segunda-feira, 10 de junho de 2024

muitas novidades no front

a querida revista Monet é certeza de pauta divertida, sem grilos. agora na edição de junho saiu texto meu costurando o ator Wagner Moura, o diretor Alex Garland e o bem sucedido filme Guerra Civil (tanto financeiramente quanto em termos de qualidade). saca só.

UM BRASILEIRO NA LINHA DE FRENTE

Wagner Moura é um dos protagonistas do thriller político Guerra Civil que estreia este mês na Claro TV+ após liderar as bilheterias nos EUA

Com pouco mais de uma década trabalhando em produções hollywoodianas, tanto no cinema quanto na TV, o ator Wagner Moura mantém os mesmos princípios de sua carreira no Brasil: não liga para números, não planeja estrategicamente próximos passos, não vive para as redes socias, não tem medo do risco, e trabalha com quem gosta, ou é amigo ou admira. Seu mais recente filme, Guerra Civil, tem um pouco de tudo isso, mas qual não foi a surpresa para todos os envolvidos quando o longa independente dirigido por Alex Garland se tornou o número 1 das bilheterias americanas por duas semanas seguidas.

Ao custo de US$ 50 milhões, Guerra Civil é (até agora) o filme mais caro produzido pela independente e cultuada A24 – a mesma de Hereditário, Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo e Vidas Passadas –, mas em pouco menos de um mês conseguiu arrecadar mais de US$ 100 milhões globalmente. O termômetro desse sucesso foi que parte do elenco seguiu sendo chamado para programas televisivos, matutinos e talk shows, após a estreia (o costume é um batidão intenso de divulgação na semana que antecede). Daí Wagner Moura aproveitou os bons ventos, deixou a timidez de lado e fez de um tudo, de mostrar no pé como se samba na Bahia até a se rasgar para Whoopi Goldberg enquanto fã (Whoopi é da bancada do programa The View).

“Estou muito orgulhoso deste filme. Eu sabia desde o início – acho que todos nós sabíamos – que não seria um trabalho comum. O que venho tentando fazer como ator é encontrar algo que seja oportuno, mas também interessante para as pessoas interagirem. Nunca gostei da ideia de que para fazer algo popular é preciso fazer algo bobo. Acho que Alex [Garland] acertou esse equilíbrio com Guerra Civil. Ele fez um filme que é politicamente relevante, que captura o espírito do tempo e também é interessante para quem quer apenas se divertir”, disse Moura em entrevista para Esquire.

O ator baiano é um dos quatro jornalistas – os outros são Kirsten Dunst, Cailee Spaeny e Stephen McKinley Henderson – que atravessam os Estados Unidos rumo a Washington em meio a uma literal guerra civil. O diretor e roteirista Alex Garland não explica e nem quer explicar como o país chegou a esse destino, quem são as forças oponentes, suas ideologias. Seu interesse parece estar em como um evento extremo assim afeta pessoas comuns (tanto os jornalistas quanto os retratados, civis ou militares).

“Pra mim o filme funciona também como uma reportagem que mostra uma série de eventos buscando tirar qualquer viés ideológico, objetivamente. Do jeito que um jornalista ‘das antigas’ faria. Mas pra ajudar nisso busquei nos personagens retratar diferentes fases da vida de um jornalista, desde o veterano, sábio e cansado [Henderson] até a intensa e frágil freelancer [Spaeny], passando pelos maduros e calejados [Dunst e Moura]”, afirmou Garland em entrevista para o programa de rádio/internet Q with Tom Power.

Fã de filmes politicamente combativos como A Batalha de Argel de Gillo Pontecorvo e Z de Costa-Gavras, Moura foi pelo mesmo caminho quando decidiu estrear como diretor em Marighella. Mas a abordagem neutra escolhida por Alex Garland acabou o interessando, pois acreditou que deixava espaço para outras reflexões. Os dois iriam trabalhar juntos na minissérie Devs, que Garland fez logo após Ex Machina e Aniquilação, mas a agenda do ator não permitiu. Ficou no ar um ‘até logo’.

