lembrá-los que o governo e o povo são, ao contrário do que dizem os supostos fundamentos da ‘democracia’, entidades distintas com objetivos e desejos conflitantes, às vezes. A posição do Anonymous é a de que, quando há um conflito de interesses entre o governo e as pessoas, é a vontade do povo que deve prevalecer. A única ameaça que a transparência oferece aos governos é a ameaça da capacidade de os governos agirem de uma forma que as pessoas discordariam, sem ter que arcar com as consequências democráticas e a responsabilização por tal comportamento.
Seu próprio relatório cita um perfeito exemplo disso, o ataque do Anonymous à HBGary (empresa de tecnologia ligada ao governo norte-americano). Se a HBGary estava agindo em nome da segurança ou do ganho militar é irrelevante – suas ações foram ilegais e moralmente repreensíveis. O Anonymous não aceita que o governo e/ou os militares tenham o direito de estar acima da lei e de usar o falso clichê da ‘segurança nacional’ para justificar atividades ilegais e enganosas. Se o governo deve quebrar as leis, ele deve também estar disposto a aceitar as consequências democráticas disso nas urnas. Nós não aceitamos o atual status quo em que um governo pode contar uma história para o povo e outra em particular. Desonestidade e sigilo comprometem completamente o conceito de auto governo. Como as pessoas podem julgar em quem votar se elas não estiverem completamente conscientes de quais políticas os políticos estão realmente seguindo?
Quando um governo é eleito, ele se diz ‘representante’ da nação que governa. Isso significa, essencialmente, que as ações de um governo não são as ações das pessoas do governo, mas que são ações tomadas em nome de cada cidadão daquele país. É inaceitável uma situação em que as pessoas estão, em muitos casos, totalmente não cientes do que está sendo dito e feito em seu nome – por trás de portas fechadas.
Anonymous e Wikileaks são entidades distintas. As ações do Anonymous não tiveram ajuda nem foram requisitadas pelo WikiLeaks. No entanto, Anonymous e WikiLeaks compartilham um atributo comum: eles não são uma ameaça a organização alguma – a menos que tal organização esteja fazendo alguma coisa errada e tentando fugir dela.
Nós não desejamos ameaçar o jeito de viver de ninguém. Nós não desejamos ditar nada a ninguém. Nós não desejamos aterrorizar qualquer nação.
Nós apenas queremos tirar o poder investido e dá-lo de volta ao povo – que, em uma democracia, nunca deveria ter perdido isso, em primeiro lugar.
O governo faz a lei. Isso não dá a eles o direito de violá-las. Se o governo não estava fazendo nada clandestinamente ou ilegal, não haveria nada ‘embaraçoso’ sobre as revelações do WikiLeaks, nem deveria haver um escândalo vindo da HBGary. Os escândalos resultantes não foram um resultado das revelações do Anonymous ou do WikiLeaks, eles foram um resultado do conteúdo dessas revelações. E a responsabilidade pelo conteúdo deve recair somente na porta dos políticos que, como qualquer entidade corrupta, ingenuamente acreditam que estão acima da lei e que não seriam pegos.
Muitos comentários do governo e das empresas estão sendo dedicados a “como eles podem evitar tais vazamentos no futuro”. Tais recomendações vão desde melhorar a segurança, até baixar os níveis de autorização de acesso a informações; desde de penas mais duras para os denunciantes, até a censura à imprensa.
Nossa mensagem é simples: não mintam para o povo e vocês não terão que se preocupar sobre suas mentiras serem expostas. Não façam acordos corruptos que vocês não terão que se preocupar sobre sua corrupção sendo desnudada. Não violem as regras e vocês não terão que se preocupar com os apuros que enfrentarão por causa disso.
Não tentem consertar suas duas caras escondendo uma delas. Em vez disso, tentem ter só um rosto – um honesto, aberto e democrático.
