terça-feira, 28 de abril de 2009

da mata, de paraty

faz tempo que o especial multishow ao vivo - vanessa da mata foi gravado. foi numa quinta mezzo nublada no final de novembro do ano passado, em paraty (rj). clima ótimo na platéia, dividida entre locais, turistas gringos e hippies malucos. escrevi uma reportagem na monet de abril, que segue aí logo abaixo, e o especial finalmente estreará na próxima quinta, dia 30, no multishow, às 22h15 (e com desdobramentos em cd e dvd).

foi o primeiro show que vi de
vanessa da mata e mesmo tendo gostado muito do disco
sim (sonybmg, 2007), base de todo especial, não esperava que fosse ser tão bom. pegada, leveza, arranjos ótimos e a participação especialíssima da dupla jamaicana sly & robbie.


VANESSA DA MATA DE PARATY

Motores de popa sumindo no horizonte, cascos de cavalo trotando em calçadas centenárias e um tranquilo martelar em frente a Igreja de Santa Rita. Estes eram alguns dos sons ouvidos por quem chegava na histórica cidade de Paraty em uma quinta-feira aparentemente normal lá pelo final de novembro de 2008. Mas de normal aquela quinta não tinha nada: não é todo dia que é possível assistir e participar da gravação de um especial para TV, mais precisamente do
Multishow Ao Vivo – Vanessa da Mata. Ao longe, um carro de som chamava a população para o show de fim de tarde.

“Tenho uma história longa com Paraty. Conheço os bolos, os tiozinhos dos bolos, os cafés, as ruas todas, tenho realmente uma relação com a cidade. Foi perfeito. Tinha a ver com a minha carreira, céu aberto, barroco brasileiro de arquitetura, todo mundo na rua, meio interiorzinho, nada de 45 mil pessoas. Precisava de uma coisa mais poética mesmo, mais acolhedora”, explicou Vanessa em conversa por telefone tempos depois do show. E a cidade a acolheu com sua mistura de turistas estrangeiros, malucos vendedores de pulseirinhas e nativos de toda a sorte, além de um céu bonito, mesmo que parcialmente nublado. Gente que foi chegando de mansinho faltando mais de uma hora para o início do show.

Todo mundo já estava no palco ensaiando, desde a própria Vanessa até seus convidados jamaicanos (Sly & Robbie), quando a platéia começou a reagir calorosamente como se o espetáculo já tivesse começado. Vanessa sorria de vermelho com a certeza que assim o clima só poderia melhorar. “Você vê gente de todas as idades e estilos na minha platéia. Adoro isso. E isso sou eu, é o meu reflexo. Porque sou mestiça de italianos, negros e índios. Pelo lado do pai uma família mais abastada e super humilde pelo lado materno. Os dois lados musicais pra caramba. Tenho uma empatia com as pessoas e, de repente, não é à toa.” Atrás dela, no fundo do palco, uma cacofonia de espelhos, imagens e flores formavam o cenário enquanto o dia virava noite e todos corriam para que Vanessa, uma das cantoras e compositoras mais populares da recente safra musical brasileira, pudesse dar o pontapé inicial.

Quando foi anunciado o início da gravação, o público foi pego de jeito pelo carisma brejeiro de Vanessa da Mata. O repertório do show, que também sairá em CD e DVD, é quase todo baseado no disco
Sim (2007). Deste terceiro álbum da artista vieram novos hits para sua coleção, tais como “Boa Sorte/Good Luck”, “Amado”, “Pirraça” e “Ilegais”, que, juntos com “Ai Ai Ai”, “Não Me Deixe Só” e das suas bem sucedidas regravações de Caetano Veloso (“Eu Sou Neguinha”) e Chico Buarque (“História de uma Gata”), formaram um bloco coeso e cheio de apelos. Ninguém ali na praça escapou de cantar todas as músicas, até as menos conhecidas, em coro emocionado e feliz. “No início da minha vida musical as pessoas falavam que eu não ia fazer sucesso porque minha música era sofisticada demais para entrar no rádio. Gosto de repetir essa história porque as pessoas gostam de criar moldes e, ao mesmo tempo, acham que o público é burro. Nunca desejei cantar para uma elite, sempre quis cantar pra todo mundo, bicho. Agora, não sei como isso se tornou popular. Acredito que as pessoas sentiam falta de alguma coisa assim. Mas fico um pouco passada com a situação, não acredito muito.”