Garland e Moura voltaram a se encontrar para a formação do elenco de Guerra Civil e o encontro deu tão certo que o ator está na cena preferida do diretor no filme: uma do personagem gritando de dor e frustração após a morte de um colega, com tanques e soldados passando logo atrás. Segundo afirmou ao canal CineFix, a cena não estava no roteiro e surgiu em meio à confusão de extras e maquinário militar. “Tinha alguma coisa ali. Aí falei pro Wagner, vai lá, vai lá e grita! Ele se preparou e gritou com força. Quando vi a câmera nele, os tanques passando, a poeira subindo, a dor no rosto dele. Quando vi tudo isso, pensei que não só aquela cena tinha que estar no filme como ela é uma espécie de resumo de tudo que aconteceu até ali”, relembrou Garland.

a produtora Emile Lesclaux, o diretor Kléber Mendonça Filho e o ator Wagner Moura

E AGORA, WAGNER?

Após toda a intensa tour de divulgação de Guerra Civil – que trouxe o ator de volta ao Brasil acompanhado da jovem colega Cailee Spaeny –, Moura já sabe o que fará em seguida. Nos Estados Unidos estará ao lado de Adria Arjona no romance dramático Say Her Name, dirigido pelo mexicano Geraldo Naranjo (Miss Bala). E de volta ao Brasil, onde não filma desde Praia do Futuro de Karim Ainouz, pouco mais de dez anos atrás, trabalhará pela primeira vez com Kléber Mendonça Filho em mais um thriller político, O Agente Secreto. Também no elenco, Maria Fernanda Cândido. 

Ainda não sabe se estará na segunda temporada da série Sr. e Sra. Smith, com Donald Glover e Maya Esrkine, pois seu personagem foi, aparentemente, assassinado. Mas sabe muito bem que já tem o projeto para o seu segundo filme como diretor. Baseado em livro de Stewart O’Nan, Last Night at the Lobster acompanha o gerente de um restaurante de shopping no último turno antes do estabelecimento fechar de vez. Segundo Moura é uma espécie de “filme de Natal anti-capitalista” que o colocará diante de dois desafios: dirigir a si próprio e dirigir em inglês. 

“Estou aqui porque Narcos mudou minha vida de maneiras muito diferentes. As pessoas sabiam quem eu era. Tornou-se um sucesso nos EUA, o Pablo Escobar triste virou meme. Abriu oportunidades de trabalho às quais eu não tinha prestado atenção antes. E agora eu moro aqui. Meus filhos moram aqui. O Brasil está em melhor situação e sempre nos perguntamos se deveríamos voltar. Mas as crianças não querem”, afirmou Moura na mesma entrevista para a Esquire.

Wagner dando uma checada na careca de Matt Damon em Elysium

INVASÃO COM ARROZ E FEIJÃO

Wagner Moura não é um novato nas bilheterias americanas. Seu primeiro filme hollywoodiano, a ficção científica Elysium de Neill Blomkamp, arrecadou U$29,8 milhões em seu final de semana de estreia em 2013. Mas era um papel pequeno e essa segunda parte da carreira do ator estava apenas começando. Quem o ajudou muito nesse início foi a colega e atriz Alice Braga, que também estava no elenco de Elysium (os dois contracenaram juntos em Cidade Baixa, em meados dos anos 2000).

Alice Braga, aliás, é a atriz brasileira mais presente em grandes bilheterias americanas nas últimas décadas. Tudo começou com Eu Sou a Lenda, depois Elysium, Esquadrão Suicida e Predadores. Antes dela, só mesmo Rodrigo Santoro que surgiu em um papel pequeno em As Panteras, e então cresceu (literalmente) em 300 e na sequência 300 – A Ascensão do Império, para então contracenar com Will Smith e Margot Robbie em Golpe Duplo.

Só com Braga e Santoro já são oito filmes, então Moura se reuniu definitivamente ao time com Guerra Civil, pouco depois de outra novata, Bruna Marquezine, chegar em ritmo de ação e super herói com Besouro Azul. A invasão brasileira a Hollywood está, definitivamente, ganhando corpo.