segunda-feira, 6 de abril de 2009

d'os gêmeos

escrevi um perfil sobre osgêmeos para a tam magazine de outubro 2006. a deixa era “o peixe que comia estrelas cadentes”, a primeira exposição individual dos irmãos-grafiteiros-artistas-plásticos no brasil e em são paulo, a cidade natal. fui na casa-ateliê deles, no cambuci, e fiquei lá por uma hora e meia. simpáticos e extremamente tímidos, otávio e gustavo pandolfo falaram até que bastante, mas acabei não perguntando sobre um assunto que sempre me intrigou: porque eles não possuem um site-blog-canal próprio na rede? porque nem algo simples como o do banksy? por outro lado, acho que essa "ausência" virtual se dá porque eles preferem estar na rua, o que não deixa de ser admirável. de qualquer forma, o site lost art, dos fotógrafos louise chin e ignácio aronovich serve como casa desses irmãos.

ah, agora no dia 24 de abril, no centro cultural banco do brasil lá no rio de janeiro, osgêmeos inauguram uma nova exposição, a primeira na cidade. pelo que deu pra entender é bem parecida com a de são paulo, mas agora traz o título de "vertigem". segue o texto.



 osgêmeos, ontem


osgêmeos, hoje

OSGÊMEOS: AMARELA SEMELHANÇA

Dia de feira, terça, em uma rua do Cambuci, zona centro-sul de São Paulo. Dentro de um sobrado com fachada colorida moram e trabalham os irmãos Gustavo e Otávio Pandolfo, mais conhecidos como Osgêmeos, alheios às ofertas de frutas e verduras. Grafiteiros conhecidos há tempos nas quebradas paulistanas, os irmãos vêm ganhando fama também como ilustradores e artistas plásticos desde que em 1999 começaram a expor na Europa e nos Estados Unidos. Mas Gustavo e Otávio, gêmeos idênticos, nunca deixaram São Paulo e nem o bairro onde nasceram, o Cambuci, e mesmo assim somente agora em 2006 tiveram a oportunidade de emplacar sua primeira exposição individual na cidade (“O peixe que comia estrelas cadentes”, na Galeria Fortes Vilaça).

“Acho que a demora foi pelo fato da cena de arte no Brasil ser um pouco diferente do que estamos acostumados lá fora. Em Nova York tem exposição em galeria com artistas de grafite desde o começo da década de 1980. Aqui é muito novo isso. Mas tudo é uma questão de tempo. A gente nunca foi com pastinha embaixo do braço em nenhuma galeria para mostrar nosso trabalho. E nunca foi nossa intenção também”, explicou Gustavo. Sem titubear, Otávio, um pouco menos falante e com voz ligeiramente mais grave, completou o raciocínio do irmão ao afirmar que “aconteceu no tempo certo porque a gente sempre trabalhou na rua e quem viu a exposição associou logo porque já viu nosso trabalho na rua. É legal esse tempo das coisas acontecerem”.

Enquanto falam, quase sempre um completando a fala do outro, os irmãos rabiscam sem parar, compulsivamente. “Grafite é uma coisa e nosso trabalho de galeria é outra”, levantou Gustavo para Otávio cortar: “são dois mundos diferentes: a rua e a galeria”. Lá fora os feirantes, que conhecem Osgêmeos há 32 anos, concordam em gênero, número e grau. “Grafite é rua, é atuar na rua, e é arte também”, segue raciocinando Gustavo, “já na galeria a única diferença é o tridimensional, é a instalação, a escultura”. Osgêmeos garantem que tanto faz ser uma parede no Cambuci, trens metropolitanos no Rio de Janeiro, um prédio na Holanda ou uma campanha publicitária mundial (como a da Nike que eles fizeram em 2005), não importa, eles se entregam de corpo, alma e sprays a tudo que lhes passa pela cabeça ou que lhes é encomendado.

Sempre foi assim, intenso e compulsivo, desde o início de suas atividades grafiteiras na década de 1980. “No começo a gente estava dentro da cultura hip hop e se espelhava no que vinha de fora do Brasil. Hoje não tem mais nada a ver com hip hop. As coisas mudaram. Fomos buscando outros caminhos, nossos, mais brasileiros”, relembra Gustavo, e tanto é verdade que ambos gostam de citar o Profeta Gentileza e Arthur Bispo do Rosário como artistas-referência, enquanto a paisagem sonora da exposição era permeada por cirandas e maracatus na Zona da Mata pernambucana.

Mas os as personagens de pele amarela, marca habitual dos irmãos e uma espécie de denominador comum do povo brasileiro segundo os mesmos, podem ajudar a melhorar as cidades? São Paulo, por exemplo? “Acho que podem sim, mas a cidade precisa ser organizada primeiro. São Paulo é a cidade mais desorganizada que conhecemos. É uma cidade que ao mesmo tempo tem lei, mas não tem lei”, diz Gustavo. Ambos concordam que além da arte é preciso uma mudança de comportamento: “é importante estar na rua e hoje em dia você não vê mais isso”. Moral da história: retomar a rua para colorir a cidade e vice-versa. E o futuro d’Osgêmeos? “Dentro da nossa cabeça tem algo muito maior do que uma exposição. A gente tem muitas vontades e quer fazer muita coisa”, agora é Otávio quem fala, “mas a gente não sabe o amanhã. Acho que a gente precisa desenhar mais, treinar novas idéias”. É, o futuro é uma parede por pintar.


segue abaixo um video sobre a exposição de 2006.

Um comentário:

Érico San Juan disse...

Esses caras são ótimos. E artista é tímido mesmo. Conheço pouquíssimos expansivos. Eu me esforço pra não ser tímido, porque sou caricaturista, e quem lida diretamente com o público tem que sair de si nem que seja por instantes.