Vocês sabem que vocês não nos temem porque somos uma ameaça para a sociedade. Vocês nos temem porque nós somos uma ameaça à hierarquia estabelecida. O Anonymous vem provando nos últimos anos que uma hierarquia não é necessária para se atingir o progresso – talvez o que vocês realmente temam em nós seja a percepção de sua própria irrelevância em uma era em que a dependência em vocês foi superada. Seu verdadeiro terror não está em um coletivo de ativistas, mas no fato de que vocês e tudo aquilo que vocês defendem, pelas mudanças e pelo avanço da tecnologia, são, agora, necessidades excedentes.
Finalmente, não cometam o erro de desafiar o Anonymous. Não cometam o erro de acreditar que vocês podem cortar a cabeça de uma cobra decapitada. Se você corta uma cabeça da Hidra, dez outras cabeças irão crescer em seu lugar. Se você cortar um Anon, dez outros irão se juntar a nós por pura raiva de vocês atropelarem quem se coloca contra vocês.
Sua única chance de enfrentar o movimento que une todos nós é aceitá-lo. Esse não é mais o seu mundo. É o nosso mundo – o mundo do povo.
Somos o Anonymous.
Somos uma legião.
Não perdoamos.
Não esquecemos.
Esperem por nós…
sexta-feira, 17 de junho de 2011
um jovem blues rock tuareg
e recentemente surgiu um video para "aratan n tinariwen", uma das melhores músicas do disco toumastin.
jovino santos neto, a entrevista
AUTOEXÍLIO EM SEATTLE
Engraçado que não foi uma decisão consciente. Quer dizer, houve um planejamento, mas a escolha do lugar... foi mais o lugar que escolheu a gente que o contrário. Na época que sai do grupo do Hermeto... aliás, uma das razões que me fez querer sair do grupo do Hermeto... queria fazer um aperfeiçoamento em certas áreas, regência por exemplo. Conhecia alguns conservatórios ligados a universidades, mas que eram de uma praia mais careta que a minha praia musical. Ópera e coisas assim. Fui perguntando a amigos... por coincidência, dois anos antes, em 1990, quando ainda estava com o Hermeto fizemos uma turnê por várias cidades dos Estados Unidos, todas as grandes. Miami, Chicago, Nova York, Los Angeles, San Francisco e passamos por Seattle a caminho do Canadá. Senti uma vibração muito boa naquela cidade. Senti em outras cidades também. Mas antes de pensar em sair do grupo foi em Seattle que pensei, “poxa, gostaria de morar aqui”. O visual, o verde, muita água, montanhas. Gosto disso, sou do Rio de Janeiro e essas coisas sempre me chamaram. Dois anos depois quando pensei em me aperfeiçoar como regente, compositor e criar minhas raízes próprias pensei na cidade. Não conhecia ninguém lá. Por intermédio de amigos cheguei ao Julian Priester, trombonista excelente que já tocou com o Herbie Hancock e mora lá. Mandei um fax pra ele, não tinha email na época, dizendo que estava procurando um lugar para estudar e se ele conhecia. Imediatamente ele me respondeu que tinha uma escola no qual ele também dava aula e que era um lugar aberto, eclético. Era a Cornish College of the Arts e estou lá até hoje, dando aulas. Fui como aluno, fiz dois semestres e já comecei a dar aula. Não estava atrás do diploma, só queria ter aquela instrução básica e quando começaram a aparecer uns trabalhos de regência larguei as aulas. Também montei uma banda. Fora isso toda a parte burocrática de vistos e green card aconteceu de uma forma meio mágica. Talvez hoje em dia não rolasse, mas naquela época aconteceram uma série de coincidências que ajudaram. Menos de um ano após a nossa chegada já estávamos completamente legalizados e radicados. Como já estamos lá há 15 anos já podemos pegar cidadania americana, mas não é uma coisa que eu pense.
AÇÕES MUSICAIS
Fiz de tudo um pouco, mas toquei principalmente. Toquei com o Airto Moreira e a Flora Purim durante três anos. A gente viajou bastante pra Europa e nos Estados Unidos, viemos até para o Brasil... comecei a me envolver com áreas diferentes da música. Arranjos e composições para formações de câmara... possibilidades que surgiram por essa abertura da Cornish. Toquei com gente do jazz, do free jazz, músicos de outros países... e formei uma banda com amigos da faculdade que está junta até hoje... gravamos três discos juntos e vamos gravar mais...
