não sou de poesia, nunca fui. tentei durante um tempo e gostei de alguns caras batutas como t.s. eliot e e.e. cummings. até cheguei a escrever algumas ali pelo final da década de 1990, mas vi que não era a minha, não dava conta. só que uma poesia em particular nunca me saiu da cabeça desde que conheci sua autora na biblioteca do meu pai (seção 'leste europeu/rússia') muitos anos atrás. "versos à tchecoslováquia" foi escrito em 1939 pela russa marina tsvetaeva (1892-1941) por conta da invasão nazista ao país vizinho e é uma das mais fortes odes à liberdade e ao espírito (político) livre. só que marina não se dobrou também aos seus próprios conterrâneos que transformaram a revolução popular de 1917 em um absurdo banho de sangue interno. e pagou caro por isso: viveu na pobreza, perdeu uma filha para a fome, outra filha foi presa, o marido executado acusado de espionagem e, finalmente, o seu suicídio aos 48 anos (quinze dias após a morte do marido, sergei efron). "versos à tchecoslováquia" continua tremendamente atual e serve como alerta constante contra novos e velhos obscurantismos, a violência de sempre.
Versos à Tchecoslováquia
tradução de Augusto de Campos
Lágrimas de ira e de amor!
Olhos molhados, quanto!
Espanha em sangue!
Tchecoslováquia em pranto!
Montanha negra -
Toda a luz amputada!
É tempo - tempo - tempo
De devolver a Deus a entrada!
Eu me recuso a ser.
No asilo da não-gente
Me recuso a viver.
Com o lobo regente
Me recuso a uivar.
Com os tubarões do prado
Me recuso a nadar,
Dorso quebrado.
Ouvidos? Eu desprezo.
Meus olhos não têm uso.
Ao teu mundo sem senso
A resposta é - recuso.
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