SEXO É ISSO, AQUILO E VICE-VERSA
Dia desses imaginei o seguinte cenário: se pelo menos um
terço (número totalmente hipotético) dos fiscais do gozo alheio curtissem os
próprios prazeres, que maravilha seria viver. Lola Benvenutti concorda
comigo. Ou eu concordo com ela, tanto faz. Só que Lola vai além, pois faz de
seu próprio corpo um campo de batalha, no qual sexo é orgulho e dinheiro não é
vergonha.
Nascida Gabriela Natália da Silva há 21 anos em Pirassununga,
Lola começou a fazer programas quando se mudou para São Carlos. Até o último
ano do curso de Letras na UFSCar manteve Gabriela e Lola em mundos distintos,
pois temia represálias e inquisições, mas em março do ano passado abriu seu blog para contar suas
experiências e os programas que faz pelo interior de São Paulo (o que faz
lembrar imediatamente de Bruna Surfistinha, só que Lola é mais bem humorada e escreve
melhor).
Sua história apareceu numa entrevista para o site São
Carlos em Rede, depois numa longa
matéria no G1 e mais recentemente no site da Folha
de S. Paulo. Felizmente todas as reportagens conseguiram dar conta da
postura orgulhosa e tranquila de Lola. O moralismo galopante só apareceu nos
comentários.
Fugindo de todos os clichês da profissão, Lola nasceu em uma
família feliz de classe média (pai militar da reserva, mãe enfermeira), não tem
histórico de abuso, não começou a fazer programas para pagar a faculdade, nada
disso. Lola faz programas porque gosta de sexo e dinheiro, simples assim. Ela
mesma falou assim para o São Carlos em Rede: “Acho curioso o fato de as pessoas
tentarem imaginar qual acontecimento familiar macabro me levou a este caminho.
Lamento desapontá-los, mas a verdade é que tive ótima educação. Fui criada no
sítio, com os melhores valores que alguém pode aprender. A questão é que eu amo
sexo! (...) Tornar-me acompanhante foi apenas uma maneira de unir dois gostos:
sexo e dinheiro”.
"Sou a Lola. Uma garota simpática, bela e que adora sexo! Intenso, forte, com desejo. É assim que tem que ser", diz na bio em seu blog
O raciocínio de Lola é tão cristalino que dá até um pouco de
vergonha dessa questão ainda ser considerado “polêmica” nos dias de hoje. Mas
ela, como já disse, vai além. “Meu modo de escrever é reflexo não apenas desse
desejo de conferir glamour a este magnífico universo, mas também uma forma de
valorizar meu intelecto. Sou garota de programa e sou inteligente, estudada,
culta. Reconheço meu poder e quero que os outros também reconheçam”, disse a
jovem que ostenta, igualmente orgulhosa, tatuagens com frases de Manuel
Bandeira e Guimarães Rosa e faz strip-tease ao som de Etta James.
Já no G1 ela colocou o dedo diretamente na ferida ao afirmar
que “as pessoas são hipócritas, vivem de sexo, veem vídeo pornográfico, mas não
falam porque têm vergonha. Um monte de mulher entra no blog e fala que adoraria
fazer o que eu faço, mas não tem coragem; e dos homens escuto as confissões
mais loucas e cada vez mais esse tabu do sexo é uma coisa besta”.
Poderia falar por horas que falar e fazer sexo sem tabu faz
um bem danado para a cabeça, mas preferi perguntar para Carol Patrocínio,
jornalista, colega de Yahoo! e
autora do blog Preliminares,
o que ela acha dessa história. Com vocês, Carol...
“Acho inspirador ver mulheres como a Lola assumindo seu
desejo sexual e sua busca por independência financeira da maneira que acreditam
ser a melhor para si. O corpo da mulher é da mulher, assim como suas decisões.
É importante que a mulher tenha essa liberdade, que possa dizer
com todas as letras que gosta de sexo e que o faz com quem quer, cobrando ou
não. Não dá mais pra gente ficar tentando regrar a vida alheia, muito menos em
uma questão tão íntima quanto o prazer. Ela tem prazer em vender sexo, qual o
problema nisso? O que isso muda na sua vida? Se a cada julgamento que fizermos
nos fizermos esse último questionamento veremos que dá para viver de maneira
muito mais leve.
O feminismo, pelo que eu entendo, luta por igualdade,
liberdade e respeito. Nada mais certo do que respeitar escolhas sem que a
“moral e os bons costumes” ganhem espaço no mundo libertário que tentamos criar
diariamente com nossos trabalhos de conscientização e informação. Ainda há um
ranço religioso e cultural muito forte entre as pessoas, o que contamina as
opiniões e faz com que o uso do corpo soe como algo imoral. O corpo é lindo, o
sexo é parte da vida e a maneira que cada um se relaciona com o seu prazer é
única. Não existe certo ou errado quando tudo que é feito é consensual. Lola
teve coragem de assumir o que muitas mulheres adorariam e não têm coragem.
Prostituição é, sim, uma escolha. E não há nada de vitimizador, vergonhoso ou
errado nisso”.
Lola e eu assinamos embaixo. E vice-versa.
Um comentário:
é mesmo boa escolha: ter vida profissional de apenas alguns anos (sem segurança, nem médica, nenhuma) - se der sorte, se arruma financeiramente antes de pegar doença grave, durante a "carreira"....
... uma escolha dessas explicita uma grande falta de planejamento, na vida
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