TRABALHANDO COM HERMETO
Aqui eu trabalhava com o Hermeto Pascoal que é a maior referência musical instrumental que alguém pode ter... 15 anos com o Hermeto é uma escola no qual você aprende todas as coisas possíveis sobre a música instrumental brasileira... sou muito grato por isso, por esse aprendizado... e não foram 15 anos tocando uma vez por semana... foram 15 anos com ensaios 5 dias por semana, 6 horas por dias, 30 horas por semana, religiosamente, faça chuva, faça sol. Além das inúmeras turnês que fizemos pelo Brasil, Ásia, Europa, Estados Unidos. Tivemos uma convivência muito próxima. O ensino não era só piano, era música em geral, arranjos, composição, liderança de conjunto, flexibilidade, improviso, tudo isso a gente aprendeu com o Hermeto. Foi uma formação muito boa.
O Hermeto é um daqueles casos raros. O grau de expansão musical que ele tem... porque dom musical não é tão raro quanto as pessoas querem crer. Quase todas as crianças são musicalmente bem dotadas, mas conforme elas vão crescendo surgem os limites, geralmente auto-impostos. Hermeto também tinha esse dom quando era criança, provavelmente um pouco maior, mas o que aconteceu é que desde criança ele sentiu que aquilo era um trabalho, o seu trabalho. Já tocava aos 8, 9 e já era profissional aos 14. Olha, tocar em rádio naquela época era uma das coisas mais difíceis do mundo porque tinha que saber tocar tudo, rápido e ao vivo. Então ele teve que desenvolver antenas pra captar rapidamente essas informações. E Hermeto é muito disciplinado, estuda muito. Se você for na casa dele hoje, agora, ele estará estudando. Ele não pára e tem uma energia incrível. Fizemos há pouco um show em Toronto, no qual regi uma orquestra com 20 músicos e ele deu um banho em todo mundo. Quase quatro horas de show e a gente só correndo atrás, tentando alcançar ele.
ENSINAR MÚSICA BRASILEIRA
Bossa nova, samba e escola de samba. Procuro escapar desses clichês no curso que dou na universidade sobre a história da música brasileira. Falo de música nordestina, da influência dos ritmos africanos e das linguagens africanas na nossa música e as pessoas ficam impressionadas. Claro que não dá nem para arranhar a complexidade da história da nossa música nesse curso. É só uma casquinha. Agora, a razão da nossa música ser tão rica e tão aceita no mundo inteiro é porque ela condensa influência musicais do mundo inteiro, muito mais que qualquer outra cultura que eu conheça. Leste Europeu, Polônia, Hungria, no caso das polkas; as valsas de Viena da união de Dom João VI com os Habsburgos; as inúmeras e diferentes influências africanas porque em nenhum outro lugar vieram tantos escravos de lugares tão diferentes; a música indígena... tudo isso faz parte de um aprendizado que ainda não acabou.
Ao ir para os Estados Unidos tive oportunidade de entrar em uma área mais histórica. Sou fascinado por História e lá comecei a ler sobre aqui, o que acabou influenciando a minha música. A leitura de O Povo Brasileiro do Darcy Ribeiro influenciou muito o meu primeiro disco (Caboclo).
NO PALCO
Quando subo no palco para fazer um show não estou simplesmente tirando uma coisa de uma caixinha, do zero, do nada. Estou na realidade lançando uma linha, uma rede em um mar cheio de peixes, cheio de idéias musicais que estão ali a mais de 500 anos. É um fonte enorme de alimento para o amanhã, para gerações futuras. Uma das coisas que o Hermeto passou pra gente é que a música está em constante movimento.
