ENTENDENDO O FENÔMENO PEPE MUJICA
Ele é um fenômeno nas redes sociais brasileiras, mas também
é personagem de perfis jornalísticos elaborados no norte-americano New
York Times, no inglês Guardian e no
espanhol El
País. Todos amam Pepe Mujica, presidente do Uruguai, e quase tudo que faz
acaba virando manchete em todo mundo. A mais recente foi a sua não
ida ao Vaticano para a entronização do Papa Francisco I (“Eu não sou crente
e o Estado uruguaio é laico”, disse, sem papas na língua). O curioso é que esse
amor atravessa fronteiras políticas e vai da esquerda à direita e às vezes
pelos mesmos motivos.
Eleito presidente em novembro de 2009 e empossado em março
de 2010, Mujica, 77 anos, já era uma figura conhecida das esquerdas latino-americanas.
Foi um dos líderes tupamaros, o movimento de guerrilha urbana célebre pela sua
luta contra a ditadura local e pelos roubos à mão armada a bancos e sequestros de
figurões nas ruas de Montevideu. “Ele passou 14 anos na cadeia, mais de 10 numa
solitária, frequentemente num buraco no chão. Neste período, o deixaram mais de
um ano sem tomar banho, e seus únicos companheiros, contou, eram uma perereca e
os ratos com os quais compartilhava migalhas de pão”, diz o perfil do New York
Times.
Quando a ditadura uruguaia acabou em meados da década de
1980, Mujica foi liberto e entrou para a política. Foi eleito deputado e
depois, já nos anos 2000, nomeado ministro da Pecuária, Agricultura e Pesca, e
sempre dividindo seu tempo com a agricultura, mais precisamente a criação de
crisântemos, no sítio Rincón del Cerro, onde vive com a mulher Lucía
Topolansky, ex-militante e atual senadora.
Em seu primeiro discurso como presidente eleito já deu sinais
de como seria o seu governo: “Companheiros, (que não haja) nem vencidos nem
vencedores. Nós apenas elegemos um governo, que não é dono da verdade. (...)
Companheiros, o mundo está ao contrário. Vocês deveriam estar aqui no palanque,
e nós aí, aplaudindo vocês”. Em poucas palavras, o presidente é um servidor
público como qualquer outro e exatamente por isso não precisa de regalias.
Mujica dispensou seguranças e carros oficiais, não usa
gravatas, só anda no seu fusquinha azul de estimação, recusou a mansão
presidencial de Suárez y Reyes, vendeu a casa de veraneio governamental em
Punta Del Este e doa 90% de seu salário para ONGs que trabalham com habitações
populares. Esse estilo franciscano ganhou fãs no mundo inteiro, principalmente no
Brasil em tempos de luta contra corrupção e privilégios escandalosos do
Congresso.
No Facebook, e em tom moralista, essas notícias são
comemoradas por pessoas de esquerda e direita. Só que Mujica não faz isso para
se exibir, é uma opção ideológica, e seu governo não deixa de surpreender. Seus
fãs conservadores, por exemplo, tomaram um
baque e tanto quando o Uruguai, de um ano para cá, descriminalizou o aborto,
legalizou o casamento igualitário, aprovou uma lei de regulamentação do setor
de comunicações (contra monopólios midiáticos) e está em vias de aprovar um revolucionário
projeto de lei que propõe que o Estado uruguaio regule a produção, a
distribuição e a venda de maconha no país (e por causa disso uma ONG holandesa
quer indica-lo ao Prêmio
Nobel da Paz).
O que uns e outros não param pra pensar é que tudo isso que
Mujica vem conseguindo fazer (muito corajosamente, aliás) só é possível em um
país pequeno e tranquilo como o Uruguai. Talvez esses fãs do uruguaio não o
tratassem tão bem se ele fosse presidente de seus países. Afinal, a grama do
vizinho é sempre mais verde.
p.s.: achei essa matéria em vídeo da bbc. tem também uma do fantástico, mas a bbc vem em primeiro lugar.
p.s.: achei essa matéria em vídeo da bbc. tem também uma do fantástico, mas a bbc vem em primeiro lugar.
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