quarta-feira, 25 de março de 2009

eles acreditam no semáforo

ok, acabou de acontecer o radiohead em são paulo e no rio, delírio geral, mas podem ter certeza que hoje à noite, mais precisamente no multishow (22h45), o vanguart apresentará um showzaço. acompanhei a gravação em dezembro de 2008 e fiz uma reportagem pra edição de março da monet. o especial, que também sai em cd e dvd, trouxe algumas inéditas, uma cover de dorival caymmi e as partipações de mallu magalhães, luiz carlini e arthur de faria. falei com este último pra matéria da monet, mas a conversa acabou não entrando na edição final (coloquei então a conversa no blog da monet e no gafieiras; versões ligeiramente diferentes conforme o veículo, claro).
então, som na caixa.


o quinteto em foto de marcos hermes

SOM DE GENTE GRANDE

Vanguart vem de vanguarda, mas também de um vídeo sobre o artista plástico Andy Warhol, o que na verdade dá no mesmo. Mas o Vanguart vem mesmo é de Cuiabá, Mato Grosso. Cinco sujeitos, um frontman decidido e, em comum, o rock, mais precisamente o folk rock. Pois então, este grupo é protagonista de uma boa história sobre novos tempos para a música nacional. Revelados por um intenso boca-a-boca na internet e sacramentados pelo sucesso no circuito de festivais independentes Brasil afora, e com apenas um disco cheio de canções em inglês no currículo, o quinteto passou por muita coisa até chegar a recente gravação do especial Multishow Registro – Vanguart. Hélio Flanders, garoto de fala fácil, bom humor e muitas canções pela cabeça, pode conta melhor.

“A gente já entrou no turbilhão quando veio para São Paulo em 2005. Mas até o final do ano passado tudo estava acontecendo em doses homeopáticas. Quer dizer, a gente ia gravar esse show de qualquer jeito, mas seria uma coisa de guerrilha, tanto por não ter condições financeiras, quanto por querer uma coisa mais louca.” Era uma quarta-feira qualquer de janeiro, três e pouco da tarde, e o show havia sido gravado pouco mais de um mês. “Em novembro recebemos o convite do Multishow e sabíamos que seria melhor ter uma ajuda nessa parte [o registro do show]
. A garçonete interrompe e Hélio, depois de pensar um pouco e ver a hora no relógio, solta: Olha, não vou beber cerveja não, vou de suco de pitanga.” O quinteto assinou contrato com a gravadora Universal e se enfurnou por quase 20 dias em estúdio para ensaios e outras milongas pantaneiras, incluindo aí a lapidação de algumas inéditas.

Alheio a modismos que fazem tanto o gosto de grandes gravadoras, o Vanguart ainda conseguiu o surpreendente feito de assumir a produção e direção musical do show, que será lançado em CD e DVD alguns dias após a exibição no Multishow. “A gente quis que o trabalho fosse feito do nosso jeito. Foi uma maneira de nos protegermos de qualquer problema. E não é que não queremos ouvir ninguém, ou que a gente toque pra c******, mas executamos nossa música de uma maneira que precisa ser ouvida com mais atenção. E isso fica mais evidente nesse show e a gente sabe isso melhor que ninguém. Dá pra perceber nuances que normalmente não se consegue ouvir numa casa noturna.”

O quinteto subiu ao palco do Avenida Club, em São Paulo, na úmida noite de 11 de dezembro e a platéia que o esperava era formada por fãs que estavam lá para jogar a favor. “A gente nunca foi inacessível com os fãs, e como não somos da moda, eles são para sempre. São fãs de guerrilha, de fazer boca a boca, de espalhar a banda. Mas acho que isso foi algo que a gente plantou, sabe? Respondemos e-mails, conversamos de igual para igual e recebemos no camarim numa boa. Antigamente você ligava numa rádio e tinha que ouvir o que estava tocando. Hoje na internet tem um milhão de coisas, então pra alguém ouvir a sua música é algo muito especial. Valorizo muito isso.” Ao fundo do palco, uma grande árvore estilizada e assinada pelo cenógrafo Zé Carratu aguardava entre luzes azuis o grupo, seus três convidados (Mallu Magalhães, Luiz Carlini e Arthur de Faria) e ainda um quarteto de cordas. “São pessoas sensacionais que não estão na grande mídia, com exceção da Mallu, e qualquer um que ouví-los vai perceber que são incríveis e deram um upgrade nas músicas.”

Totalmente à vontade no palco, Hélio Flanders brincou com a platéia (“Noite especial, minha gente, até fiz o cabelo! Mentira! Jamais!”) e comandou um show em alta rotagem, no qual alternou sucessos próprios como “Semáforo”, “Cachaça” e “He Yo Silver”, apenas um cover (“O Mar”, de Dorival Caymmi, em versão divertida e veloz) e quatro inéditas (“Entre Ele e Você” e “Promessas de Navegação”, entre elas). Cada vez mais cantando e compondo em português, Flanders assume as mudanças com naturalidade. “Mesmo que algumas pessoas possam achar que por causa disso estamos nos ‘dobrando ao mercado’ tenho absoluta certeza que qualquer compositor que faça músicas em inglês no Brasil se frustra cedo ou tarde. Senti a necessidade de criar canções que mexessem com as pessoas e que desse uma resposta imediata. Os compositores que mais admiro são aqueles que cutucam as pessoas - Lou Reed, John Lennon, Bob Dylan, Chico Buarque e Cartola, por exemplo - e de uma maneira bem modesta também queria fazer isso.”

Amparado pelos amigos Luiz Lazzaroto (teclados), David Dafré (guitarra, vocais), Reginaldo Lincoln (baixo, vocais) e Douglas Godoy (bateria), o decidido Flanders quer ampliar os horizontes do Vanguart e emplacar parcerias com outros músicos. “Um dia desses estava pensando assim: não é a gente que é bom, é o resto que é ruim. O rock brasileiro é muito tosco, em sua grande maioria. É tocado muito mal, gritado, não existe capricho no som. Mas aí, de uma hora pra outra, ouvi umas dez bandas muito boas. Aí pensei: f****!!! Vamos ter que sacudir, tocar muito bem, porque tem gente boa por aí. E o mais bacana é que nenhum deles vai parar de produzir porque não estourou.” Música também serve para isso, continuar vivendo.

sobre os convidados...

Mallu Magalhães
A sensação Mallu e Hélio Flanders namoraram por alguns poucos meses no ano passado e se tornaram bons amigos desde então (criaram um projeto paralelo chamado Overcoming Folk Trio). Ela canta e toca gaita em “The Last Time I Saw You”.

Luiz Carlini
Uma das lendas vivas da guitarra brasileira, Carlini é membro-fundador da Tutti-Frutti, banda que acompanhou Rita Lee entre os anos de 1973 e 78 (época dos discos Fruto Proibido e Babilônia). Tocou slide guitar na inédita “You Know Me So Well”.

Arthur de Faria
O gaúcho maluco e genial possui carreira sólida como instrumentista, compositor, arranjador e produtor, mas ainda é pouco conhecido para além dos Pampas. Toca acordeon em “Robert” e assina arranjos de cordas em três outras músicas.

2 comentários:

Carol Nogueira disse...

Como sempre, adorei o texto e a entrevista, e me sinto honrada por ter lido (em partes) em primeira mão. :) Até que enfim vou assistir esse show do Vanguart! hehe
Besos!

Érico San Juan disse...

"Música também serve para isso, continuar vivendo". Que frase genial!!!