ALMA DO NORDESTE, O PROJETO, O DISCO
Esse autor [C. Nery Camello] viajou pelo sertão da Bahia e outros lugares do Nordeste, em 1936, mesmo ano em que Hermeto nasceu. Não é um livro organizadinho. Uma hora está em Pernambuco, outra hora na Bahia, e fala de um cantador e depois fala de outra coisa. É um livro de impressões. Ele anotava tudo, poesias inteiras, o linguajar. Tem fotos no livro. Esse livro me impressionou um bocado. Sou do Rio de Janeiro, neto de nordestinos, mas nunca passei um tempo no Nordeste quando estava aqui. Tenho família em Recife e tudo o mais. Então deu um estalo e montamos o projeto. Refazer os passos desse escritor e retratá-los musicalmente. Em meados de 2006 o projeto foi aprovado. Já tinha esquecido. Levamos mais um ano para deixar tudo amarradinho pra viagem que aconteceu em maio de 2007.
Dentro da idéia musical do projeto estava a vontade de criar a música a partir dos sons, cheiros dessa viagem. Já conhecia muito de música nordestina através do trabalho com o Hermeto. Agora eu queria uma coisa diferente. E deu tão certo essa experiência que voltei para Seattle e levei uma semana para compor quase todas as músicas do disco.
Durante a viagem foi só observação. E também não estava buscando música, especificamente. É bom falar isso. Outro ensinamento de Hermeto: o músico não pode se inspirar só em música porque fica naquele círculo de auto-referência. Você se fecha num universo muito limitado. Você tem que se inspirar nas árvores, nas coisas, nas pessoas... uma freada de carro na rua pode ser uma inspiração musical. No Nordeste aconteceu isso. A gente estava em um hotel em Arapiraca, num sábado anterior ao Dia das Mães, ouvindo a gritaria das pessoas vendendo coisas. Caminhões com auto-falantes, a molecada vendendo CD pirata com uns carrinhos que pareciam aqueles de picolé com caixas de som imensas ligadas em bateria de carro, uma igreja evangélica com banda... uma cacofonia... a princípio eu odiei... tinha uma expectativa porque era a terra do Hermeto, e eu já tinha estado em Arapiraca muitos anos antes com ele... ah, vou encontrar uma coisa linda... cheguei e era um caos urbano como outro qualquer... quis sair correndo, mas parei pra pensar e achei que a gente estava ali por algum motivo. Isso acabou entrando no disco porque em vários momentos os músicos improvisam juntos e ao mesmo tempo. Não é aquela coisa de primeiro improvisa o piano, depois o saxofone e por aí. É uma conexão, todo mundo produz som e se ouve, ao mesmo tempo. Também vimos coisas lindas como a Serra da Borborema...
Foi tudo bem. O carro se comportou [risos]... mas realmente não houve nenhum desapontamento. Estava esperando voltar no tempo nessa viagem, atraso, essas coisas... mas todos os hotéis tinham internet sem frio e de graça, achei as estradas ótimas, a infra estrutura rolou tão legal, toda a pré-produção foi muito boa... e fiz um mapa ao acaso pegando coisas do livro e riscando o trajeto pelo Google Earth. Mas eu não sabia o que ia fazer em algumas cidades, quem ia encontrar... em alguns lugares tinha contato e em outros a gente logo ia pra feira ou pro mercado municipal e a história começava. Foi tudo muito bem. Voltamos com a mala cheia de idéias e por isso a música aconteceu muito naturalmente. Sem sofrimentos. Acabei escrevendo mais que devia. Veio muita música.
INTERNET E COMPARTILHAMENTO
O que é bacana na internet é que o meu outdoor é do mesmo tamanho que o de uma grande gravadora. É do tamanho da tela do computador.
A mídia CD realmente está acabando, mas ao mesmo tempo, quando a gente faz um show, o pessoal procura o CD e pede para autografar. Quer dizer, não dá para assinar o MP3! Sempre haverá a necessidade de um suporte físico. Poxa, até o vinil está voltando. Mas quero disponibilizar minhas músicas no formato digital.
Consigo ver os dois lados. Como compositor que paga aluguel, compra o leite das crianças, e vivendo com os direitos que a gente tem vendendo o nosso trabalho, não é legal ver as pessoas consumindo a minha música sem pagar nada. É como andar na rua e todo mundo passar a mão na sua carteira. Isso não é legal. Por outro lado, faço tanta música que não vejo problema nenhum em colocar algumas dessas músicas para as pessoas baixarem. Serve também como estímulo para as pessoas ouvirem mais músicas. Sempre quis que as pessoas levassem as partituras das minhas músicas após meus shows. Música é trabalho, mas também é fonte e fonte que não pode secar. O sujeito pode ir lá e beber um litro, pode ir lá e pegar três garrafas, é fonte de água e continua jorrando. De onde saiu essa tem muito mais.
