PAI Ó PAI
Já são quatro anos e meio de produção e pouco mais de 30
vídeos. Então, a essa altura do campeonato, podemos afirmar que Inri Cristo possui uma considerável
obra audiovisual digna de análise. Aquelas “versões
místicas”, sabe? Paródias de grandes sucessos do pop rock nacional e
internacional com letras de louvor ao “emissário do Pai” em clipes surreais e
primitivos da cabeça aos pés.
Provavelmente a primeira que vi foi a de “Umbrella” (Rihanna) e tudo já estava
ali: a jovem Alara apresentando a mensagem do vídeo com algum elemento cênico;
o vocal sempre desencontrado das cantoras Asusana e Alíbera (sempre nos cantos
esquerdo e direito do vídeo, respectivamente); a filmagem caseira pelas árvores
do terreno da Suprema Ordem Universal da Santíssima Trindade; cenas roubadas de
bancos de imagens; fotos de arquivo de Inri e algumas silenciosas e impagáveis
aparições. Enfim, diversão nonsense garantida.
Vieram loucuras como o espírito boxeador de “Eye of the tiger” (Survivor), uma
corajosa versão a capela de “What a
feeling” (Irene Cara), o êxtase sacolejante em “Single ladies” (Beyonce), a doçura épica
de “We are the world” (Michael
Jackson e Quincy Jones), a transformação de “Take you there” (Sean Kingston) em um
quase rap e os surtos eletrônicos de “Hot
n’ cold” (Katy Perry) e “Just dance”
(Lady Gaga). O sagrado balaio de gato de Asusana e Alíbera também vitimou “Hotel California” (Eagles), “Living on a prayer” (Bon Jovi), “Wind of change” (Scorpions), “Crusader” (Saxon) e “Rehab” (Amy Winehouse). Mas nessa
primeira fase nada supera o “plágio divino” de “Toxic” (Britney Spears). Saca
só o grau de genialidade tosca.
Deu um vazio no coração quando notei, em meados de 2010, que
Alíbera, minha preferida, tinha sumido das “versões místicas”. Será que ela
largou de vez esse lance de Inri? Nunca soube. Revelador que o último vídeo que
gravou foi uma cover do bolerão “Contigo aprendi”
(Armando Manzanero) em algum lugar na Cordilheira dos Andes (?!). Uma nova fase
(para todos) começava.
Com a saída de Alíbera, Assinoê tornou-se protagonista. Ela,
que já havia feito uma participação davidlynchiana em “Sorry” (Madonna), passou a cantar com
seus dramáticos olhos malucos e voz grave coisas tão diversas como “Breaking the law” (Judas Priest), “Judas” (Lady Gaga), “Imagine” (John Lennon), “Rolling in the deep” (Adele), “Ai se eu te pego” (Michel Teló), “Warriors of the world united” (Manowar)
e “Ciúme” (Ultraje a Rigor). Nessa
segunda fase, os vídeos passaram a ganhar outros cenários, desde novas partes
da Terra de Inri até as margens do Lago Paranoá (Brasília), e recursos visuais
mais, digamos assim, sofisticados.
A fiel e animada Alara também foi promovida e contribuiu com
uma atuação mais moleca-romântica, o que ajudou muito em “I want to know what love is” (Foreigner),
“Baby” (Justin Bieber), “Did it again” (Shakira) e “Friday” (Rebecca Black), sempre em dupla
com Asusana. Só que, ambiciosa, encarou sozinha “A banda” (Chico Buarque), uma das
músicas preferidas de Inri.
De um ano para cá, novas “inrizetes”
vem sendo testadas, o que acabou jogando Asusana para escanteio. A mais
promissora é a bela e expressiva Adeí que apareceu dividindo microfone com
Alara em “We r who we r” (Ke$ha), mas
já encarou o desafio solo na complexa e dolorida “Conquest of Paradise” (Vangelis). A
outra é Alysluz, que ainda precisa se soltar um tantão, mas não se preocupem
porque Alara há de ensinar. Só que em tão pouco tempo, Alysluz teve a sorte de
participar de dois dos melhores vídeos da carreira das “versões místicas”: a
superprodução “Gangnam Style” (Psy) e
“Wannabe” (Spice Girls).
O que acho mais lindo nisso tudo é o desprendimento, o auto
deboche. Nesse fantástico mundo maluco da internet vídeos assim viram piada
instantaneamente – e lá se vai a “mensagem” de Inri Cristo pelo ralo – e a
turma continua produzindo, ano após ano. Sabem talvez que falem bem, falem mal,
mas falem de mim (quer dizer, Dele). De qualquer forma todos os envolvidos
devem se divertir bastante, e os de fora que tem bom humor também. Isso é o que
importa, ó Pai, ó.
Até sempre, pessoal. Com ou sem pimentões.
p.s.: E se você
quiser saber um pouco mais sobre Inri Cristo tome um chopinho com ele em companhia de Michel Blanco.
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