O PRECONCEITO IMPUNE DE CADA DIA
Desde que comecei a escrever aqui no Yahoo! – pouco mais de
dois anos atrás – sempre tentei acompanhar o máximo possível o que acontece na
caixa de comentários. É uma loucura, uma babel de opiniões, alguns elogios e
muitos xingamentos. Boa parte das pessoas que comentam nem se dá ao trabalhar
de ler o texto e já disparam a lançar pedras contra o colunista. Mas esse é o
jogo e, no fundo, gosto também de procurar entender como se manifestam certos
ódios. Por exemplo, em um dos textos recentes aqui do Mexidão (“Joelma
calada é uma poeta”), o que mais li foi gente reclamando que agora não se
podia falar mais nada sobre homossexuais que se corria o risco de ser preso.
Nada mais longe da verdade.
Antes de tudo, não é que agora não se pode falar mais de
homossexuais (e “falar” aqui é xingar). Nunca pode. Quem falava de “boiolas” e
“sapatas” (ou de negros e nordestinos) em tom violentamente pejorativo sempre
esteve errado. Não é assim que se trata pessoas, independente de quem sejam,
do que façam e de ontem tenham nascido. O que agora está acontecendo é uma
maior consciência de todas as partes envolvidas (menos dos preconceituosos,
claro) e uma luta por direitos para todos.
Mas voltando ao assunto de ser preso por preconceito. Ontem,
14 de abril, Antônio Donato Baudson Peret, 24 anos, foi preso na rodoviária de
Americana (SP). Ele é o tal skinhead mineiro que poucas semanas atrás postou no
Facebook uma foto no qual aparecia enforcando um morador de rua negro. A
Delegacia Especializada de Investigações de Crimes Cibernéticos (DEICC) de Belo
Horizonte em ação conjunta com a Guarda Municipal de Americana (GAMA) monitorou
os passou de Antônio Donato até encontrá-lo visitando uma namorada que conheceu
na internet e o prendeu ainda dentro do ônibus. Estavam cumprindo um mandato de
prisão por apologia ao crime, racismo, nazismo e formação de quadrilha. Com ele
foi encontrado um soco inglês, uma faca e um facão.
O sujeito cumprirá 30 dias de prisão preventiva enquanto as
investigações prosseguem, mas o que chama atenção é o histórico de crimes impunes de Antônio
Donato. Em janeiro de 2009 ele espancou um jovem homossexual de 19 anos. Em
setembro de 2011 foi a vez de um casal gay. Nenhum dos dois casos chegou à
Justiça. Em abril de 2011, um morador de rua menor de idade foi vítima de sua
brutalidade e o caso chegou a ter duas audiências, mas Antônio Donato não
apareceu. Na verdade, seu “grande erro” foi ter postado a foto no Facebook, o
que lhe garantiu visibilidade na rede e, finalmente, um rosto a ser procurado.
Se não fosse por isso ele ainda estaria por aí agredindo com a certeza da
impunidade como todos os inúmeros casos Brasil afora (afinal, em 2012, o Disque
100 registrou uma média de 8
casos de violência por dia contra a população LGBT; número que deve ser
muito maior)
Em um comentário que postou junto com a foto (ele tentou
apagar depois, mas a imagem jpa tinha se espalhado) criticou governo e
sociedade na seguinte forma: “Falsos democratas, sociedade libertina, policiais
corruptos, direitos humanos e por aí vai... O velho pão e circo para o povo
humanista”. É a mesma balela que se espalha como fogo de palha pelos
comentários de anônimos e nos discursos de oportunistas como Marco Feliciano,
Jair Bolsonaro e Silas Malafaia. Gente que se acha melhor que os outros, donos
da verdade, gente que não respeita a diferença, gente autoritária da pior
qualidade. Enquanto a homofobia não for considerada crime essa gente selvagem
estará solta por aí agredindo inocentes que só querem viver tranquilos. Deu pra
entender?
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