LIVRE, LEVE E SOLTA
Uma das vozes mais interessantes da atual música popular
brasileira está com trabalho novo na praça. É o que Temos é o segundo disco de Bárbara Eugênia, cantora e
compositora nascida em Niterói, criada no Rio de Janeiro e radicada em São
Paulo. “Comecei a pensar nesse disco uns dois anos atrás, mais ou menos na
época que escutei Amador do
Adanowsky, que foi um disco que mudou minha vida. Ele fala de buscar uma coisa
maior, amor, coisas boas. É um disco totalmente hippie e vi que estava muito
descolada desse meu lado meu, e de uma coisa mais espiritualizada. Foi super
transformador pra mim. Aí fiquei pensando que queria um disco que fosse mais
pra esse lado, cheio de canções, e com mensagens positivas”, explicou. E assim
nasceram as 11 faixas do disco com sonoridades que variam da psicodelia ao iê
iê iê, do bolero ao folk, com destaque para os duetos-parcerias com Pélico
(“Roupa suja”) e Tatá Aeroplano (“Não tenho medo da chuva e não fico só”), a
regravação de um clássico de Diana (“Porque brigamos?”) e as divertidas “Ugabuga
feelings” e “You wish, you get it”. “Acho que no meu primeiro disco [Journal de Bad, 2010] tinha uma coisa
mais carregada nos rompimentos, no amor, em tudo, e nesse disco, mesmo quando
trata disso, tem mais piada, não se leva tão a sério”, confessa e ri, tímida,
provavelmente lembrando de coisas que só ela sabe (e agora canta).
"A mudança não foi pelas pessoas e sim pelas circunstâncias
da vida, porque quando fiz meu primeiro disco [Journal de Bad] tinha acabado de começar a
cantar. Estava fazendo shows pouco mais de um ano antes. Então não sabia nada
de nada e estava muito feliz de gravar um disco."
"Esse disco novo já estava meio pronto na minha cabeça.
Quando a gente começou a ensaiar e a tirar os arranjos eu já sabia o que
queria. Então coordenei.. meio que de certo produzi junto porque escolhi tudo o
que queria. Essa música eu quero assim, essa outra eu quero assim... nessa eu
quero o Guizado, nessa outra quero o Chankas, e foi assim... foi um disco que
dominei totalmente. É um disco muito mais meu, apesar de ter sido feito em
conjunto com a banda e deles serem muito meus amigos. Quer dizer, eles me
ajudaram a chegar aonde eu queria. Eu tenho ideias, mas não sei executar. Mal
toco violão. Então preciso muito deles pra chegar onde quero, pra fazer
acontecer. O primeiro eu não sabia o que queria, mas sei que gostei, que ficou
lindo, que amei. Mas tem essa diferença que é bem grande."
"Comecei a pensar nesse disco uns dois anos atrás. Mais ou
menos na época que escutei o segundo disco do Adanowsky [Amador, 2011], que foi um disco que mudou minha vida num grau muito
forte [ela acabou gravando “Sozinha”, uma versão dela mesmo de “Me siento solo”].
Ele fala de buscar uma coisa maior, de amor, da vida, de coisas boas, é um
disco totalmente hippie e eu vi que tava muito descolada desse lado meu, e da
canção, e de uma coisa mais espiritualizada. Foi super transformador pra mim.
Aí fiquei pensando que queria um disco que fosse mais pra esse lado, um disco
de canções, com mensagens positivas."