A noite veio comendo pelas beiradas históricas de Paraty enquanto as músicas iam sendo tocadas, ovacionadas e, raramente, refeitas. “Absurdo”, uma canção de levada ecológica, foi uma das poucas que teve que ser repetida porque Vanessa invariavelmente chorava. O público? Sempre com ela, sem nunca exagerar ou soterrar sua voz. Nada de gritos, isqueiros ou objetos voadores rumo ao palco. Apenas carrinhos com pé-de-moleque e cocada, balões rumo ao céu e crianças brincando de sombras com um dos holofotes. Muito colorido? E olha que no final do show, quando Vanessa cantou “Ai Ai Ai” pela segunda vez começou a chover exatamente na hora dos versos “o que a gente precisa é tomar um banho de chuva”. Delírio geral, bicho.

Pausa para a chuva diminuir. Enquanto isso, uma senhora cola no repórter e pergunta se o show acabou porque deseja entregar um livro religioso para a cantora. “Adoro o cabelo dela!”, revela. Mas aí o show volta com Vanessa cantando Cartola (“As Rosas Não Falam”) e logo depois a chuva retorna mais forte. Cai o pano. “Nasci numa cidade de 8 mil habitantes e ficava louca pra ir embora, queria fugir com o circo, com os ciganos, com qualquer coisa. Ficava imaginando pra onde aquelas pessoas estavam indo, como devia ser o lugar delas, tudo. Sempre tive muita sede pelo mundo.” Dá para arriscar que o mundo também tem sede por Vanessa da Mata.


AMIGOS DA JAMAICA

Tem dois sujeitos presentes no video acima que não fazem parte da banda de Vanessa. Na verdade, são convidados muito especiais do show. O baixista Robbie Shakespeare (de boné) e o baterista Sly Dunbar são lendas vivas (e muito ativas) do reggae jamaicano. Músicos e produtores, os dois formaram na década de 1970 a dupla Sly & Robbie que tocou ao lado de figuras como Peter Tosh, Gregory Isaacs, Horace Andy, Barrington Levy e a banda Black Uhuru, ao mesmo tempo que produziam discos de outros artistas e os próprios a partir do selo Taxi. O All Music Guide estimou que os dois participaram, de um jeito ou de outro, de cerca de 200 mil músicas (sim, esse é o número!). Destaque para os discos
Taxi Fare (1986), Two Rhythms Clash (1989) e Dubs for Tubs: Tribute to King Tubby (1990), todos da dupla. Uma boa dica para ouví-los é o blog You & Me on a Jamboree, especializado em reggae.

Vanessa da Mata e os produtores do disco
Sim, a dupla Kassin e Mario Caldato (também responsáveis por esse Multishow Ao Vivo), foram atrás da dupla lá em Kingston, Jamaica, em busca de uma sonoridade moderna e malemolente. Acharam muito mais que isso, obviamente, tanto que foram chamados para uma participação neste especial. Sly & Robbie colocaram seus instrumentos nas músicas “Vermelho”, “Pirraça”, “Absurdo”, “Ilegais” e “Boa Sorte/Good Luck”. Curiosidade: quando chegou em São Paulo, aos 16 anos, Vanessa fez parte de uma banda feminina de reggae chamada Shalla-Ball e 3 anos depois, em 1995, excursionou como backing vocal da Black Uhuru, a mesma que Sly & Robbie produziu na década anterior. As voltas que o mundo dá...

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