ESTRANGEIRO BRASILEIRO
Não dá para dizer que morarei em Seattle para sempre. Mas é uma cidade que tem sido muito boa pra mim e pra minha família. E continua sendo. Existem muitos tipos de imigrantes, gente que perde mais a identidade, que perde menos. O Egberto Gismonti me disse uma vez que todas as vezes que morou fora perdeu a conexão com o Brasil. Já o Airto Moreira mora nos Estados Unidos desde 1968 e não existe uma pessoa mais brasileira que ele. Que nem o Sérgio Mendes, que continua sendo um cara de Niterói, apesar de todo sucesso que ele já fez em todo mundo. Acho que sou desse segundo tipo. Morando lá sou mais brasileiro do que morando aqui. Ampliei meu conceito de lar. Mas ainda não equilibrei porque gostaria de vir mais vezes para cá. Por mim viria muito mais... umas três vezes por anos, passar três semanas no máximo... essa é a minha dose, é um prazo legal... na época do meu avô a gente chamava esse período de “estação de águas” [risos]...
quinta-feira, 16 de junho de 2011
segunda-feira, 13 de junho de 2011
a física dança
40 Winks "Outside The Box" Official Video (It's The Trip - Project: Mooncircle, 2011) from Project Mooncircle on Vimeo
esse som se chama "outside the box" e é dos produtores belgas do 40 winks. a direção do video é do coletivo holandês lgb5. descobri via blog do blundetto.
yahoo #07
A BANDA MAIS COISINHA-BEBÊ DO BRASIL
Está lá marcado. 17 de maio de 2011, uma terça-feira, será para sempre lembrado como a data do início da invasão d’A Banda Mais Bonita da Cidade (o nome veio de um conto de Charles Bukowski). Pode também não ser nada disso, invasão coisa alguma, modinha passageira. Certo é que o clipe de “Oração”, uma das poucas músicas do repertório desse quinteto formado em Curitiba, já foi visto por mais de 2 milhões de vezes em apenas uma semana (isso sem contar blogs e sites ao qual foi incorporado). E não precisou do aval de nenhuma figura influente no twitter para que isso acontecesse. Foi fogo morro acima. Claro que tanta popularidade instantânea trouxe críticas e narizes torcidos e vamos aqui investigar, como esforçado cientista social-musical que sou, os dois fenômenos.
Caso A: o sucesso, a aceitação
Composto por dois paranaenses, um gaúcho, um paulistano e um carioca, o grupo fez uma música com toda pinta de singelo hino hippie (na verdade a canção é de um amigo, Léo Fressato, que conduz o clipe). Poucos versos, refrão fácil e pegajoso, clima de celebração ao redor de uma fogueira e muito amor e coração e fofurices do tipo. Pop, enfim. Não tinha como dar errado. Mas “Oração” poderia ter passado batido como tantas outras se não fosse o clipe. Acho, sinceramente, que não teria chance alguma por si só.
A referência assumida e explícita veio dos vídeos feitos pelo francês Vincent Moon para as músicas “Sunday Smile” e “Nantes”, do grupo americano Beirut. Em um plano sequência muito bem feito que percorre os cômodos de uma casa antiga em Rio Negro (PR), a música ganha caras de todas as cores e jeitão de festa entre amigos. Impossível não lembrar daquela viagem nos tempos da faculdade. “É muito louco fazer parte de uma coisa assim, que ‘bombou’ na hora em que eu fui almoçar”, explicou aos risos Vinícius Nisi, um dos integrantes da banda bonita a repórter Lívia Deodato, do site da revista Marie Claire. E esse talvez seja um outro motivo do sucesso: a simplicidade. Ninguém parece artista. Quem está ali no vídeo cantando e se divertido é igualzinho a quem está assistindo e se divertindo. Espelho, tá ligado?