"“Coração” é uma música super otimista. A gente escolheu ela
pra começar porque sintetiza bem o disco. Não é mais lenta, nem a mais animada,
nem a mais alegre, nem a mais triste. É uma música que engloba tudo isso e tem
uma ‘buena onda’ ali. A Diana [“Porque brigamos?”] é aquela coisa... sou muito
fã da Diana e nos show costumava cantar “Meu lamento”, mas aí fiz “Porque
brigamos?” no [programa] Som Brasil e o Odair José estava lá, ele era um dos homenageados,
e ele disse que eu tinha que gravar essa música. Eu me identifico muito com
essa música, óbvio, porque já passei por situações assim e sinto as coisas
assim. Eu faria uma música nesse estilo. Acho que no meu primeiro disco tinha
uma coisa mais carregada nos rompimentos, no amor, em tudo, e nesse disco,
mesmo quando trata disso, tem mais piada, não se leva tão a sério."
"E tem o bolero, “O peso dos erros”, que é uma música muito
pessoal, mas não é sobre uma relação, nem sobre questões românticas, é uma
outra coisa. Essa é a música mais densa do disco, gosto muito da letra dela,
acho que é a minha favorita. E mesmo nela tem uma mensagem positiva. Quero que
a pessoa melhore. Acho que mesmo que fale de rompimentos no disco dessa vez é
com uma visão menos fatalista, menos pessimista das coisas."
"Fiz “You wish, you get it” nos 45 minutos do segundo tempo…
duas músicas não tinham dado certo, não queria fazer mais uma versão, e até
tinha umas músicas mais antigas, mas não queria... aí sentei em casa, comecei a
ouvir Devendra Banhart, fiz uma vodka com suco de laranja [risos], fiquei lá e
teve uma música que me inspirou... é isso! Comecei a escrever e fiz a música em
15 minutos. Cheguei com ela no último dia de gravação na Casa do Mancha. Fiquei
muito feliz de encerrar o disco com ela, que é um rock pra cima e com uma
mensagem otimista."
"Escrevi “Ugabuga feelings” em 2010 ou 2009 e ficou guardada,
não sabia muito o que fazer. Aí cheguei pro pessoal e falei que tinha um axé
[risos], vamos ver o que a gente faz com esse axé, porque ela é um axé, né?
Total. Se a Ivete Sangalo quiser gravar ficarei feliz. Seria lindo. Aí a gente
transformou em um rock, o Clayton usou Bo Diddley como referência pruma pegada
mais primitiva."
"Minha voz melhorou bastante. A prática, a tal da cancha,
mais soltura, segurança... tô experimentando mais. Antigamente não conseguia
abrir voz comigo mesmo. No primeiro disco não tem isso. Não é porque não
quisesse e sim porque não conseguia. Agora já consigo e fiz várias vezes no
disco. Tenho certeza que melhorei muito e que ainda vou melhorar muito mais.
Como compositora também [melhorei]... Journal de Bad foram dez anos de
histórias, tem música que escrevi com 18, 19 anos, então é muita história...
agora tá tudo mais fácil e ando muito inspirada. Desde o ano passado que tenho
escrito bastante. Já tô fazendo um disco novo, em parceria com o Chankas, e está
ficando foda. Enfim, tenho escrito muito e com a facilidade de pegar uma letra
que não tava terminada e terminar, pegar um pedaço de uma e juntar com outra...
estou brincando mais, experimentando..."
"Estou muito afim de fazer mais isso esse ano, trabalhar com
outras pessoas... o Tatá Aeroplano, por exemplo... a gente tem uma ligação
muito forte, a gente sempre fica muito feliz cantando juntos, e somos muito
parceiros, temos ideias parecidas, somos amigos há muito tempo."
p.s.: ano passado, bárbara registrou uma versão acústica "i wonder" em sua participação no projeto in.casa. no disco é o que temos, a música ganhou uma pegada country com o acompanhamento de mustache & os apaches.
p.s.: ano passado, bárbara registrou uma versão acústica "i wonder" em sua participação no projeto in.casa. no disco é o que temos, a música ganhou uma pegada country com o acompanhamento de mustache & os apaches.
Um comentário:
O disco é melhor que o primeiro, que já era bom...mas continua com os mesmos problemas de mixagem, achei a voz enterrada nos instrumentais. Será que era uma opção estética deixara voz tão baixa?
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