Não dá para profetizar se A Banda Mais Bonita da Cidade vai durar. Eles podem ficar reféns dos clipes, como ficaram os americanos do OK Go (lembram de “Here It Goes Again”, aquele vídeo todo feito em esteiras emparelhadas?), e aí a música sai perdendo. Podem sair por aí falando mal um do outro depois de participarem do Domingão do Faustão e o tal clima de amizade escorrer pelo ralo. Vai saber…
Caso B: a reação, a negação
Tão rapidamente quanto os inúmeros “ai, que fofo” ou “coisa mais lindinha de deus” vieram os chutes na cara e os duplos carpados no meio das ideias. E falou-se mal da música (fraca, chatinha, melosa, hippie, etc.), do “casting” (aquela alegria de comercial de margarina), dos 2 milhões de views (tudo trouxa), do vídeo (cópia descarada), etc. Algumas dessas críticas são factíveis (eu, particularmente, achei a música péssima e gostei do clipe), mas em tempos 2.0 não basta ter opinião própria é preciso brandi-la como uma machadinha de filme de terror e partir para a esculhambação (uma coisa é ironia, outra é agressão, claro esteja). Só dar uma espiada em qualquer janela de comentários de grandes portais como o Yahoo.
No entanto, em algumas dessas críticas é possível vislumbrar o bom e velho complexo de vira-lata brasileiro. Se a música fosse cantada em inglês muitos dos que a odiaram sairiam por aí compartilhando enlouquecidamente nas redes sociais como a nova esperança branca indie. Outro tipo clássico entre os mal humorados de plantão é aquele que rejeita tudo que virou popular. Pensam assim: bom mesmo é o grupo que apenas eu e mais 47 pessoas conhecem e se passar disso são um bando de vendidos.
Poucos se dão conta que, talvez, o mais divertido desse fenômeno é a quantidade de releituras, covers e mashups, mais ou menos irônicos, que a música gerou em tão pouco tempo. Tem “A banda mais bonita da internet” (com influentão Rafinha Bastos pegando onda no sucesso dos outros), “O cão mais arrependido da internet” (com citação direta ao programa do Chaves), “A banda mais repetitiva da cidade”, “A redação mais bonita da cidade” e “A segunda banda mas bonita da cidade”, entre muitos outros. Tudo pode ser (e será) transformado em piada no mundo maravilhoso da internet e com A Banda Mais Bonita da Cidade não seria diferente.
p.s.: ah, e se você for do tipo que se insulta facilmente com palavrões é melhor nem assistir o clipe-paródia abaixo feito a partir da música “Bonde da Orgia de Travecos” dos mineiros da UDR . Depois não diga que não avisei.
sábado, 11 de junho de 2011
música é trabalho e fonte
quinta-feira, 9 de junho de 2011
3 mulheres, 3 línguas
Lurdez Da Luz e Alafia - Ela É Favela from DF5 - Distribuidora de Filmes Fo on Vimeo
já rihanna é estrela internacional e autora de um gigantesco hit ("umbrella", do ótimo good girl gone bad, de 2007), mas tinha perdido as esperanças nela depois de um disco muito ruim (rated r, de 2009). tanto que nem ouvi loud (def jam, 2010) até o bruno natal falar dos ares jamaicanos do clipe e da música "man down".
a francesinha isabelle geffroy, ou zaz, é nova no ramo e estreou ano passado no disco zaz (play on/sony, 2010). uma coisa meio jazz, meio pop, meio tudo. mas com uma música bonita como essa "la fée" nem é preciso correr atrás de rótulos, né?
sábado, 4 de junho de 2011
week end à congolesa
quarta-feira, 1 de junho de 2011
kid cudi aprontando mais uma
KID CUDI- MARIJUANA from Grassy Slope on Vimeo
"marijuana" é a faixa 5 do ótimo man on the moon 2: the legend of mr. rager (universal motown, 2010) que tem ainda outras músicas muito boas como "scott mescudi vs. the world", "erase me" e "mr. rager", mas nada que chegue aos pés de "day 'n' nite" e "pursuit of happiness", as faixas matadoras de man on the moon: the end of day (universal motown, 2009).